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A matemática do medo

"Dispa-se das convicções políticas e se coloque à disposição para criar soluções criativas para ajudar comerciantes, idosos e profissionais da saúde."

Quanto mais contas eu faço, mais preocupado eu fico.

Para explicar a origem do meu medo, vamos falar de outros assuntos, como violência, acidentes e doenças.

Limitando a pesquisa ao estado de São Paulo, segundo dados oficias sobre esses temas na Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo (SES/SP), constata-se que, no ano de 2018, morreram de H1N1, por mês no estado, 77 pessoas, em média. Já de dengue, foram 11 óbitos mensais.

Em 2019, os números mudaram bastante em alguns casos. O H1N1, por exemplo, matou 132 pessoas a menos no ano, talvez graças a vacina amplamente aplicada de forma gratuita no país, alcançando 66 mortes por mês.

A dengue, ao contrário da H1N1, teve um aumento exponencial, saltando de 11 casos mês em 2018 para 64 casos de morte em 2019. Vários fatores influenciaram para que isso acontecesse, como o clima e a ação tardia das autoridades, o que provocou um salto de 132 mortos em 2018 para assustadores 768 mortes no ano seguinte.

Já na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), os números da violência assustam mais.

Em 2018, em média, morreram vítimas de homicídio 246 pessoas por mês. De acidente de trânsito, 456 pessoas, e feminicídios somaram 134 o ano todo.

Em 2019, os números de homicídios e mortes no trânsito caíram respectivamente para 231 e 453 por mês. Já os casos de feminicídio nesse ano tiveram um salto, saindo dos 134 em 2018 para 154 de janeiro a dezembro de 2019 no estado.

No estado, na data em que publico esse texto, 30 de abril de 2020, há mais de 26.000 casos de Covid-19. A maioria desses casos teve uma boa recuperação da doença, sem contar outros milhares que nem de atendimento hospitalar precisaram.

Mas o número de internados e mortos preocupa. Somando as mortes mensais provocadas pelas doenças apontadas acima, violência e acidentes, e acrescentar a isso todas as mortes por feminicídio de 2018 e 2019, chega-se a um total de 1102 mortes.

Comparando esse patamar às mortes registradas pela pandemia do COVID-19, no período de 1 de abril a 30 de abril, o resultado impressiona: a pandemia matou 2247 pessoas, ou seja, 1145 pessoas a mais.

Mas não para por aí. Observando o crescimento das mortes a nível nacional e imaginando que elas podem dobrar em um período de 10 dias, peço que me corrijam se estiver errado quanto a análise dos dados OFICIAIS, mas observei o seguinte:

No dia 1/4 os casos de morte por Covid-19 era de 240 em todo o país. Considerando que isso dobraria em 10 dias, deveríamos ter 480 mortes em 10/04, correto? Errado, nesse dia já registrávamos 1.054 mortes. E assim seguiu nos períodos posteriores. No dia 20/04, o que era para ser 2.108, se transformou em 2.845 mortes. Para fechar a progressão, no dia 30/04 deveríamos ter, no máximo, 5690 mortes, mas chegamos a 5.901.

O que perturba é imaginar que se a regra matemática aplicada aqui estiver correta, chegaremos no dia 10/05 com cerca de 12.000 mortes no país.

Isso prejudicaria e muito a retomada da economia e reforçaria ainda mais a necessidade do isolamento social.

Para muito além das teorias, conspirações e ideologias, o que afeta diretamente a todos é o prejuízo humano e a dor de ver partir alguém próximo.

Para o olhar econômico frio, robótico e matemático, a morte de uma criança ou um adulto ativo significa perdas de mão de obra atual e futura. Já um idoso representa um peso a menos para as contas do país.

Em um olhar humano, apesar do peso do desemprego, fome, a oportunidade de se manter vivo está muito acima disso, e não adianta os gritos da “lacrosfera” ou do “gabinete do ódio”: ninguém no seu íntimo nem espiritual nem fisicamente, consegui lucrar ou render estando dentro de um caixão.

Por mais que você diga que isso tudo não passe de mentiras, a máscara você leva no rosto e de seus parentes mais velhos, você cuida para que não saiam às ruas!

Então seja empático. Dispa-se das convicções políticas e se coloque à disposição para criar soluções criativas para ajudar comerciantes, idosos e profissionais da saúde.

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