Foco das atenções dos torcedores da Ferroviária, a Série A1 do Campeonato Paulista de 2020 completou duas semanas de paralisação na última segunda-feira (30) por conta da pandemia do novo coronavírus, que ocasionou a suspensão de quase todos os eventos esportivos ao redor do mundo. Ainda sem uma perspectiva de retorno, a competição estadual gera grande dúvida na cabeça dos torcedores, que já preveem a possibilidade de ela não ser concluída pela falta de datas no calendário do futebol brasileiro desta temporada.
Vale destacar que o Paulistão foi interrompido após o encerramento de sua 10ª rodada, faltando duas rodadas para serem realizadas pela primeira fase, além de três fases de mata-mata (quartas de final, semifinal e final) e do Torneio do Interior.
Por isso, o Portal Morada ouviu diversos torcedores afeanos que têm presença constante na arquibancada da Fonte Luminosa para opinarem sobre o assunto. O resultado foi uma divisão de ideias e sugestões. Confira!
Título para o Santo André, sem rebaixamento e com acessos
O Paulistão foi encerrado com dois times dividindo a liderança geral: Santo André e Palmeiras, ambos com 19 pontos, porém com o time do ABC na vantagem por ter uma vitória a mais, o que faz dele o líder do estadual. Único time a atingir a marca de seis vitórias nos dez jogos realizados, o Ramalhão deveria ser declarado campeão na opinião do técnico Sérgio Soares, que foi demitido pela Ferroviária na semana passada e que possui uma história de sucesso no time do ABC. "Eu acho que o Campeonato Paulista não continua. Se for declarar um campeão tem que ser o Santo André, porque terminou em primeiro e merece por ter feito a melhor campanha", opinou o treinador, em entrevista concedida após sua saída. Para o técnico, no entanto, não deveria haver rebaixamento e sim subir dois times da Série A2 e estabecer o rebaixamento de quatro times no Paulistão de 2021.
Título para o Santo André, com rebaixamento e com acessos
Alguns torcedores afeanos concordam que o título poderia ir para o Santo André, porém acreditam que os dois times que ocupavam as duas últimas posições na tabela – Botafogo e Ponte Preta – deveriam cair e darem lugar aos dois primeiros colocados da Série A2, que seriam São Bernardo e Taubaté. Essa é a visão do autônomo Reginaldo Beto, de 42 anos. "Eu acho que deveria terminar com o Santo André campeão e Botafogo e Ponte rebaixados", resumiu.
A opinião é a mesma de Rodrigo Coutinho Sossolote, o Soró, colunista esportivo de 45 anos. "Acho que se o campeonato acabasse hoje, deveria ser considerado o que aconteceu neste ano. Deveria declarar o Santo André campeão, Botafogo e Ponte rebaixados. A gente fica chateado por tudo o que está acontecendo, a covid-19 não é uma doença própria nossa, é uma doença mundial, não foi causada por nós, mas a gente ora, torce e reza para que tudo se restabeleça. Esperamos que tudo volte ao normal e voltemos a ter o futebol que a gente tanto ama", justifica.
A ideia de comemorar o rebaixamento de um rival – no caso o Botafogo – agrada alguns torcedores mais fanáticos da Locomotiva, porém a situação muda um pouco de figura quando se aprofunda a reflexão. Douglas Campos, embalador de 27 anos e presidente da Torcida Organizada Afeganistão, brinca com possibilidade. "Poderia terminar o Paulistão, mas acho muito difícil isso acontecer. É complicado falar algo, mas seria bom o Botafogo cair", comenta, sorrindo. "Pela rivalidade entre as torcidas, é difícil falar, mas o Santo André estava fazendo uma boa campanha e estava merecendo o título. Pela rivalidade, gostaria que Botafogo caísse, mas o correto seria anular o campeonato e começar tudo de novo ano no que vem. Na minha opinião, até a Ferroviária estava correndo risco de cair, então seria bom anular mesmo e começar tudo de novo ano que vem", explicou.
Sem campeão, sem rebaixados, mas com acessos
Uma ala da torcida sugere que o Paulistão seja encerrado sem campeão e sem times rebaixados, porém com os dois times que lideravam a Série A2 – São Bernardo e Taubaté – com vagas garantidas na Série A1 de 2021.
Essa é a opinião do educador físico Bruno Neres, de 27 anos. "Não deveria ter nenhum campeão. Sem rebaixamento esse ano também. Aí subiriam os dois primeiros da Série A2 e no ano que vem aumentaria para quatro o número de rebaixados, subindo dois da Série A2. Ficaria difícil para a Ferroviária no ano que vem com quatro times caindo, mas acredito ser o mais justo. Também sou a favor de dividir a premiação entre todos os participantes", destacou.
Quem concorda com a análise é o auxiliar administrativo Diego Coxi, de 29 anos. "O Santo André campeão não é justo. Se o Paulistão terminar, na minha opinião não deve ser declarado ninguém campeão e nenhum time rebaixado. Não teríamos a fase final, que seria emocionante, então não teríamos um campeão declarado. Sobre o rebaixamento, eu subiria dois times da Série A2 e ano que vem cairiam quatro equipes da Série A1", salientou.
Sem campeão, sem rebaixados e sem acessos
"Acredito que nenhum time mereça ser declarado campeão, tampouco deva haver rebaixamento. Acredito que será como se o campeonato não tivesse existido", resumiu o cirurgião dentista Fernando Jóe, de 50 anos.
A opinião de que a competição deveria ser anulada é compartilhada pelo advogado Yuri Lopasso, de 26 anos. "Penso que ninguém deve ser declarado campeão, nem deve ocorrer rebaixamento de clubes. Se o natural do campeonato é uma duração 'x' com fase de grupos e mata-mata, não se pode declarar campeão ou perdedor aquele que não atingiu todas as etapas necessárias para tanto. A propósito, é comum no futebol a vitória nos últimos segundos da partida, a classificação ou a definição do campeonato na última rodada, etc. Daí por que não se mostra razoável decidir o torneio em favor do clube com melhor campanha ou em desfavor daqueles com piores campanhas", apontou.
Ricardo Gomes, engenheiro de 52 anos, também defende esse ponto de vista. "Eu gostaria de ver o Paulistão concluído seguindo o regulamento acordado inicialmente, mas caso não possa ser finalizado, não vejo como cumprir as regras de rebaixamento e declaração de campeão, tendo visto que as condições e fases acordadas não foram cumpridas. Triste, mas justo, ficando para o ano seguinte e cabendo aos clubes estabelecer os ajustes e critérios necessários para adequar o calendário de 2021", analisa.
Laert Braz Júnior, educador físico de 36 anos, também acredita que o Paulistão não retornará, até porque muitos clubes já deram férias aos jogadores até o final de abril, e também imagina um cenário sem campeão, sem rebaixados e sem acessos. "Eu concordo com a opinião de que não vai dar tempo, então não deve declarar ninguém campeão e ninguém rebaixado, mas não concordo em dar acesso aos clubes da Série A2. Isso porque é um campeonato em que vai todo mundo perder. Acho que quem mais vai perder dinheiro são os times grandes por conta do alto salário dos jogadores, e por causa das premiações, já que a normalidade seria eles irem para a semifinal, tirando o Corinthians, que não faz um bom campeonato. Pelos altos valores de premiação e pelos altos salários, quem mais gasta são eles e quem vai arrecadar menos também são eles. Os clubes pequenos dependem de algumas coisas também, mas esses não teriam quase nada de premiação. Então defendo a tese de que a Federação Paulista deveria dividir esse prêmio por igual para todo mundo. É uma pena para o Santo André, que estava bem no campeonato, porém é uma catástrofe no mundo e o Campeonato Paulista não estava decidido, já que ainda teria uma fase de mata-mata. Eu não faria rebaixamento, não faria acesso. Simplesmente apaga 2020 e em 2021 começaria da maneira que era para ser em 2020", explicou.
O futuro
Com tantos fatores em jogo, resta ao torcedor afeano apenas aguardar, pois o futuro do Paulistão 2020 só será definido após o fim do isolamento social, que não tem data para terminar. Com um calendário nacional que já começou a temporada apertado e com as federações estaduais precisando terminar seus campeonatos por conta de contratos de transmissão, é impossível de se prever o que pode acontecer. Assim como a vida das pessoas, o mundo do futebol também convive com a indefinição de seu futuro após a pandemia.