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Alex Sabino: O restaurador de sonhos

Técnico foi um dos pilares na construção do atletismo paralímpico de Araraquara

O técnico de atletismo Alex José Sabino possui uma difícil e valiosa missão no esporte: orientar atletas com deficiência na busca por seus sonhos. A missão vem sendo cumprida com sucesso, já que sua capacidade o levou a ser convidado a trabalhar com atletas de alto rendimento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Antes disso, o treinador conseguiu deixar seu nome marcado na história do paradesporto araraquarense.

Ele foi uma das peças-chave da criação da equipe de atletismo ACD (atletas com deficiência) da Fundesport em 2003 e foi o primeiro técnico do grupo que desde então passou a colecionar conquistas. Há três anos, Alex se despediu da equipe, cujo trabalho tem sequência atualmente com a professora Estela Zampieri Leandro.

Além de sua atuação no CPB, Alex comanda a equipe ACD da Intelli de Orlândia. Seu trabalho, no entanto, vai além da conquista de medalhas. Na maioria das vezes, o grande troféu está no simples fato de ver o esporte inspirar seus atletas a superarem os obstáculos surgidos ao longo de suas vidas. 

Em entrevista ao Portal Morada, o treinador falou sobre sua trajetória, emoções e conquistas. Confira!

O início

Filho de Elizabeth Therezinha Sabino e Mario Aparecido, Alex José Sabino nasceu no dia 16 de abril de 1983. Nasceu e cresceu em São Carlos, de onde guarda boas lembranças. "Minha infância foi maravilhosa, jogava bola na chuva, nadei em rios e cachoeiras com amigos, durmi muito na casa dos meus avós e aproveitei todas brincadeiras de infância, pipa, bolinha de gude, bets, entre outros", recorda.

O esporte entrou em sua vida por um projeto que existia nas EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) em São Carlos, que proporcionava atividades no horário inverso da escola, em um trabalho voltado a crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. "Nesse projeto, além de orientação ortodôntica e higiênica, era praticado todas modalidades esportivas na teoria e prática. Isso era um diferencial", destaca Alex.

Periodicamente eram realizados torneios esportivos em conjunto com as EMEI dos outros bairros, que reuniam entre oito e dez unidades. E foi nessas competições que o garoto começou a perceber que tinha potencial para o atletismo. "Infelizmente não existe mais um projeto municipal, mas me orgulho de ter participado", salienta.

Estudos

Em São Carlos, ele estudou nas escolas Conde do Pinhal, Attilia Prado Margarido, Bento da Silva Cesar e Sebastião de Oliveira Rocha. Posteriormente, cursou o ensino superior na Universidade Paulista (Unip) de Araraquara e fez pós-graduações na Unicep São Carlos e na USP de Ribeirão Preto. Depois disso, participou de diversos cursos de aprimoramento, capacitações e congressos por todo país.

Vida de atleta

O talento de Alex rapidamente foi descoberto e o garoto integrou as categorias de base do atletismo de São Carlos por cinco anos. Saiu da base e veio para a equipe de Araraquara, cidade que representou por mais de uma década.

Representou muito bem o nome da cidade e colecionou medalhas de Campeonato Paulista Juvenil, Campeonato Paulista Adulto, Jogos Regionais, Jogos Abertos do Interior, Torneio Regional, Troféu Brasil e Open Internacional de Atletismo. "Me orgulho de cada final disputada, pois ao longo da carreira de atleta, apenas duas vezes não fui para a final. Parece pouco, mas se tratando de alto rendimento, é muito expressivo", explica.

Origem da equipe ACD

Com o propósito de promover a inclusão social, os Jogos Regionais passaram, em 2003, a contar com as competições de ACD (atletas com deficiência). Araraquara não possuía uma equipe nessa época, por isso a Secretaria de Esportes entrou em contato com a UDEFA (União dos Deficientes de Araraquara), onde foi criada uma equipe para primeira participação na cidade. 

Não existia um responsável pela equipe e então o professor Elder Bueno pediu para Alex ajudá-los na locomoção, na pista, entre outras coisas. A estreia do ACD araraquarense foi uma surpresa positiva, já que a equipe terminou na segunda-colocação geral. 

Após a campanha nos Regionais, o atleta Juscelino Rodrigues de Freitas foi até a Pista Armando Garlippe (Avenida 36) com o intuito de começar a treinar para fazer bonito nos Jogos Abertos do interior. "Eu, na época viajando para as principais competições, fazia meu treino e seguia minha vida. Foi quando o mestre José Luiz Bonifácio falou para eu treiná-lo que daria certo. Daí para frente apareceram outros atletas e seguimos muitos anos juntos", conta Alex, que se tornou o primeiro técnico da equipe.

O treinador relata que esse trabalho traz aprendizados diários. "Sempre tive contato com pessoas com deficiência, porém quando surgiu a possibilidade de trabalhar com eles, eu era aluno da graduação e até hoje é um aprendizado constante", descreve o treinador. "O maior desafio e provar que atleta ou atleta com deficiência tem o mesmo peso", acrescenta.

Momentos de emoção

Desde então, não faltaram momentos de emoção na trajetória de Alex. O primeiro troféu de campeão dos Jogos Regionais gerou grande festa e motivou outras conquistas, como o primeiro troféu de campeão dos Jogos Abertos do Interior e as medalhas que seus atletas conquistaram nos campeonatos Brasileiro Escolar e Brasileiro Principal. Outras conquistas marcantes foram o título de campeão Parapanamericano e Mundial Paralímpico Juvenil do atleta Pablo Fabrício Furlan e a quebra de recorde brasileiro adulto de Matheus de Lima, com apenas 15 anos de idade.

Com os resultados de seus atletas e os cursos de capacitação que passou a integrar seu currículo, Alex começou a ser lembrado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que passou a convidá-lo para comandar a equipe em torneios pontuais. Em um deles, orientou a equipe em uma competição em Paris. 

Seu trabalho começou a gerar frutos, até que um dia ele foi convidado pelo coordenador técnico geral do CPB para assumir uma função permanente na entidade. "Diante de um convite desse, não há espaço para falar que a gente vai pensar no assunto", brinca ele, que teve entre seus comandados o atleta Thiago Paulino, medalhista e recordista parapanamericano e bicampeão mundial na classe F57.

Momento atual

Alex é casado e tem um filho. Atualmente, além do trabalho no CPB, ele atua como técnico de atletismo pela ADC Intelli, equipe da cidade de Orlândia, mas que treina na capital paulista, onde ele reside atualmente. 

Ele conta que foi difícil para sua família se despedir de Araraquara, cidade onde morou por duas décadas. "Mudei por uma questão de evolução, mas é um município que sempre volto para visitar porque fiz ótimas amizades, pessoas que são parte da minha família, meus padrinhos e afilhados. Na cidade brota gente boa, graças a Deus", analisa. 

Ele conta que a pandemia do novo coronavírus não alterou seus planos. "Durante a pandemia o foco não mudou, seguimos todos em casa, porém os treinos são ministrados através de planilhas e orientados por vídeo conferência", explica. 

Gratidão

O treinador se mostra grato por tudo o que o esporte proporcionou em sua vida. "O esporte e a educação abriram muitas portas pra minha evolução como pessoa e como profissional. São duas chaves para a vida de qualquer pessoa. O esporte significa muito e não tenho palavras para descrever o quão significa na minha vida", ressalta. 

Ele também faz questão de agradecer a todos os atletas e técnicos que passaram pelo seu caminho. "Tudo começou com o Juscelino, que plantou essa semente. Hoje temos vários nomes surgidos desse trabalho e isso me enche de orgulho. Sem os atletas nada seria possível. Na nossa região, temos marcas que poucas cidades têm, como título de Jogos Abertos, um alto número de títulos de Jogos Regionais, convocações e títulos de categorias de base, títulos de categorias principais. Mesmo trabalhando sem luxo e somente com o que a gente tinha, conseguimos alcançar o êxito dentro do nosso propósito", avalia.

Alex aproveita para deixar um recado às crianças que possuem algum tipo de deficiência e que não têm confiança para correr atrás de seus sonhos. "O que você quiser fazer você pode. Basta acreditar e trabalhar para isso. Procure um profissional da área que você deseja e trabalhe duro que, quando menos perceber, seu objetivo será outro bem maior", completa.

Assim, o próprio treinador vê seus sonhos como degraus que o levarão cada vez mais alto. "Sonho eu sonho sempre, então ao subir um degrau eu continuo trabalhando para conquistar o próximo", finaliza.
 

Confira abaixo algumas fotos de Alex Sabino.

 

 

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