No último sábado, dia 26 de agosto, Edinho Silva (PT), prefeito de Araraquara, participou do evento de prestação de contas do mandato do vereador Alcindo Sabino (PT). Durante sua fala, Edinho defendeu publicamente pela primeira vez o nome da secretária da Saúde de Araraquara, a enfermeira Eliana Honain, como candidata à sucessão municipal. “Pra mim tem uma liderança capaz de derrotar o fascismo em Araraquara. Uma única liderança, que é minha secretária da Saúde, Eliana Honain”, declarou Edinho, sob aplausos de militantes e representantes da base governista, como o vereador Aluízio Braz, o Boi (MDB).
A fala do Edinho está longe de ser um deslize. O movimento que poderá levar Eliana Honain a sua primeira disputa eleitoral começou ainda em 2020, quando o município de Araraquara tornou-se referência nas políticas de combate à pandemia e atendimento aos enfermos da covid-19. Naquela ocasião, a gestão da Saúde, sob responsabilidade da enfermeira de carreira, tornou-se uma marca da administração e da reeleição de Edinho Silva, que se elegeu para o quarto mandato à frente do Executivo municipal.
Com presença diária no noticiário, inúmeras entrevistas e lives com boletins da covid, a então secretária virou a face mais conhecido do governo. A ideia de fazê-la uma candidata à sucessão saiu da cabeça do prefeito e tornou-se um teste prático, ainda que discretamente. Nas aparições públicas, o prefeito esteve ao lado de Eliana Honain. Na carreata final da campanha e na votação no dia 15 de novembro, ela acompanhou o líder e deu a entender que havia dado “sim” ao projeto.
Solução interna
Outro fator que pesa a favor de Eliana Honain, que ainda não é filiada à nenhum partido político, é justamente unificar as disputas internas do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2022, uma tensão se estabeleceu entre a deputada estadual Márcia Lia (PT), parlamentar em terceiro mandato na ALESP, e Thainara Faria (PT), a jovem vereadora endossada por Edinho para também disputar uma cadeira na assembleia paulista. A disputa afastou Márcia Lia do grupo mais próximo do prefeito, enquanto Thainara foi o nome defendido pela ala que integra o governo.
Após o resultado das eleições, Márcia Lia (PT) deu declarações para mostrar que sua terceira vitória ocorrera sem o apoio de Edinho Silva, como havia sido em 2014 e 2018. Ao Jornal da Morada, Márcia Lia declarou que pleitearia uma nova candidatura à prefeitura de Araraquara – o que soou como um enfrentamento ao grupo liderado pelo atual prefeito.
Por outro lado, a vitória de Thainara Faria fortaleceu Edinho Silva e o projeto de formar novas lideranças. Com mais de 90 mil votos em todo o estado, Thainara também cacifou seu nome como uma expressão política de Araraquara, ainda que não tenha sinalizado interesse, por enquanto, de disputar o Executivo.
Com isso, a candidatura de Eliana Honain pode também costurar as divergências em torno de um nome que, mesmo identificada com o grupo de Edinho Silva, serve para frear as disputas internas.
Frente ampla
O consenso pode também unir antigos adversários. O MDB, presidido pelo vereador Boi, está na base do governo Edinho na Câmara e, segundo declarações recentes de lideranças, pode embarcar na coalisão liderada pela secretária da Saúde. O PSDB, que tem a ex-vereadora Edna Martins como atual presidente, passa por um processo de reformulação. Nesse contexto, uma candidatura própria ao Executivo é um projeto menos provável. Após convenção realizada no último domingo, Roberto Massafera, ex-deputado estadual e um dos líderes dos tucanos em Araraquara, fez uma declaração dúbia, que pode tanto indicar apoio a uma nova candidatura Edna, que já disputou o cargo em 2008 e 2016, quanto adesão ao projeto Honain: “Podem contar comigo, inclusive para eleger a prefeita de Araraquara, estamos preparados”, declarou.
Protagonismo feminino
Por fim, a ideia de ter a prefeitura de Araraquara chefiada por uma mulher é um projeto de longa data de Edinho Silva. Em 2008, após concluir seus dois primeiros mandatos, o PT lançou Edna Martins à sucessão municipal. Derrotada por Marcelo Barbieri, Edna deixou a legenda logo depois a disputa e trilhou outros caminhos partidários.
Na eleição seguinte, em 2012, outra mulher liderou o projeto petista na cidade. Dessa vez, Márcia Lia, que então ocupava o cargo de vereadora, representou a legenda. A petista não fez feio e obteve mais de 41 mil votos – a maior votação da legenda na cidade depois de Edinho Silva. Os votos, no entanto, foram insuficientes para derrotar o então prefeito Barbieri, reeleito para mais quatro anos.
Eleito para o terceiro mandato, em 2016, Edinho montou um secretariado com maioria feminina. Entre os quadros da gestão pública, desde a posse em 2017, está Eliana Honain, com mais de 30 anos como profissional de carreira do serviço público de Araraquara. Caso confirme a intenção, como tudo indica que fará, a enfermeira concorrerá à prefeitura de Araraquara em 2024, ainda sem legenda definida, defendendo a ideia de ser a primeira mulher na cadeira mais importante do sexto andar da prefeitura.
