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Pio: Um campeão dentro e fora de campo

Araraquarense é dono de uma trajetória vitoriosa no esporte e na vida

Quando se fala em esportistas araraquarenses de sucesso, um dos primeiros nomes que vêm às nossas cabeças é o de Osmar Alberto Volpe, o Pio, ex-jogador de 75 anos de idade que construiu uma história de brilho ofuscante dentro e fora dos campos de futebol. Revelado pela Ferroviária, foi um dos pilares do time que sagrou-se três vezes campeão do Interior. 

Sua qualidade o levou ao Palmeiras, onde foi um dos responsáveis pelas conquistas de três títulos brasileiros, façanha que o coloca entre os grandes nomes da história alviverde, sendo convidado de honra em todos os eventos comemorativos do clube. Após encerrar a carreira, comandou projetos esportivos que revelou muitos talentos e concluiu sua trajetória esportiva como destaque da passagem da Tocha Olímpica por Araraquara.

Hoje aposentado, Pio conversou com a reportagem do Portal Morada e falou sobre sua trajetória e emoções. Para compor o texto, também recorremos ao livro 'O Ladrão da Fonte – A Biografia de Pio', escrito por Augusto Cesar da Silva e Elder Cristiano Revoredo. Confira!

Origem e apelido

Osmar Alberto Volpe nasceu no dia 15 de novembro de 1944, dentro de sua própria casa, na Avenida São Geraldo, entre as Ruas Padre Duarte e São Bento. Filho de Miguel Volpe Neto e Judite Martins Volpe, é o caçula de sete irmãos: Orival, Otacílio, Otávio, Zélia, Zilda e Zulma. 

Logo que começou a falar, Osmar ganhou um apelido: Como ficava muito vermelho, seu pai e irmãos o chamavam de Peru. O menino ainda não sabia pronuciar a palavra e dizia 'Piú'. Posteriormente, quando se tornou jogador, o apelido mudou para Pio, para facilitar a pronúncia no rádio.

Futebol no sangue

Pela proximidade com o Parque Infantil, foi lá onde aprendeu a jogar futebol. E o futebol já estava no sangue do menino. Seu pai, de família italiana, sempre foi um fanático torcedor do Palmeiras e disputava campeonatos amadores. Os irmãos, também amantes do futebol, foram seus primeiros parceiros e seus maiores incentivadores. Mesmo com um talento visível de Pio para o esporte, os pais viam um caminho difícil nessa carreira, por isso sempre pediam para que ele não parasse de estudar. Assim, o garoto passou pelo Parque Infantil Leonor Mendes de Barros, EEBA e Colégio São Bento.

Entre os 12 e 13 anos, Osmar passou a conciliar os estudos com o trabalho de balconista que tinha no armazém da Fábrica Lupo, na Rua Gonçalves Dias, onde também trabalhou de entregador de encomendas para funcionários que moravam perto da fábrica. Um ano depois, trabalhou na Relojoaria Blundi, ma Rua Nove de Julho. Por volta das 16 horas, Pio terminava seus afazeres e ia de bicicleta até o campo do Corintinha, onde jogava futebol até anoitecer. Ele também trabalhou como atendente na União Operária, onde seu pai era diretor. Lá ele continuava saindo às 16 horas, porém começou a jogar futebol no campo do Santana, sempre sem deixar os estudos de lado.

Talento descoberto

Foi no time do Santana que o talento de Pio começou a ser descoberto e foi chamado para participar de uma seleção municipal. Chamou a atenção de Antonio Henrique Pirola, que era olheiro e treinador das categorias de base da Ferroviária. Assim, passou pelas categorias juvenil e aspirante da Locomotiva. 

Ainda adolescente, passou a marcar presença em todos os treinos do time profissional, mesmo sem ser convidado. Sua 'ousadia' era tanta que se sentava no banco de reservas para observar as atividades. Assim, Djalma Bonini, o Picolin, um dos maiores olheiros da história da AFE, começou a chamá-lo para completar os times nos treinos quando algum atleta se cansava ou se machucava. "Tive inúmeros momentos inesquevíveis na carreira, mas sem dúvidas o meu início na Ferroviária foi o mais marcante", avalia Pio.

Passagem pelo Exército 

Quando começou a treinar com maior frequência no time principal, Pio foi convidado para integrar o elenco em uma excursão pelas Américas em 1963, porém uma convocação irrecusavel adiou seu objetivo quando estava de malas prontas. Com 18 anos, ele teve sua convocação obrigatória para servir o Exército Brasileiro em Brasília. Mesmo com uma tentativa frustrada da AFE de impedir, Pio e mais quatro jogadores tiveram de cumprir a determinação. O Exército não o afastou do futebol, já que a rivalidade entre as companhias no esporte era grande e Pio foi a primeira escolha de seu comandante, o que foi visto com muito orgulho pelo jovem. No Exército, Pio fez amizades que duram até hoje, inclusive com encontros anuais entre os veteranos.

Próximo do fim do período obrigatório, o araraquarense recebeu o convite para seguir carreira no Exército, mas não aceitou. Ainda tinha contrato com a Ferroviária e recebia meio salário do time, por isso decidiu arriscar e seguir em busca de seu sonho. Do Exército, levou apenas as amizades e os valores como disciplina e responsabilidade com os horários e com as pessoas. 

De volta à Ferroviária

Em janeiro de 1964, Pio foi integrado ao elenco profissional da Ferroviária. No começo, não era utilizado nos jogos e passou a compor o time de aspirantes, que fazia jogos preliminares e que era composto, em sua maioria, por atletas mais jovens. E mesmo entre os aspirantes, começou a chamar a atenção em jogos contra grandes clubes. Uma atuação brilhante contra o Palmeiras – com  dois gols, sendo um de falta – ativou o interesse do próprio Palmeiras e do São Paulo, porém seu contrato com a Locomotiva era recente e a negociação não se desenvolveu.

Assim, Pio passou a ser relacionado com maior frequência para os jogos do time principal. Sua estreia foi justamente contra o Santos de Pelé no dia 30 de agosto de 1964 na Vila Belmiro. Ele fez um gol, mas não evitou a derrota afeana. Por isso, o gol que ele lembra com mais carinho foi marcado na rodada seguinte, onde a Locomotiva superou o Guarani por 2 a 1 de virada em seu primeiro jogo diante da torcida na Fonte Luminosa. Ainda assim, Pio seguiu sem ter muitas chances no time profissional, que amargou campanhas ruins em 1964 e 1965, inclusive com um rebaixamento.

Tricampeão do Interior

Em 1966, com o clube apostanto em talentos da casa após temporadas decepcionantes, Pio enfim passou a ser titular com regularidade e não desperdiçou a chance. Assim, foi um dos destaques do time que conquistou o título e o acesso de volta à elite estadual. No ano seguinte, Pio sofreu com diversas lesões, mas sagrou-se campeão do Interior e viu o ano ficar ainda melhor quando iniciou seu namoro com Ana Lúcia, com quem é casado até hoje. Em 1968, mais um ano glorioso para Pio e a Ferroviária, que voltou a ser campeã do Interior. No mesmo ano, a Locomotiva fez um amistoso contra o Napoli da Itália na Fonte Luminosa e o time araraquarense levou a melhor por 4 a 0, feito que elevou a moral da Ferroviária em todo o país. Na sequência, veio outra excursão internacional pela América Central e Anérica do Sul, onde o time voltou a fazer bonito. 

Em 1969, Pio mais uma vez foi um dos destaques do time que voltou a levantar a taça do Interior, façanha que resultou nas três estrelas que hoje são colocadas em cima do escudo do time. Para Pio, um dos momentos mais emocionantes de sua vida aconteceu no mesmo ano, porém fora de campo, já que se casou com Ana Lúcia no dia 12 de julho na Igreja de São Geraldo. A alegria ficou ainda mais completa quando soube que sua esposa esperava um bebê.

O ano ainda reservava mais surpresas, já que seu talento começou a atrair a atenção de grandes clubes que desejavam contar com seu futebol, casos de Palmeiras, São Paulo e Flamengo. E seu caminho o levou ao alviverde, time de coração de sua família.

Palmeiras em sua vida

Pio chegou ao Verdão em meio à disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, competição equivalente ao Brasileirão na época, porém o time não vinha bem, apesar de contar com talentos como Ademir da Guia, Dudu, Luís Pereira, Edu, César Maluco e Leão. O empréstimo seria de três meses, tempo que o araraquarense teria para mostrar serviço. Conquistou a confiança do técnico Rubens Minelli e estreiou no segundo tempo da vitória sobre o Atlético-MG por 1 a 0 no Mineirão. Uma semana depois, ganhou sua primeira chance entre os titulares na vitória por 3 a 1 sobre o Coritiba. A partir daí, Pio teve vaga garantida no time titular em todos os jogos restantes do campeonato, que terminou com o título do Verdão. Era o primeiro título nacional do araraquarense.

Assim, em três meses, Pio foi determinante para a melhora do Palmeiras, que antes de sua chegada não conseguia convencer. Para completar, o Palmeiras negociou sua permanência com a Ferroviária, ao mesmo tempo em que nascia seu primeiro filho, Alexandre. Assim, o ano de 1969 terminou de forma iluminada para o jogador. 

No Palmeiras, construiu um nome de respeito, paralelamente ao nascimento de suas filhas Luciana em 1971 e Liliana em 1973. Com a camisa do Verdão, conquistou ainda mais dois títulos nacionais em 1972 e 1973, além do Paulistão de 1972. Pelo alviverde, fez 188 jogos (101 vitórias, 58 empates e 29 derrotas) e anotou 29 gols, números que estão no 'Almanaque do Palmeiras', de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti. 

Outros clubes

Após sofrer uma lesão grave, perdeu espaço no Palmeiras, chegou a ser emprestado por alguns meses ao Comercial de Ribeirão Preto e se transferiu para o Santa Cruz em 1974. Pio defendeu o time de Recife-PE até 1978 e lá conquistou o Campeonato Pernambucano de 1976. 

Passou ainda pelo Colorado do Paraná (1977 e 1978). Em 1979 decidiu retornar a Araraquara, porém os dirigentes afeanos da época não aprovaram seu retorno, decisão que foi justificada pela idade avançada do atleta. Assim, atuou pelo Grêmio Sãocarlense (1979 e 1980) e aproveitou a curta distância para concluir o curso de Educação Física. Ainda passou pelo Novorizontino (1981), onde encerrou sua carreira aos 37 anos de idade.

Contra Pelé

Tanto com a camisa da Ferroviária quanto com a do Palmeiras, Pio enfrentou várias vezes o Santos de Pelé, a quem considera o melhor jogador que enfrentou. "Pelé é indiscutível, pois antes da bola chegar ele já sabia o que fazer", resume Pio. 

Além de sua qualidade nos passes e nas bolas paradas, Pio era um marcador implacável. E foi isso que o fez ser lembrado pelo Rei. Após pendurar as chuteiras, Pio foi convidado a participar de uma homenagem a Pelé. Ele conta que ao chegarem no local, os convidados ficaram um ao lado do outro e ele ficou ao lado de Dudu e Ademir da Guia, enquanto Pelé ia cumprimentando um a um, até que chegou em Pio.

"Ele ficou olhando para mim, me abraçou, mas eu senti que ele não me reconheceu. Ele já ia seguir comprimentando os demais, quando eu dei um toque em seu braço e disse: Pio! Ele voltou, abraçou-me novamente e disse: Pio, que satisfação! Mas você era chato demais, não largava do meu pé! Ele sorriu e seguiu abraçando os demais. Ser lembrado pelo Rei do Futebol foi marcante. E tenho sua camisa 10 até hoje", relata o araraquarense.

Professor Pio

Após encerrar a carreira, Pio ficou pouco tempo desempregado, já que no mesmo ano de 1981 foi convidado para dar aula de Educação Física na Unesp de Jaboticabal. Adaptou sua rotina de viagens para não precisar morar em Jaboticabal, pois não queria deixar Araraquara. Paralelamente à carreira docente, Pio foi convidado para ser técnico da Matonense em 1983, porém ficou apenas alguns meses no cargo, pois sabia que a função exigiria dedicação total. No mesmo ano, passou em um concurso público e se tornou diretor de Esportes de Américo Brasiliense, função que conciliou com a de professor. Em 1985, com a aposentadoria de um amigo, Pio foi convidado para lecionar na Unesp de Araraquara, convite que foi prontamente aceito.

Em Américo, criou planejamentos de sucesso como a criação de escolinhas de esportes. Decidiu deixar o cargo até 1999 e, por toda sua contribuição, foi homenageado pela prefeitura local. Em 2003, com a criação da Ferroviária S/A, Pio participou da fundação e foi convidado para compor a diretoria. Quando o time deixou a quarta divisão estadual e chegou à segunda, Pio se desligou do clube. Atuou ainda como treinador de times universitários de futebol e na Secretaria de Esportes de Araraquara.

Tocha Olímpica

Em 2016, em função das Olimpíadas do Rio de Janeiro, Araraquara foi uma das cidades brasileiras escolhidas para receber a passagem da Tocha Olímpica e Pio recebeu um convite que coroou sua trajetória. Por tudo o que conquistou no esporte, ele foi convidado a encerrar o revezamento da Tocha em um grande evento que reúniu o público no Estádio da Fonte Luminosa.

"A Tocha Olímpica foi um momento feliz e inesquecível em minha vida. Representou, para mim, a despedida triunfante em todos os esportes que participei, sendo no juvenil, no amador, no profissional, nas 'peladas', nos clubes, enfim, em todos os lugares aonde a 'pelota' e os amigos estavam", conta o campeão.

Tema de livro

Também em 2016, a trajetória de Pio inspirou a criação do livro 'O Ladrão da Fonte – A Biografia de Pio', escrito pelos jornalistas Augusto Cesar da Silva e Elder Cristiano Revoredo para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da Universidade de Araraquara (Uniara).

A obra, que traz todos os detalhes da vida do campeão, foi muito bem avaliada, tanto pelos professores avaliadores, como pelo homenageado.

Momento atual

Aposentado definitivamente desde 2015, Pio aproveita atualmente a vida ao lado da família e se diverte com os netos Marcelo, Júlia e Laura. "Hoje sou aposentado da Unesp Araraquara e da Prefeitura de Américo Brasiliense, minha esposa também aposentada do Sesi e Prefeitura de Araraquara. Estamos vivendo para os filhos e netos, que graças a Deus estão muito bem em todos os aspectos", comemora Pio.

Pio e sua esposa Ana Lúcia tentam aproveitar a vida da melhor maneira em tempos de isolamento social  por conta da pandemia do novo coronavírus. "Nosso trabalho é dentro de casa e rezando para esta 'peste de vírus' passar logo, pois está prejudicando muita gente. Completei 75 anos e ela 70, então sabemos que somos do grupo de risco e estamos nos cuidando", assegura o ex-jogador.

O craque analisa o momento pelo qual passa o mundo. "Esse período é um momento péssimo para todos nós, nos deixando impotentes em querer enfrentá-lo. O isolamento nos fez aproximarmos mais dos nossos queridos filhos, netos e nos distanciando dos amigos do dia a dia, mas não os esquecendo, Ainda bem que temos nossos telefones. O momento, podemos definir como tristérrimo,  pois nos tornamos muito pequenos tal gravidade. Só ficamos atentos às informações, prevenções e orientações, e sempre verificando a possibilidade de ajudar alguém", finaliza Pio.

Assim, com responsabilidade e gratidão, Pio mostra que a determinação, o trabalho e a família são as maiores bases para uma trajetória vitoriosa.

Confira abaixo fotos da vida e carreira de Osmar Alberto Volpe, o Pio.

 

 

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