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Livro da EdUFSCar aborda a prática cultural da pixação

Obra  trata de uma pesquisa feita pelo autor sobre a pixação, no início dos anos 2000

A Editora da Universidade Federal de São Carlos (EdUFSCar) lançou o livro "Um rolê pela cidade de riscos: leituras de piXação em São Paulo" (assim mesmo, com X), de autoria de Alexandre Barbosa Pereira, e que integra a Coleção Marginália de Estudos Urbanos e conta com o apoio do Centro de Estudos da Metrópole (CEM).

O livro trata de uma pesquisa feita pelo autor sobre a pixação, no início dos anos 2000 e defendida como mestrado em 2003, mas que continuou acompanhando os desdobramentos da prática até meados dessa segunda década do século XXI. Na obra, a pixação é abordada como uma prática cultural juvenil protagonizada por jovens, ou por indivíduos já não tão mais jovens assim, que são fundamentalmente rapazes pobres, moradores de bairros periféricos da cidade de São Paulo. Esses autodenominados pixadores resolvem cruzar as fronteiras de seus bairros para regiões mais centrais da cidade, a fim de deixar evidente na paisagem urbana a sua marca, o pseudônimo que criou em letras estilizadas. Além disso, eles estabelecem, desde os anos 90, pontos de encontro onde pixadores de todas as localidades da Região Metropolitana de São Paulo se encontram, uma vez por semana, para trocar experiências e combinar os rolês, modo como denominam as saídas para pixar a paisagem urbana. O livro acompanha essas movimentações e traz também mudanças na configuração dessa prática cultural juvenil, quando alguns de seus autores começaram a produzir certas ações espetaculares e provocadoras em espaços oficiais do campo das artes, como as bienais de arte de São Paulo e Berlim.

Pereira diferencia pixação de pichação. "Pixação é o conjunto de marcas feitas pelos jovens protagonistas dessa prática cultural que eu pesquisei. Elas consistem em pseudônimos escritos em letras estilizadas, que geralmente dão o nome a um grupo de jovens de um mesmo bairro, como Arteiros ou Pirados, por exemplo. Acontece que justamente por conta da estilização das letras, quem não pertence à pixação dificilmente consegue entender o que dizem tais inscrições. Nesse sentido, embora comunique com toda a cidade, essas intervenções são voltadas muito mais para dentro – para quem pertence ao mundo da pixação. Por outro lado, a pichação seria composta por palavras ou frases escritas sem essa estilização e de fácil entendimento pelos outros citadinos, como protestos políticos ou poemas. Além disso, essa última não se submete às regras do mundo da pixação, como a de deixar a mesma marca no maior número possível de lugares e nos mais arriscados possíveis, a fim de alcançar visibilidade e reconhecimento entre os pares", detalha o autor.

Dentre as principais conclusões da pesquisa que resultou no livro está a constatação de que a pixação é uma prática cultural juvenil de constituição de relações sociais na cidade de São Paulo, cuja dinâmica do reconhecimento social é fundamental. Mesmo sendo uma prática marginalizada, criminalizada e mal vista pela maioria da população, pode produzir alguma inclusão social. "A primeira dimensão desse reconhecimento social se dá na relação entre os pares, entre eles mesmos. Na pixação, o menino que se destaca, que pixa no maior número de lugares, nos de maior risco e visibilidade, consegue mais status dentro do grupo. Assim, quando ele for a um dos 'points' de pixadores, será venerado pelos colegas e até dará autógrafos. Eles desenvolvem, aliás, uma dinâmica muito curiosa em relação aos autógrafos, pois, nesses pontos de encontro, estabelecem uma troca de folhinhas, que seriam troca de folhas de papel em que mais de um pixador autografa com a sua marca. As folhinhas dos pixadores mais antigos e de maior destaque são bastante valorizadas e disputadas, podendo ser até vendidas. Assim, um jovem pobre da periferia de São Paulo consegue, em um circuito específico, o da pixação, alcançar um destaque e um reconhecimento que não alcançaria em nenhum outro espaço", descreve Pereira.

Mais informações sobre o livro podem ser obtidas no site da EdUFSCar (https://bit.ly/2UbcFBC).

 

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