InícioEsporteEm 1932, futebol paulista parou para mudar a história do Brasil

Em 1932, futebol paulista parou para mudar a história do Brasil

Revolução Constitucionalista de 1932 paralisou o Campeonato Paulista e teve Friedenreich no campo de batalha

Sinônimo de progresso e democracia, o Estado de São Paulo foi peça fundamental na história do Brasil na década de 1930. Após assumir o poder à força, Getúlio Vargas pôs fim à República Velha e instaurou o Governo Provisório. A falta de uma constituição – a de 1891 havia sido revogada–, porém, fez com que São Paulo levantasse um movimento legalista em 1932, levando a um conflito que paralisou o Campeonato Paulista, colocou o craque Friedenreich no campo de batalha e fez até aparecer um troféu sumido em 1911. O ano histórico terminou com o Palestra Itália igualmente fazendo história.

Contando com 12 participantes, o Campeonato Paulista de 1932 começou no dia 1º de maio com todos em campo. Campeão do ano anterior, o São Paulo venceu a Portuguesa por 4 a 2, enquanto o Palestra Itália, vice de 1931, fez 4 a 0 no Sírio e o Corinthians foi derrotado pelo Juventus por 5 a 4.

Na rodada seguinte, São Paulo e Palestra Itália se encontraram e o alviverde levou a melhor por 3 a 2. O Germânia, que havia vencido o Santos na estreia, ganhou do Sírio e seguiu empatado na liderança. Além do Germânia, outro perseguidor no início do campeonato foi o Juventus. O time de Parque Antárctica e o da Mooca duelaram na quinta rodada, quando ambos estavam com 100% de aproveitamento. Com vitória de 3 a 1, o Palestra Itália se isolou na liderança.

Quando a Revolução estourou em 9 de julho de 1932, a classificação do campeonato era a seguinte:

1. Palmeiras – 14pts / 7J
2. São Paulo – 11pts / 8J
3. Juventus e Germânia – 10pts / 7J

 

MMDC, o troféu perdido e os atletas na Revolução

Embora tenha, de fato, explodido em 9 de julho, a Revolução Constitucionalista teve um capítulo importante no dia 23 de maio. Durante um protesto em frente ao Partido Popular Paulista (PPP), quatro civis (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) foram mortos pelas tropas federais. A partir dali, a insatisfação paulista contra o governo de Getúlio Vargas ganhou corpo e uma campanha para arrecadar fundos para o Exército Constitucionalista foi criada.

Entre os itens doados, havia muitas medalhas e troféus conquistadas por atletas e clubes. Uma doação em especial, porém, chamou a atenção: a taça Conde Penteado, desaparecida desde 1911. Naquele ano, a AA das Palmeiras tinha sua posse por ser campeã paulista de 1910 e deveria entregá-la ao SPAC. Porém, o detentor abandonou o campeonato faltando seis rodadas e na cerimônia de premiação não levou o troféu e posteriormente disse que o item havia sumido.

Além das doações, muitos foram os atletas que se prontificaram a participar da Revolução, que teve os conflitos armados iniciados em julho. Liderados por ninguém menos que Arthur Friedenreich, o Batalhão Esportivo contou com cerca de 3.000 integrantes. Eles foram deslocados até a região de Itapira, onde permaneceram por 25 dias até sofrerem um ataque aéreo.

Em virtude da movimentação em torno do conflito, o Campeonato Paulista foi paralisado, como relata comunicado da APEA divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo em 11 de julho: “Devido a situação deixaram de ser disputadas todas as competições esportivas que estavam anunciadas para ontem. Estas competições, serão, naturalmente, levadas a efeito no próximo domingo, 17, sendo bem possível, entretanto, que algumas delas se realizem no decorrer da semana entrante”.

O exército paulista, porém, não recebeu o apoio que esperava de outros estados. Sofrendo retaliações econômicas e ataques das tropas federais, a Revolução Constitucionalista aguentou o quanto pôde, até que, após 85 dias de batalhas que se alastraram por todo o território paulista, São Paulo se rendeu em 2 de outubro, embora os conflitos tenham se estendido até o dia 4, deixando oficialmente cerca de 1.600 baixas.

Embora, militarmente, São Paulo tenha sido derrotado, os paulistas lograram êxito na reinvidicação e Getúlio Vargas se viu obrigado a realizar uma eleição para a Assembleia Constituinte, em maio de 1933. Após ser aberta em novembro daquele ano, ela entrou em vigor em 1934, trazendo disposições importantes como a implantação do voto secreto, do voto feminino e a criação da Justiça do Trabalho, além de medidas como a jornada trabalhista de oito horas, férias, indenização para demissões sem justa causa e a igualdade de salários sem distinção de sexo, idade, nacionalidade ou estado civil.

 

Retomada e o histórico título palestrino

Em 8 de outubro, a APEA decidiu pelo retorno do Campeonato Paulista. Para isso, porém, foi definido que o torneio teria fim ao término do primeiro turno. Ou seja, ao invés das 22 rodadas programadas no início, seriam 11 jogos para ser conhecido o campeão.

Com 100% de aproveitamento, o Palestra Itália mostrou que nem mesmo a Revolução Constitucionalista era capaz de tirar o título do Parque Antárctica. O primeiro jogo pós-parada foi o dérbi contra o Corinthians, vencido por 3 a 0. Pelo mesmo placar, derrotou a Portuguesa e conseguiu o título antecipado antes de finalizar a campanha com incríveis 9 a 1 e 8 a 0 sobre o Germânia e o Santos, respectivamente, terminando o torneio com aproveitamento máximo.

 

Classificação Final

1. Palestra Itália – 22pts
2. São Paulo – 17pts
3. Juventus – 16pts
4. Germânia – 11pts
5. Ypiranga, Corinthians, Portuguesa e Santos – 10pts
9. AA São Bento – 9pts
10. Sírio e Atlético Santista – 8pts
12. SC Internacional – 1pts

 

Campanha do título

01/05/32 Palestra Itália 4×0 Sírio
08/05/32 São Paulo 2×3 Palestra Itália
22/05/32 Palestra Itália 2×1 AA São Bento
29/05/32 Palestra Itália 3×1 SC Internacional
12/06/32 Palestra Itália 3×1 Juventus
19/06/32 Palestra Itália 7×0 C.A. Santista
03/07/32 Palestra Itália 4×2 Ypiranga
06/11/32 Palestra Itália 3×0 Corinthians
20/11/32 Portuguesa 0x3 Palestra Itália
05/12/32 Palestra Itália 9×1 Germânia
11/12/32 Palestra Itália 8×0 Santos

 

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