John of God.
Assim João de Deus foi apresentado em programas televisivos na Alemanha, Estados Unidos, Grécia, Suíça, Áustria, Austrália Nova Zelândia, dentre outros países. O médium tem uma lista de clientes famosos: Bill Clinton, Xuxa Meneghel e outros midiáticos. O médium internacional, que nunca viu problema em carregar o codinome "Deus", foi acusado de um pecado mortal na última semana.
Até o momento em que escrevo este artigo, mais de 200 mulheres haviam relatado terem sofrido abuso sexual do médium durante atendimento espiritual, em Abadiânia, cidade goiana no entorno do Distrito Federal.
As denúncias se intensificaram. Na última terça-feira, a imprensa divulgou que uma das filhas de João Teixeira de Faria, o João de Deus, está processando o pai, acusando-o de estupro continuado. João nega as acusações.
Por outro lado, a Federação Espírita Brasileira, por meio de uma nota, sem citar o nome de João de Deus, disse que o serviço espiritual não deve ocorrer apenas com a presença do médium e da pessoa assistida. O texto ainda ressalta: "Estes não estão vinculados ao Movimento Espírita, nem seguindo sua orientação". A nota também cita um pensamento psicografado pelo médium Chico Xavier: "Não é a mediunidade que te distingues, é o que fazes dela".
Esquece-se, no entanto, a Federação Espírita, que foi o próprio Chico Xavier quem apadrinhou João de Deus. E que em diversos casos, nas mais diferentes casas espiritas do pais, são feitas operações espirituais semelhantes as que João de Deus fazia. Você aí, que está lendo este texto e é espírita, sabe do que estou falando.
A hipocrisia tóxica que toma conta dos aglomerados religiosos vai além. Em agosto deste ano, o líder espiritual Sri Prem Baba, 52 anos, foi acusado de abusar sexualmente de duas discípulas de sua comunidade em São Paulo. A acusação foi feita pelos ex-maridos das seguidoras, durante um encontro com Prem Baba em São Paulo.
O 'mestre' , sem nenhum problema de auto-intitular-se assim, atrai milhares de fiéis ao redor do mundo e é guru de famosos, como Reynaldo Gianecchini, Paula Burlamaqui e Márcio Garcia.
Abusos semelhantes na igreja Católica e em outros credos religiosos são comuns. Como seguem comuns os segredos sobre os ocorridos.
Observando o caso de João de Deus e Prem Baba parece haver uma estreita ligação do culto à personalidade, da luxúria dos servidores e de uma espécie de transe de seus seguidores. Nos dois casos, ainda há muita gente que defenda os líderes.
Em momentos como este faz-se necessário lembrar que Cristo seguiu sem religião até a morte. Vivia no meio do povo e sem ostentação.
Não parece, portanto, surpresa que elementos com essa característica de vida cometam esse tipo de crime. O que assusta, de fato, é a negação de seguidores, Federações e outras entidades associadas aos líderes. A meu ver, o correto neste momento, seria admitir o mundo de opulência que alguns vivem e, de fato, promover uma reforma. Ìntima.