Doze em cada dez pessoas ficam felizes com a chegada do fim de semana ou de algum feriado.
Porém, tudo na vida tem dois lados, já dizia o finado Moacir, filósofo do Bar do Paulo, lá em Matão. Entre essa dúzia que anseia por momentos de folga, sempre há aquele que implora por hora-extra, seja para provar seu valor ao contratante ou simplesmente aumentar a renda do mês.
Mas há também o que ama estar no ambiente de trabalho. É ali que fica à vontade, como se fosse um artista no seu palco. Quando está em casa, assemelha-se aos ex-combatentes da Guerra do Vietnã: não consegue se adaptar ao lar. Precisa voltar ao front.
A arte imita a vida. Moacir nunca disse isso, mas certamente concordaria com o filósofo criador de tal máxima.
Dirigido por Clint Eastwood, "A mula" é a representação de uma carreira quase exclusivamente dedicada ao trabalho. Interpretado pelo próprio diretor, Earl Stone é um floricultor de sucesso. Entretanto, a popularidade usufruída entre clientes e parceiros não é a mesma no âmbito familiar. Por causa do trabalho, abdicou de participar de importantes celebrações – o casamento da filha, por exemplo.
Como escreveu João Pereira Coutinho na crônica "O melhor filme de 2018 foi ignorado pelo Oscar", Earl é um artista enquanto profissional, mas um fracasso na função de pai e marido.
Quando seu negócio vai para o brejo, o nonagenário aceita a primeira proposta de emprego que aparece: transportar cocaína em sua camionete para a máfia mexicana. Sedentos por aposentadoria renunciariam, mas Earl não é um deles. Estar na estrada sentindo o vento bater no rosto e cantando letras de jazz é tudo o que ele quer.
Aliás, péssimo cantor que sou, se conhecesse as músicas de sua playlist, provavelmente cantaria junto.
Meu top 3 de Eastwoods: "Os imperdoáveis", "Menina de ouro" , "Gran Torino". "A mula" não chega perto de integrá-lo, mas não deixa de ser um bom filme. Eficaz válvula de escape para aqueles que desejam sair do esgoto da política e dar um tempo no smartphone.