Em tempos de violências e pandemia, falar em educação torna-se uma tarefa árdua. Não existem receitas a serem passadas, tão pouco soluções mágicas. A única certeza é a da incerteza. E, o medo, tem se tornado um sentimento constante. Não temos mais o controle sobre as nossas vidas.
Um minúsculo ser veio para nos provocar a pensar e nos tirar do conforto que a contemporaneidade nos oferecia. Precisamos nos fechar em nossas casas, parar de nos reunir, andar mascarados, distanciados social ou presencialmente. O contato físico é impossível nesse momento. Tentamos manter o bom humor batendo cotovelos e rindo da situação. Mas será que estamos aprendendo algo?
Alguns têm tentado ignorar os avisos voltando a exibir sua vida habitual em um mundo modificado. Provocando as restrições impostas, negando a existência de uma quarentena, falando de uma falsa normalidade.
Com o início da pandemia, as escolas foram esvaziadas e as crianças retornaram às suas casas. Ao cuidado de suas famílias. Foram disponibilizados materiais didáticos e aulas através dos aplicativos disponíveis. Tudo para o conforto dos alunos. Tudo para que continuem a ser educados formalmente, na informalidade de seus lares. Mas, será que isso vem ocorrendo?
Várias falácias se tornam, absurdamente claras, quando falamos sobre educação e quarentena. As desigualdades, as impossibilidades, as fragilidades. Precisamos refletir sobre as contradições existentes em um modelo de educação que “se diz” acessível a todos.
No Brasil, convivemos cotidianamente com o mito da Democracia Racial, que apoiado por discursos de igualdade promove situação de privilégios, discriminações e racismo constante. A escola, enquanto instituição é pensada para oferecer a todas as crianças, as melhores oportunidades. Um espaço de inclusão no qual as maiores e mais violentas situações de exclusão ocorrem. Pois é permitido a criança visualizar e saber o que está sendo perdido quando não tem possibilidades de se manter nesse contexto por questões sociais, econômicas, culturais. Sejam elas quais forem.
Não ter casa, não ter lugar para estudar, não ter comida, ter medo e fraqueza física, viver constantemente sob a ameaça de violências diversas, não ter dispositivos tecnológicos, nem acesso as redes, não ter responsáveis capazes de lhe dar suporte físico ou emocional. Devemos continuar a elencar os problemas existentes, ou devemos seguir em uma falsa normalidade?
Acima de tudo, noto que vivemos na escola a invisibilização de um racismo estrutural, fruto de um problema enraizado na nossa sociabilidade contemporânea. A escola mascara situações de racismo e discriminação sob uma capa de coisa menor, habitual.
Pensamos em nossas crianças negras e achamos que podem ter oportunidade de sucesso como jogadores de futebol ou cantores famosos. Mascarando um problema fundamental dentro da educação formal: a discriminação em nível escolar. Na sociedade, como um todo, as pesquisas apontam para o genocídio de uma juventude negra, os altos índices de morte por Covid, as dificuldades em acessar os melhores postos em empregos, a discriminação em instituições que deveriam tratar a todos de forma igual.
A Pandemia veio para nos mostrar que a educação reflete uma invisibilidade social. Que o espaço ocupado pela escola, seja dentro de seus prédios físicos ou no espaço das casas através dos dispositivos tecnológicos, é um espaço de privilégios determinados. Um espaço de privilégio para os brancos e mais abastados.