No Brasil, o futebol feminino é uma das modalidades que mais exigem garra e perseverança por parte de seus praticantes. Em Araraquara não é diferente e o time da cidade atravessou grandes dificuldades até se tornar a única equipe a conquistar duas vezes o título do Brasileirão Feminino. E uma atleta teve participação determinante em três momentos históricos do time: no início do projeto entre 1999 e 2001, no momento em que a equipe chegou muito perto do fim em 2010 e na conquista do título que transformou Araraquara na 'capital do futebol feminino brasileiro' em 2019. Trata-se de Andréia Rosa, zagueira que se orgulha em dizer que tem sangue grená correndo em suas veias.
Em entrevista exclusiva ao Portal Morada, ela relembrou o início de sua trajetória, que coincide com o início do futebol feminino da cidade. Falou ainda sobre suas superações, conquistas, passagem pela Noruega e medalha olímpica, tudo vivido com muita emoção e sobretudo gratidão. Confira!
Nascida para jogar futebol
Andréia Rosa de Andrade tem 35 anos e é filha de Sebastião Rosa de Andrade, 59 anos, e Maria Helena de Souza Andrade, 55 anos. O casal teve outros dois filhos: Angélica, de 37 anos, e Éder, de 33. Andréia nasceu no dia 8 de julho de 1984 em um hospital de Ourinhos-SP, mas como seus pais moravam em São Pedro do Turvo-SP, foi lá onde ela foi registrada. Quando tinha quatro anos de idade, se mudou com seus pais para o Clube Náutico Araraquara, onde seu pai conseguiu um trabalho. Se mudou para Araraquara e em 1995 sua família decidiu morar em Américo Brasiliense, onde reside até hoje.
A ligação de Andréia com o futebol surgiu ainda antes de nascer. Quando sua mãe estava grávida, seu pai dizia que o bebê seria um jogador de futebol. "Aí eu nasci e ele disse: Ah, é uma menina! Então não será um jogador, mas tudo bem, estou muito feliz mesmo assim", conta Andréia.
Aos três anos de idade, a menina estava em um mercado com os pais, que a pediram para escolher uma boneca. "Mas tinha outra coisa que me chamou mais atenção, uma bola toda colorida. Assim eles a compraram e eu brincava com essa bola o tempo todo. Depois disso, nunca mais larguei ela. E sim, o desejo do meu pai se realizou, me tornei uma jogadora de futebol mesmo sendo uma mulher", relata.
A menina apaixonada por futebol foi crescendo e brincava no clube com seu pai e seu irmão. Seu pai era goleiro do time dos funcionários e levava os filhos para jogar depois de seus treinos. "Anos mais tarde, eu jogava com os meninos na rua quando nos mudamos para Araraquara e Américo. Quando ninguém queria jogar, eu ficava driblando os meus cachorrinhos. Muitas vezes fazia um campinho no quintal e colocava várias coisas no chão, como se fossem zagueiras que eu precisava driblar. E também ficava jogando a bola na parede para ficar controlando", lembra a jogadora.
Início difícil
Aos 13 anos de idade, Andreia entrou para a Escolinha de Futebol Society do Play Soccer, onde tinha futebol para meninas. Com muito sacrifício, seus pais se esforçaram para pagar as despesas, já que era uma escolinha particular e, com o transporte, tudo ficava ainda mais difícil. "Meus olhos se enchem d’água de lembrar. Para ajudar meus pais a economizar, decidi ir de bicicleta para os treinos. Meu irmão começou a jogar também com os meninos, mas não achou tão interessante e decidiu seguir outro desejo. Eu saía de Américo, treinava, corria no asfalto muitas vezes, naquela época treinávamos muito pesado e ainda tinha que voltar para casa naquela bicicleta. Chegava em casa tão exausta que acabava dormindo ali mesmo e depois minha mãe me chamava para tomar banho e jantar. Ela deixava eu descansar um pouco sempre. Fiz isso por vários anos, inclusive não só eu, mas muitas meninas como a Vanessa, Gisele, Jack, Marcela, e as meninas que moravam em Araraquara também, como a Flávia, Isabela, Lilian e outras guerreiras. Fora quando minha bicicleta quebrou, que a Jack, Gisele e Flávia me carregavam e revezávamos. Jamais vou me esquecer desses momentos", relembra.
Para as meninas, as dificuldades eram superadas com alegria e esperança. "Quanta superação e ao mesmo tempo nos divertíamos tanto, uma felicidade imensa de estar ali com elas e indo treinar. Teve uma vez que nos envolvemos em um acidente de carro, com três bicicletas empelotadas em plena Bento de Abreu, em frente ao Teatro Municipal. Tivemos alguns arranhões, roupas rasgadas e cheia de graxa, chorando e em choque ao mesmo tempo, mas no fim acabou tudo bem. Tudo que passamos contribuiu na construção de valores e apreciações. Posso dizer que as experiências do futebol me ajudaram a seguir um caminho correto, me ensinou e ensina todos os dias como superar limites, apreciar a vida e ser um melhor ser humano. Fazemos as carreatas para celebrarmos cada conquista e passar em frente ao Teatro com os troféus nas mãos me deixa muito emocionada e grata, me faz lembrar de o quanto superei para chegar até aqui", acrecenta.
Talento lapidado
Na Escolinha do Play Soccer, Andréia percebeu que o futebol era algo organizado, com uma sequência de atividades. Não gostava de jogar de tênis e caneleira, achava mais difícil e gostava mesmo era de jogar descalça. "Lá encontrei os meus primeiros treinadores, os professores queridos Mendes e Hamilton. Tenho um grande carinho por eles. Depois disso tive mais de 25 treinadores e treinadoras na minha carreira toda, só na Noruega em cinco temporadas e meia foram 11 técnicos e técnicas. Eu seria muito injusta citar apenas um que contribuiu nesse longo processo, mas posso afirmar com convicção que busquei absorver o máximo do aprendizado com cada um deles, cada um com a sua identidade e especificidade. Também aprendi, em algumas situações, coisas negativas que não acrescentaram muito, mas ensinaram. No geral, sou eternamente grata por cada um deles que ajudaram a construir a minha carreira, assim também por cada atleta que joguei e jogo. Eu não teria chegado em lugar nenhum se não fosse por Deus, minha família, meus amigos, minhas parceiras de clubes, minhas comissões técnicas, as diretorias, os patrocinadores, apoiadores diretos e indiretos e os torcedores que lutam para fazer tudo isso acontecer", agradece.
Início do futebol feminino de Araraquara
Em 1999 nasceu o time de futebol feminino de Araraquara, na época chamado Araraquara/Fundesport, então comandado pelos técnicos Fernando Paollilo e Ricardo Moreira. Prestes a completar 15 anos, Andréia decidiu fazer parte dessa equipe. No ano de 2001, a equipe foi oficialmente anunciada. "Eu e muitas meninas ainda continuávamos indo para os treinos de bicicleta. Acredito que o trajeto para os treinos era de aproximadamente 25km de ida e volta, todos os dias. Lilian, que era uma das meninas do time, tinha um Chevette. Fizemos as contas e com R$ 4,50 de gasolina era possível irmos de carro para o treino e aí dividíamos esse valor entre quatro meninas", conta ela.
"Depois, a estrutura foi melhorando com a entrada do prefeito Edinho, que sempre teve um carinho pelo esporte e nos ajudou muito. Até hoje é um dos grandes homens que investiram nessa história. Ele conseguiu também o patrocínio do Hipermercado Extra e daí então recebemos os nossos primeiros salários. Lembro que meu primeiro salário era de 120 reais, comprei um liquidificador e uma batedeira de bolo para a minha mãe. Claro que tive que dividir em mais parcelas, mas foi mais gratificante ver a alegria dela ao receber aqueles presentes e saber que foi pago com o meu suor, literalmente falando", se orgulha Andréia.
Nessa época, passou a receber passes de ônibus, o que facilitou sua jornada diária. O time já tinha alojamento para as meninas de fora e alimentação. "Às vezes era macarrão com salsicha, mas estávamos ali. Tivemos uma série de dificuldades, mas não desistimos. Conquistamos títulos importantes como o Bicampeonato Paulista, que na época era a competição mais importante, o Paulista do Interior e algumas outras competições com menos expressão. Anos mais tarde, a Ferroviária começou a contribuir nesse processo de construção dessa historia", completa.
Quase o time chega ao fim
Mesmo com um bom desenvolvimento do time ao longo dos tempos, todo início de ano as jogadoras ficavam apreensivas e com medo da equipe acabar. "Lembro de muitas vezes, algumas meninas, o Fernandão e eu, de irmos buscar informações sobre a volta do time, pressionando a Fundesport, sendo até insuportáveis. Eles tentavam, mas não era o suficiente para manter a equipe, precisávamos de mais patrocinadores, não tínhamos uniformes uma semana antes do campeonato e teve um ano em que perdemos 11 atletas para o São Paulo, faltando duas semanas para começar o campeonato. Mas no fim conseguimos ter um bom time e ganhar o Paulista daquele ano", revela Andréia.
Em 2010, a equipe ficou muito perto de encerrar suas atividades. "A situação estava muito difícil e vimos os nossos sonhos se desfazendo, até que um dia o jornal O Imparcial fez uma matéria comigo e algumas meninas implorando por apoio. Essa matéria deu uma repercussão muito boa e graças a Deus pessoas se sensibilizaram e começaram a nos patrocinar. O Edinho também conseguiu convencer algumas empresas também e ficamos muito fortes e voltamos a ser mais competitivas", relembra.
O apelido de Guerreiras Grenás
Ainda em 2010, após superarem todos os obstáculos e conseguirem manter a equipe ativa, as jogadoras mostraram dentro de campo uma determinação que fizeram a Ferroviária/Fundesport chegar à semifinal do Campeonato Paulista. O time estava acostumado a atuar no Estádio do Botânico, mas após a classificação para a fase decisiva, seus jogos passaram a ser realizados na Fonte Luminosa. E foi lá onde aconteceu o jogo em que as atletas afeanas ganharam o apelido de Guerreiras Grenás.
O Santos chegou a Araraquara com um supertime e 100% de aproveitamento na temporada, atropelando quem encontrava pela frente, porém viu a equipe araraquarense surpreender e dominar as ações da partida, em um jogo eletrizante. Apesar disso, o jogo terminou empatado por 2 a 2, com direito a um golaço de falta de Andréia Rosa e muitos aplausos dos torcedores que reconheceram a raça da equipe. Em uma das cabines de imprensa, os jornalistas que cobriam a partida por veículos de comunicação da cidade – Marcos Chiocchini, Felipe Santilho e André de Souza – decidiram apelidar o time de Guerreiras Grenás. As atletas gostaram do apelido, que rapidamente 'pegou' na cidade.
Andréia se orgulha ao lembrar daquele momento e pela participação direta no apelido do time. "Eu adoro esse apelido. Ele simplesmente define a identidade dessa equipe em duas palavras, Guerreiras Grenás. E esse foi um grande dia, jogávamos contra o Santos, na época o time de melhor estrutura e não tinha perdido um jogo na temporada. Aos seis minutos de jogo, cobrei uma falta e marquei o nosso primeiro gol. Até hoje as pessoas falam daquela falta. Tenho ela na minha memória porque infelizmente não encontrei a gravação daquele jogo até hoje e nem o gol. Enfim, o jogo acabou empatado com aquele time que não tinha perdido nenhum ponto até então. Jogamos muito que então os jornalistas esportivos e a imprensa nos deram esse apelido lindo que hoje é o nosso grande símbolo, guerreiras que não desistem. Referência no Brasil e América Latina", vibra a atleta.
A Noruega em seu caminho
Em sua carreira, Andréia Rosa jogou em Araraquara pelo Play Soccer/Araraquara (1997 a 1999), Araraquara (1999 a 2001) e Extra/Fundesport e Ferroviária/Fundesport (2001 a 2011). A zagueira também foi emprestada para disputar a Copa do Brasil pelo Saad-MS (2007), Botucatu (2009) e Palmeiras (2011). Ela defendeu o Centro Olímpico de 2012 até agosto de 2013, quando se transferiu para o Avaldsnes da Noruega, time pelo qual atuou até 2018. Em 2019 retornou à Ferroviária, onde permanece até hoje.
A jogadora conta que aceitar o desafio de trabalhar na Noruega foi uma das melhores escolhas que fez na vida. "Ter jogado na Noruega me fez crescer como atleta e pessoa. Jogar em alto nível, ser campeã daquele país, disputar a Champions League por três anos consecutivos, jogando contra equipes grandiosas como Lyon e Barcelona, por exemplo, foram experiências marcantes na minha carreira. Mas confesso que quando cheguei lá, eu sofri para adaptar ao inverno. No primeiro jogo eu me perguntei: o que eu vim fazer nesse lugar? Minhas mãos estavam congeladas e estava insuportável de jogar, chorei, mas segui em frente. Por sorte, tive ajuda com as brasileiras que estavam lá, que eram a Rosana e Debinha. Rosana, na verdade, foi quem me indicou para essa equipe e me ajudou com toda a transferência. Ela foi peça-chave nessa minha aventura inesquecível. Tinha uma jogadora islandesa no time que já tinha jogado no Santos, naquele time quase imbatível, então ela começou a nos ensinar o inglês, porque nem eu e nem a Debinha sabíamos nada. Devagar fomos nos adaptando à língua, cultura e o jogo que tinha um estilo bem diferente do Brasil, muito mais intenso, forte fisicamente e com muita bola aérea. Amei! Depois que parei de apanhar, é claro!", ressalta.
Andréia conta que sua passagem pela Noruega se tornou ainda mais especial pelas amizades que construiu. "Pessoas generosas, adoráveis, queridas, conheci tanta gente que vou carregar no meu coração para sempre. Sinto muita saudade de todos, dos passeios nas montanhas, das tentativas de esquiar, horríveis por sinal, das comidas, dos jogos, das finais, dos gols, de fazer crioterapia no mar porque a água era muito gelada e de conhecer a cultura norueguesa. O pessoal já me chama de viking. Adorava!", destaca ela.
No país europeu, a atleta também passou por momentos difíceis, como quando lesionou o joelho. "Rompi o ligamento cruzado em 2014, longe da família, no momento mais difícil que tinha experimentado na vida. Era difícil achar motivação para fazer os exercícios, mas se recuperar e voltar a fazer o que amava só dependia de mim. Tenho uma gratidão eterna para as meninas que moravam comigo, que me ajudaram em absolutamente tudo, principalmente a me fazer sorrir", explica Andréia, que foi vice-campeã em cinco oportunidades na Liga e na Copa, antes de finalmente, em 2017, sagrar-se campeã da Copa da Noruega. "Que dia! Aí lembrei da primeira pergunta que me fiz quando cheguei lá. Espero um dia poder visitar meus amigos e o país mais lindo que já vi na vida. Noruega será eterna na minha vida", garante.
O retorno a Araraquara
Atuando por mais de cinco temporadas na Noruega, Andréia sentia que deveria buscar novos desafios, jogar outro estilo de liga, sair da zona de conforto. Mesmo amando aquele lugar, ela sentiu que estava na hora de mudar o destino, com possibilidades de ir para Espanha ou China, e conhecer outra cultura antes de voltar para o Brasil. "Mas o prefeito Edinho conversou muito comigo e acabou me convencendo de voltar para a Ferroviária. Também sempre admirei e acompanhei a evolução da equipe e obviamente facilitou a minha volta, porque eu sabia do alto nível de competitividade e da grandeza dessa equipe. Além disso, estaria perto da minha família após quase oito anos longe de casa. Fico feliz por ter voltado e ter ajudado a Ferrinha com um título que marcou para a história da equipe, que foi o Brasileiro", comemora.
Brasileirão de 2019 e o gol mais especial da vida
O título do Brasileirão Feminino de 2019, que fez da Ferroviária o único time a conquistar duas vezes essa competição, ficará marcado para sempre na memória de Andréia Rosa. "A sensação é de gratidão. Foi um ano muito complicado para a equipe, ainda buscando a confiança de todos e a volta para o grupo de elite do país. Foi um ano de superação dentro e fora de campo para todos os envolvidos. Trabalhamos demais e a lutamos para classificar entre os oito finalistas, depois para passarmos por três decisões de pênaltis fantásticas. Ganhar naquela final contra o Corinthians na Fazendinha com certeza entra na lista das minhas melhores conquistas da carreira", analisa.
A façanha se tornou mais especial por uma razão familiar. Sua avó acompanhava os jogos e na final contra o Corinthians, pediu para Andréia fazer um gol para ela, porém na quarta-feira anterior, quando a equipe tinha o segundo jogo da semifinal do Paulista contra o próprio Corinthians, ela foi internada, muito doente. "Eu fui para São Paulo e uma angústia tomou conta de mim, mas meus pais me falaram para eu ir que eles cuidariam da minha avó e que o time precisava de mim, para eu me concentrar na partida. E assim foi, perdemos aquele jogo, mas o nosso foco mesmo era a final. E assim o desejo dela se cumpriu, eu fiz o gol de pênalti para ela, fizemos o jogo das nossas vidas e Deus nos deu a tão sonhada conquista. Que grande dia! Voltei para casa, levei a medalha para ela no hospital, dormi com ela algumas noites lá e na terça-feira me despedi dela porque iria viajar para a Libertadores. Na quinta-feira ela descansou. Só agradeço a Deus por ter me permitido voltar da Noruega, ter compartilhado momentos maravilhosos com ela e ter feito o gol para ela, que é definitivamente o gol mais especial da minha carreira pelo significado, um dos mais importantes também", conta.
Ferroviária no coração
Ao ser perguntada sobre o que a Ferroviária significa em sua vida, Andréia declara seu amor. "Acho que essa é uma das perguntas mais difíceis de responder. Não sei se existe palavras para expressar o que a Ferrinha significa para mim, definitivamente a equipe mais especial que joguei. Tenho muito amor e gratidão por esse time, o lugar que me deu a oportunidade de lutar pelos meus sonhos. Sabe quando você constrói a sua casa e vê dia a dia aquele alicerce sendo construindo? Aqueles tijolos tomando forma de uma parede, aquelas marcas e cicatrizes de todo o seu esforço e quando você vê a casa pronta, você se dá conta de como valeu a pena cada pedalada, cada corrida no asfalto, cada dor, cada cobrança para o time não acabar. A Ferrinha abriu as portas para o mundo, para a Seleção Brasileira. Eu amo esse time e para mim é uma honra e um grande privilegio vestir esse manto e fazer parte de história. Costumo dizer que o meu sangue é grená", destaca a zagueira.
Seleção Brasileira e medalha olímpica
Andréia Rosa também possui passagens marcantes pela Seleção Brasileira e uma delas foi a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas de Pequim, na China, em 2008. "Vestir a camisa da Seleção e representar uma nação já deve dar uma noção de o quanto isso é especial e precioso. Era emocionante cantar o Hino Nacional, arrepiava! Aqueles estádios lotados, ver a admiração e respeito das pessoas conosco, conquistar uma medalha olímpica e outras medalhas importantes com certeza é a realização de um sonho, aquele que tinha quando acordava de madrugada para assistir as meninas jogando e dizia que um dia eu iria vestir aquela camisa amarela", salienta.
A participação nas Olimpíadas foi inesquecível para a jogadora. "Sonho realizado, melhores atletas do mundo juntos, estava sentada ao lado do Messi na Vila Olímpica e pensei: meu Deus, olha onde estou! Logo depois estava conversando com o Maradona e Riquelme, Bernardinho e tantos outros. Que momento!", relembra.
Em sua última passagem pela Seleção, no entanto, Andréia se juntou a outras atletas que se manifestaram contra a demissão da técnica Emily Lima. "Tive experiências maravilhosas e, como todo atleta, outras decepcionantes também. Já chorei muito na Granja Comary, mas não desisti, e todas as possibilidades que a Seleção me deu eu guardo com carinho e aprendizado. Confesso que me arrependo da maneira que saí da Seleção, talvez naquele momento parecia ser uma luta por nossos direitos, mas acho que eu deveria ter feito de outra maneira, mas aprendi que nada pode ser feito sem convicção", explica.
A zagueira afeana mostra carinho ao falar de algumas estrelas da Seleção como Formiga, Cristiane e Marta. "As meninas são sensacionais, cada uma com seu jeito especial de ser. Formiga sempre me perturbava, ia no meu quarto, fazia uma bagunça e saia correndo. Um baita ser humano, brincalhona, mas quando tinha que treinar, era sempre muito focada e determinada. Ela é a minha jogadora favorita, se entrega pelo time e tem uma humildade incrível. A Cris também é sempre muito engraçada e às vezes rabugenta. Damos muita risada quando nos reencontramos, relembrando alguns momentos. Amo! Ela sempre muito convicta do que queria, uma das meninas que lutam pela modalidade. Eu admiro muito a coragem dela e foi por ela e por algumas meninas dando a cara para bater naquele protesto por direitos que eu decidi apoiá-las. A Marta também é outra pessoa engraçada, sensível e determinada, ficava cantando e tinha muita paciência com os fãs. É um fenômeno, não é à toa que foi eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo. Enfim, essas meninas e muitas outras são referências e inspirações para mim e para todo o futebol mundial. Admiração e respeito por cada história e por tudo o que elas contribuíram para que hoje a Seleção Feminina seja mais respeitada. Com certeza elas vão deixar o legado delas", opina.
Momento mais marcante da carreira
Para Andréia Rosa, eleger o momento mais marcante de sua carreira também é algo difícil de ser feito. "Tenho vários muito importantes, vou citar alguns. Conquistar uma medalha olímpica em 2008, ser campeã norueguesa de 2017 fazendo de gols importantes nas classificações até a grande final, campeã Paulista de 2005 em decisão de pênaltis e brasileira de 2019 com a Ferrinha nas três partidas finais, campeã da Copa do Brasil de 2007 na decisão de pênaltis também, campeã do Sul-Americano e torneios com a Seleção e outros. Mas ser campeã da Noruega e do Brasileiro são as que ganham uns pontos a mais. Gratidão enorme a esse esporte que me proporcionou experiências inesquecíveis. Muitos sonhos realizados", completa.
O futuro
Andréia conta que tem muitos objetivos pela frente no futebol e o certo é que sua determinação estará presente em todos eles. "Tenho alguns sonhos e planos ainda para conquistar dentro de campo, depois quero trabalhar com o futebol feminino e outros que deixo aqui no meu coração e vou trabalhar para conquistá-los. E quando conseguir, eu compartilho com todos que lutam comigo ate aqui", finaliza a campeã.
No momento, a zagueira realiza seus treinamentos em casa por conta da pandemia do novo coronavírus. Com ela, as Guerreiras Grenás vinham embaladas na temporada com quatro vitórias em quatro jogos do Brasileirão Feminino. Vem mais comemorações por aí?
Confira abaixo fotos da carreira de Andréia Rosa.