InícioEsporte+EsportesAnésio Argenton: Um fenômeno do ciclismo brasileiro

Anésio Argenton: Um fenômeno do ciclismo brasileiro

Ciclista falecido em 2011 possui marcas ainda insuperáveis na modalidade

Ele nasceu em Boa Esperança do Sul, construiu família em Araraquara e se tornou uma lenda do esporte do Brasil. Anésio Argenton é dono de uma das histórias mais gloriosas do ciclismo brasileiro e será visto para sempre como uma grande referência da modalidade. Sua grandeza é tanta que, mesmo falecido em 2011 aos 80 anos de idade, ele possui marcas ainda não superadas.

Conquistou nada menos que o melhor resultado olímpico do Brasil na história em provas de pista (velocidade), com a quinta colocação nas Olimpíadas de Roma em 1960. Também faturou inúmeros títulos regionais, estaduais e nacionais. Com números tão expressivos, Argenton foi considerado um dos 100 maiores atletas do século passado pela revista Época, na edição especial das Olimpíadas de Atlanta, em 1996.

Para homenageá-lo, o Portal Morada conta agora a história desse que é um dos maiores ícones do esporte dos pedais de todos os tempos.  

Origem

Filho de pais italianos, Anésio Argenton nasceu em 14 de março de 1931 em Boa Esperança do Sul e com oito anos de idade começou a morar em Araraquara, onde teve seu primeiro contato com o ciclismo aos 14 anos, quando começou a fazer entregas para um armazém. O dono do estabelecimento o deixava ir para casa com a bicicleta e ele tomou gosto pela prática. Rapidamente o jovem ganhou o apelido de Balão, em referência ao pneu-balão, nome dado aos pneus das bicicletas da época.

A falta de velódromos para treinos na cidade não o impediu de aprimorar a sua habilidade. Enquanto seus adversários treinavam com bicicletas de corrida em solos adequados para a prática da modalidade, ele corria em ruas de terra com a mesma bicicleta que utilizava para trabalhar. Mesmo assim, o talento e a determinação prevaleciam. Começou a se destacar na Prova 22 de Agosto, que naquela época já atraía ciclistas de todo o Brasil e era realizada no Centro de Araraquara.

Anésio também trabalhou como torneiro mecânico na antiga Estrada de Ferro Araraquara (EFA) e surpreendeu a todos quando deixou as provas de rua para se dedicar aos desafios das pistas de velocidade. Venceu sua primeira prova em 1947 e desde então passou a colecionar conquistas.

Equipes

Integrou a equipe da Ferroviária, que na época apostava em diversas modalidades esportivas. Suas conquistas o levaram à Seleção Brasileira de Ciclismo e posteriormente à famosa equipe da Caloi de São Paulo. 

Ao longo de sua trajetória, venceu todos os Jogos Abertos que disputou, de 1949 a 1956, e foi tetracampeão brasileiro de velocidade (1952, 1954, 1955 e 1958).

Conquistas internacionais

A estreia internacional de Argenton foi nos Jogos Pan-Americanos de 1955 na Cidade do México, porém os cinco dias de viagem não fizeram bem para ele, que disputava provas desgastantes, por isso o resultado não foi o esperado. No ano seguinte, fez sua estreia em Olimpíada ao participar dos Jogos de Melbourne, na Austrália. As dificuldades para competir eram tantas que o ciclista viajou em um avião dos Correios, que por conta das escalas, demorou cinco dias para chegar ao local. Só havia ele de ciclista na delegação e, por falta de recursos, não foi possível levar técnico, mecânico e nenhum outro profissional para lhe ajudar, mas contou com a ajuda de Kid Jofre, que era o massagista de seu filho, o boxeador Eder Jofre, que viria a se tornar uma lenda do boxe brasileiro. Naqueles Jogos Olímpicos, Anésio não conseguiu se destacar na prova de sprint, porém no contrarrelógio de 1.000m conquistou a 9ª colocação.

Em 1959, o ciclista conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Chicago no contrarrelógio de 1.000m. Em sua volta para Araraquara, foi recebido como herói, com uma multidão à sua espera na Estação Ferroviária.

Em 1960, foi mais uma vez disputar as Olimpíadas, agora em Roma, na Itália. A admiração das pessoas pelo ciclista era tão expressiva que foi presenteado pelo mestre de esgrima italiano Angelo Buonafina, que o conheceu pessoalmente na Vila Olímpica. Vendo que sua bicicleta era pesada para os padrões da época, o italiano encomendou uma bicicleta desenvolvida com as medidas de Argenton e com todos os recursos para a disputa de provas de velocidade daquele período. Buonafina também teve outro papel fundamental na atuação de Argenton naquela competição. Em uma das provas eliminatórias, o brasileiro perdeu hora e o italiano lhe deu carona. Ao chegar ao velódromo, os organizadores o comunicaram que ele havia sido eliminado pelo atraso. Buonafina protestou, usou o argumento de que Argenton era filho de italianos, e a organização permitiu que ele competisse. Assim, mesmo com todas as dificuldades, conseguiu se destacar: no sprint, caiu nas quartas de final e terminou em quinto, enquanto ficou em sexto no contrarrelógio. Este é até hoje o melhor desempenho de um ciclista brasileiro em Jogos Olímpicos.

O ciclista disputou mais dois Jogos Pan-Americanos: em 1963 em São Paulo, onde ficou com a medalha de bronze em sua principal prova, o contrarerrelógio, e em 1967 em Winnipeg, no Canadá, onde saiu sem medalhas e anunciou o fim de sua carreira.

Araraquara no coração

No ano de 1961, mesmo já atuado em duas Olimpíadas, Argenton representou Araraquara nos Jogos Regionais de Catanduva. Era amigo pessoal do nadador araraquarense Antônio Carlos Orselli, que há alguns anos afirmou em uma entrevista que Argenton emprestava sua bicicleta para os outros atletas da cidade competirem nas provas, além de passar dicas importantes para todos.

O lendário ciclista também incentivou e lapidou diversos talentos da cidade, deixando um legado de valor inestimável para a modalidade.

 

Homenagens

Em 1998, Argenton foi homenageado com o Título de Cidadão Araraquarense, concedido pela Câmara Municipal de Araraquara. 

Desde então, a tradicional Prova Ciclística 22 de Agosto passou a levar o seu nome, Troféu Anésio Argenton. A corrida é realizada anualmente no mês de aniversário de Araraquara e é válida para o ranking brasileiro de ciclismo e também como uma das etapas da Copa São Paulo, organizada e promovida pelo diretor araraquarense, ex-ciclista e preparador físico Alessandro Giannini, também responsável por todo o resgate histórico da carreira de Argenton.

Argenton também foi homenageado pela produtora 7 Filmes/ Garoa Fina Produções, de São Paulo, que produziu o documentário 'A Volta ao mundo de Anésio Argenton', que conta a história da vida e carreira do ícone do ciclismo e integra o projeto ‘Memórias do Esporte Olímpico Brasileiro’. Clique aqui para assistir o filme.

O adeus de uma lenda

No dia 3 de outubro de 2011, Anésio Argenton faleceu no Hospital São Paulo, em Araraquara, em decorrência de complicações pós-cirúrgicas para retirada de um tumor intestinal, doença que já o havia acometido por oito anos. Argenton era casado com Antônia e pai de Márcia, Marisa e Anésio Júnior (falecido). Sua história, no entanto, seguirá para sempre inspirando esportistas de todas as modalidades.

(Colaboraram com a matéria: Alessandro Giannini e Alessandro Bocchi. Fotos do Museu do Futebol e Esportes de Araraquara).

 

OS TÍTULOS DE ARGENTON

Jogos Abertos (Provas de KM contra o relógio):
• Rio Claro em 1949;
• Jundiaí em 1950;
• Ribeirão Preto em 1952;
• Sorocaba em 1954;
• Piracicaba em 1955.

Campeonatos Brasileiros (Velocidade):
• Florianópolis em 1952;
• São Paulo em 1954/55/58.

Campeonatos Sul-Americanos: (Km e Velocidade):
• Uruguai em 1952 – Medalha de Prata
• São Paulo em 1954 e 56 – Medalha de Ouro
• Venezuela em 1959 – Venceu a prova de KM contra o relógio, mas não levou o troféu.

Jogos Pan-Americanos (Km Contra o Relógio):
• México em 1955 – 4º colocado;
• Chicago em 1959 – Medalha de Ouro;
• São Paulo em 1963 – Medalha de Bronze (com uma enorme furunculose na virilha).

Olimpíadas (Velocidade e Km contra o relógio):
• Melbourne em 1956 – 7°colocado (velocidade) e 9° (KM);
• Roma em 1960 – 5º colocado (velocidade) e 6° (KM);

 

Confira abaixo fotos da vida e carreira de Anésio Argenton.

 

 

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