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Bazani: Um nome para a eternidade

No mês em que a Ferroviária completa 70 anos, lembramos a história de seu maior ícone

A Ferroviária completou 70 anos no último dia 12 de abril e o Portal Morada contou a história do clube em uma série de reportagens publicadas no dia do aniversário (leia aqui). A trajetória da Locomotiva Grená de Araraquara conta com a atuação determinante de um herói que até hoje é visto como o maior jogador que já vestiu sua camisa: Olivério Bazani Filho, ou simplesmente Bazani, único nome afeano a ser eternizado com um busto, que pode ser visto na entrada do Estádio da Fonte Luminosa. 

Bazani foi o profissional que mais atuou nos gramados com a camisa da Ferroviária (758 jogos como jogador e 220 como técnico). Com ele, a equipe conquistou suas maiores glórias, assim como realizou seus jogos mais marcantes contra adversários de grande expressão. 

O surgimento de um craque

A história de Olivério Bazani Filho tem início na cidade de Mirassol-SP, onde nasceu no dia 3 de junho de 1935. Seu pai, Olivério Bazani, foi zagueiro do Corinthians na década de 1930, enquanto a irmã, Nadir, foi jogadora profissional de basquete e o irmão, Óliver, o Bazaninho, foi jogador do São Paulo e do São Bento de Sorocaba. 

O garoto surgiu no infantil do Mirassol, passou pelas categorias de base da Mogiana de Campinas, pelo Grêmio Esportivo Monte Aprazível e pelo Rio Preto. Sua qualidade começou a chamar a atenção de grandes clubes, entre eles o Fluminense, onde chegou a treinar, porém um acordo com a Ferroviária prevaleceu e o jovem deu início a uma trajetória que iria marcar para sempre a história do clube grená.

Início empolgante em Araraquara

Meia-esquerda típico de uma era romântica do futebol, o jogador assinou seu contrato no dia 30 de dezembro de 1954, data em que oficialmente se tornou um atleta afeano. Bazani deixou seu cartão de visitas para a torcida logo em sua estreia. No dia 6 de fevereiro de 1955, marcou um dos gols da vitória por 3 a 0 sobre o Paulista. No mesmo ano, a Ferroviária aplicaria a maior goleada de sua história: 15 a 1 sobre o Velo Clube na Fonte Luminosa. Em 1956, a Locomotiva disputou a final da edição de 1955 do Campeonato Paulista da Segunda Divisão e comemorou o título com uma vitória por 6 a 3 na final sobre o Botafogo de Ribeirão Preto na Fonte Luminosa, façanha que colocou a Locomotiva pela primeira vez na elite do futebol estadual. 

Em 1959, a Locomotiva teve sua primeira participação expressiva na Primeira Divisão do Campeonato Paulista ao terminar em terceiro lugar, uma campanha surpreendente para um clube que tinha apenas nove anos de existência. Com sua participação no estadual daquele ano, Bazani convocado, com Dudu e o goleiro Rosan, para a Seleção Paulista que disputou o Campeonato de Seleções. Colaborou para o tetracampeonato do torneio e chegou a deixar Pelé no banco de reservas no jogo contra a Seleção Mineira. 

 

A década de ouro

A década seguinte foi o período mais glorioso da história da Ferroviária (leia mais aqui). Em 1960, a Ferroviária realizou sua primeira excursão internacional pela Europa e África, onde realizou 20 amistosos e sofreu apenas uma derrota, com direito a muitas goleadas. A Fiorentina e o Milan fizeram propostas à Ferroviária pelo craque, porém uma cláusula da Federação Italiana estabelecia o limite de idade para até 23 anos aos atletas estrangeiros. Como Bazani já tinha 25, as negociações foram encerradas. No Brasil, vários clubes também tentaram contar com seu futebol.

Em 1963, o time voltou a excursionar para o exterior, dessa vez pela América do Sul e Central, onde Bazani foi o artilheiro com 8 gols, mesmo saindo antes do fim da viagem, já que as grandes atuações do afeano nesse período chamaram a atenção do Corinthians, que o contratou. Defendeu o alvinegro por duas temporadas, porém não conseguiu apresentar o brilho que o consagrou em Araraquara. Com a camisa do Corinthians, Bazani disputou 89 partidas, onde acumulou 41 vitórias, 18 empates e 30 derrotas, com 15 gols marcados.

Sem Bazani, a Ferroviária não conseguiu ter uma boa participação no Paulistão de 1964 e em 1965 acabou rebaixada, mesmo com Bazani retornando ao final da competição. Em 1966, no entanto, a Locomotiva voltou a entrar nos trilhos e sagrou-se campeã da Segunda Divisão do Paulista, com 16 gols de Bazani, que foi o artilheiro do time. Nos anos seguintes, o camisa 10 liderou a equipe araquarense na conquista do Tricampeonato do Interior (1967, 1968 e 1969), ocasiões em que a AFE ficou apenas atrás dos grandes na classificação final. Em uma das edições, 1968, a Locomotiva teve o artilheiro da competição, Téia, que com várias assistências de Bazani, marcou 20 gols e superou Pelé. Foi uma façanha surpreendente na época, já que o Rei do Futebol foi artilheiro do Paulistão em dez ocasiões entre os anos de 1957 e 1970. 

Outras grandes emoções da trajetória afeana contaram com o talento do craque, como o empate por 2 a 2 no jogo comemorativo contra o Cruzeiro (campeão da Taça Brasil) na Fonte Luminosa, e a goleada por 4 a 0 sobre o Nápoli da Itália em outro amistoso na Fonte. Posteriormente, veio outra excursão pelo exterior, na América Central, e mais um retrospecto empolgante. No total das três viagens, a Ferroviária somou 49 jogos, com 39 vitórias, 5 empates e 5 derrotas, 155 gols marcados e 34 sofridos.

Despedida dos gramados

A conquista da Taça dos Invictos de 1970 fez a festa da torcida afeana, porém um jogo memorável aconteceria no ano seguinte, quando a Ferroviária goleou o Santos de Pelé por 4 a 1 na Fonte Luminosa. Mesmo sem começar o jogo entre os titulares, Bazani marcou um dos gols diante de 20 mil torcedores. 

Em 28 de março de 1973, Bazani, aos 35 anos de idade, se despediu dos gramados no jogo em que a Ferroviária perdeu para o Guarani por 1 a 0 na Fonte Luminosa. Ele deu uma volta olímpica e agradeceu ao público descalço no centro do campo, em um momento que levou os torcedores às lágrimas. 

O Rabi, como era apelidado, marcou 244 gols em 758 jogos pela Locomotiva, marcas jamais alcançadas por outros atletas. Bazani, no entanto, não se despediu da Ferroviária, onde seguiu atuando em funções administrativas e muitas vezes como técnico, tanto do time principal quanto das categorias de base. Pelo time profissional, Bazani atuou como treinador em 220 jogos e comandou o time na memorável campanha do Paulistão de 1985, onde o time chegou na semifinal. Ele também foi fundamental na revelação de inúmeros talentos da equipe nesse período. 

A carreira de dentista

Fora do ambiente esportivo, Bazani também esbanjou profissionalismo e dedicação como dentista. Formado em Odontologia pela Unesp de Araraquara, ele comemorou o primeiro acesso da Ferroviária, em 1956, com os colegas da faculdade. Ele atendia seus pacientes em um consultório na Rua 9 de Julho e posteriormente na Galeria Cury, no Centro de Araraquara. Colaborou como cirurgião-dentista no Hospital Cairbar Schutel, onde prestava serviços das 6h às 8h30, antes dos treinos da Ferroviária. Também foi voluntário no Centro Espírita Obreiros do Bem e Creche Meimei.

Homenagens e despedida

Bazani recebeu o Título de Cidadão Araraquarense em 1998, por iniciativa do torcedor e esportista Paschoal Gonçalves da Rocha e do então vereador Mário Hokama.

Em 18 de abril de 2007, a Fonte Luminosa recebeu um jogo comemorativo entre Ferroviária e Corinthians para inaugurar o busto de Bazani, produzido pelo artista plástico Wagner Gallo. A homenagem, organizada pelo prefeito Edinho Silva e pela esposa de Bazani, Aparecida Castro Bazani, contou com a presença de grandes nomes que marcaram o clube, porém o próprio Bazani não pôde comparecer, já que se encontrava com sérios problemas de saúde. Nessa ocasião, sofria de Mal de Alzheimer, Mal de Parkinson e complicações no sistema urinário e próstata.

No dia 13 de outubro de 2007, um sábado, Bazani morreu em Araraquara aos 72 anos de idade, em decorrência do câncer de próstata. Deixou três filhos, sendo dois do casamento com a saudosa Maria Inês (Olivério Bazani Neto e Maria Inês) e uma da união com Aparecida de Castro Bazani (Ana Carolina Bazani).

Seu nome, no entanto, será para sempre lembrado como um ídolo de todas as gerações da torcida da Ferroviária, time para o qual se doou ao máximo e que nunca mediu esforços para levar alegria aos araraquarenses. 

Informações e fotos: Tetê Viviani, Vicente Henrique Baroffaldi, Alessandro Bocchi e Museu do Futebol e Esportes de Araraquara

   

 

 

Carlos

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