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Boneca Abayomi

"A Boneca Abayomi está inserida nesse contexto de lutas, por ser um símbolo de resistência; e quando confeccionada, em qualquer espaço, deve trazer as reflexões acerca das desigualdades"

No mês em que se comemora a “Consciência Negra”, inúmeras ações pontuais acontecem nas escolas para celebrar essa data. No entanto, as problematizações acerca da escravização no Brasil terem acabado a mais de 100 anos, e, no entanto, a população negra ainda não se encontrar totalmente integrada a sociedade, disputando em condição de igualdade o mercado de trabalho, não fazem parte das discussões existentes.

Será que temos consciência que foram mais de 300 anos de opressão, servindo e edificando esse país na condição de escravizados e, ainda hoje, é a população que mais sofre nesse sentido? A Boneca Abayomi está inserida nesse contexto de lutas, por ser um símbolo de resistência; e quando confeccionada, em qualquer espaço, deve trazer as reflexões acerca das desigualdades.  

Abayomi, na língua Iorubá (uma das maiores etnias do continente africano cuja população habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Marfim) significa “Encontro Precioso” (abay – encontro, omi – precioso), a possibilidade de aproximação da rica cultura africana. Confeccionar bonecas que tenham histórias é uma forma de valorizar a diversidade cultural, incluindo na brincadeira com bonecas algo que deveria ser inerente a esse brincar: afeto. Proporcionar às crianças um “encontro precioso” com as diferentes formas de ser e estar no mundo.

A história das bonecas começa nos porões dos navios Tumbeiros, que realizavam o transporte das pessoas sequestradas e escravizadas da África para o Brasil. Nesses porões a carga era de jovens, homens e mulheres, e também, crianças. Para acalentar essas crianças durante a difícil viagem, mulheres rasgavam tiras de suas vestes e confeccionavam pequenas bonecas de proteção. Duas tiras, seis nozinhos. Cada nó, um desejo. Dessa forma era confeccionada essa pequena boneca, que não precisa de linha, nem agulha. Só o desejo de proteger a criança.

A Abayomi não tem o desenho de olhos, nariz ou boca, pois a sua intenção é representar as inúmeras etnias africanas.

Mas, precisamos conhecer a história. Como surge a Boneca Abayomi no Brasil?

O ano de 1980 é marcado pelo contexto do Movimento Negro, momento em que se organizava a marcha para lembrar os 100 anos da abolição. A educadora popular e militante, Waldilena Martins, ou como é mais conhecida, Lena Martins, inicia a confecção de Bonecas Abayomi no Brasil. Os anos 80, também, são marcados pela questão ecológica. Abraçando essas questões, movimento negro e ecologia, a educadora propõe utilizar essa ferramenta popular, a boneca, feita com retalhos de tecido como forma de produzir conscientização social.

A aceitação foi tanta que em 1987, Lena junto com outras mulheres, fundaram a linda Cooperativa Abayomi. Com a proposta de ser um espaço que mantenha um diálogo constante com os movimentos negro, estudantil, sindical e religioso, a cooperativa integra uma rede nacional contra a violência à mulher e da rede de mulheres negras latino-caribenhas. Integram a Cooperativa mulheres educadoras, psicólogas, terapeutas, que desenvolvem um trabalho de conscientização do indivíduo.

As bonecas Abayomi são sempre negras, já que representam a cultura Africana, e suas personagens podem contar inúmeras histórias. O que interessa é contextualizar a história da África e afro-brasileira e as inúmeras mobilizações sociais por trás dessas pequenas bonequinhas: violência, racismo, sexismo, etc.

Antes de confeccionar essas bonequinhas é muito importante contar a verdadeira história do Continente Africano. Um continente com 54 países, com riquezas como diamante, ouro, platina, cromo, antimônio entre outros; repleto de histórias de reinos poderosos, reis, rainhas, e muito mais. Revele a verdadeira história que anda tão distante dos nossos livros didáticos. Depois disso, ensine a confeccionar a boneca Abayomi, símbolo de resistência de um povo poderoso. Dessa forma, você estará contribuindo para que criemos relações mais iguais e proporcionando às crianças negras a oportunidade de desenvolver uma identidade mais positiva.

Todos nós só temos a ganhar quando possibilitamos o encontro com a diversidade de histórias e culturas que compõem o povo brasileiro. Um exercício vital para a formação de uma sociedade mais equânime.

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