Nas últimas semanas, uma corrente de filmes tem pululado no Facebook. A regra: durante dez dias, a pessoa marcada deve postar uma cena que cativou seu espírito, sem explicar o motivo, sem legendas. Até agora, não fui convidado. Fiquei pensando quais títulos postaria caso fosse.
O pessoal tem colocado imagens de longas dirigidos por cultuados diretores. Godard, Bergman, Lynch, Fellini. Legal. Gosto de ver a predileção de colegas para coisas que tenho dificuldade de entender. Talvez essa dificuldade se dê ao fato de minha educação ter sido baseada na Sessão da Tarde.
De cara, já sei quais seriam as duas primeiras fitas por mim elencadas, ambas com o Van Damme.
"Cyborg" – num futuro apocalíptico, sujeito com passado misterioso tenta impedir que um protótipo de inteligência artificial caia em mãos erradas (no caso, as da gangue de piratas que assassinou sua família).
"O Grande Dragão Branco" – depois de árduo treinamento, Frank Dux ingressa em torneio de artes marciais que reúne os melhores lutadores do mundo. Em seu caminho, está o implacável e brutal Chong Li (Bolo Yeung) – e o enredo é basicamente esse.
As outras oito cenas passeariam por "O Exterminador do Futuro 2" , "Rocky 4" e "Busca Implacável" , até culminarem em algum Tarantino – "Kill Bill" , provavelmente.
Há preconceito dos tais cinéfilos contra filmes que faziam a cabeça da moçada numa época em que torrents e Netflix não eram nem espermatozóides.
Outro dia, no Twitter, o perfil Cinema Argentino (recomendo) compartilhou lista da Revista Bula, "10 filmes argentinos que todo cinéfilo precisa conhecer". Um usuário (foto de perfil com famosa cena de "Psicose") criticou o fato de "Um conto chinês" (recomendo) estar entre eles. O veredicto: segundo ele, trata-se de filme de "Sesión de la Tarde".
Tenho mantido distância de discussões nas redes anti-sociais, mas essa não pude deixar passar. Estalando os dedos, perguntei a ele qual é o problema de um filme ser de Sessão da Tarde. Nada foi respondido. Então, não houve discussão
Semana passada, numa mesa de bar, um amigo disse, em tom de deboche, que sou muito hollywoodiano. Isso significa que me deixo levar pelo barulho de qual‐ quer "Bohemian Rapsody" da vida (que filme!). Ou seja, para alguém que se põe a pesquisar e escrever sobre literatura, sou uma vergonha – talvez eu seja mesmo.
Para aliviar a tristeza dessa conclusão, nada que uma sessão de "Máquina Mortífera 2" não dê jeito.