InícioEsporteBasqueteDavilson: O basquete correndo nas veias

Davilson: O basquete correndo nas veias

Confira a história do garoto que cresceu nas quadras do Sesi e marcou seu nome no basquete araraquarense

O basquetebol é uma modalidade que mora no coração dos amantes do esporte de Araraquara, cidade que se orgulha de grandes nomes que surgiram em suas quadras. Principal ginásio local, o Gigantão já recebeu partidas antológicas de competições regionais, estaduais, nacionais e até internacionais, partidas essas que fazem dele um dos templos sagrados do basquete brasileiro. Mas poucas partidas ficaram tão marcadas para os torcedores quanto a final dos Jogos Abertos do Interior de 1999 entre Uniara e Casa Branca, em uma noite onde o Gigantão recebeu o maior público de sua história – aproximadamente 12 mil torcedores – para duas decisões, já que o Lupo/Náutico também atuou naquela ocasião. O vôlei levou a prata e o basquete 'incendiou' o ginásio com o ouro em um jogo emocionante, decidido no último minuto.

E se essa decisão foi memorável para os torcedores, o que dizer de um atleta, nascido em Araraquara, que teve participação fundamental no triunfo e que colocou o coração em cada jogada? Para Davilson, o resultado não podia ser outro no jogo mais marcante de sua carreira. A partida não teve sua importância resumida a uma medalha, já que a empolgação vista nos olhos do público após aquela vitória motivou uma nova fase do basquete araraquarense, que nos anos seguintes se tornou a grande sensação do esporte da cidade.

Davilson, que participou dessa fase evolutiva da equipe, se despediu das quadras em 2009 e hoje tem 42 anos de idade, curtindo uma nova etapa de sua vida. Em entrevista ao Portal Morada, ele falou sobre sua carreira, situações, times e planos para o futuro. Confira!

Primeiro contato

Davilson Mesquita Augusto nasceu em Araraquara no dia 28 de novembro de 1977. Os pais Domingos (in memorian) e Dalva também lhe deram dois irmãos: Diogo e Diego. Cresceu no Jardim das Estações e passou a maior parte de sua infância no Sesi, onde também estudou até a oitava série. 

E foi o Sesi que lhe proporcionou seu primeiro contato com o esporte que marcaria sua vida. "No Sesi, na década de 80, havia um incentivo muito grande ao esporte e várias equipes de treinamento. Na quarta série, eu com nove para dez anos de idade, recebi um convite do professor Paulo Gonzalez, então professor de educação física da escola e técnico da equipe de basquete do Sesi, pra conhecer a modalidade. Foi aí que me encantei. Acredito que o desafio de aprender um esporte tão complexo, cheio de regras e totalmente novo pra mim, foi que me fez continuar. Os desafios da vida sempre me motivaram e acho que esse foi o mais prazeroso de todos", relembra.

Geração inspiradora

O período em que Davilson começou a jogar basquete coincidiu com o melhor momento da Seleção Brasileira, que sagrou-se campeã dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis em 1987 sobre o poderoso time dos Estados Unidos. "Isso foi marcante na época. Vi Marcel, Oscar, Pipoca, Gerson, Guerrinha, Paulinho e Cadum ganharem dos Estados Unidos e fazer com que, nas Olimpíadas de 1992, a NBA convocasse a melhor equipe que já vi jogar. Com certeza essa seleção é muito especial. E mais tarde tive o prazer de conhecer todos eles e até estar na quadra com eles, jogando contra e até no mesmo time, que foi o caso do Maury, em Araraquara na Uniara. No entanto, assistir o final da carreira de Magic Johnson e o começo de Michael Jordan e o Dream Team foi também muito inspirador para a minha geração", observa.

Talento lapidado

As categorias de base de Davilson foram realizadas em clubes da cidade. Saiu do Sesi em 1992 para defender o Clube 22 de Agosto em 1993 e de lá partiu para o Clube Araraquarense em 1994. 

O jovem talento começou a brilhar pelas categorias de base de Araraquara, que na época terminava as competições entre as melhores equipes do estado de São Paulo, o que fazia do time uma grande vitrine para os clubes profissionais. Em 1995, ele recebeu uma proposta do Luso de Bauru, time que assim como o Clube 22 de Agosto, de Araraquara, perseguia o acesso à elite do basquetebol paulista. Lá ele faria dois anos como juvenil, porém no primeiro ano ele disputou o campeonato de sua categoria e já foi integrado ao time adulto para a disputa da divisão de acesso. 

E foi no time de Bauru que Davilson viu 'cair sua ficha' de que se tornaria um jogador profissional de basquete. "Lá em Bauru, quando era juvenil e jogava na equipe adulta, fui convocado para seleção estadual e, com o apoio da equipe e do técnico Caetano, comecei a enxergar meu futuro como atleta profissional", revela.

O início profissional

Nesse ano em que defendeu a equipe bauruense, o Clube 22 de Agosto subiu e no ano seguinte, em 1996, ele voltou para o time de sua cidade natal. Pelo 22, Davilson, mesmo ainda sendo um atleta juvenil, fez seu primeiro jogo no time profissional justamente na estreia da primeira divisão do Campeonato Paulista, em uma partida que teve transmissão de TV contra o então campeão estadual, o Nosso Clube de Limeira. O desafio daquela temporada se transformou em muito aprendizado. "Foi um ano de muita experiência e importância para minha carreira", resume. ele, que em 1997 disputou a segunda divisão estadual pelo time de São Carlos (time que voltaria a defender em 2005). 

Mas o ano de 1998 ficaria marcado para ele e para o basquetebol araraquarense. "Foi o ano em que levamos a Uniara à primeira divisão. Mais uma rica experiência na carreira, jogando além desse ano, mais duas temporadas pela equipe, já na divisão especial", conta. 

Em 2000, o araraquarense teve uma rápida passagem por Casa Branca e logo na sequência foi para o time de Limeira, onde atuou por quatro temporadas, inclusive marcando presença na final do estadual de 2003. "Em Limeira, tive uma ótima experiência com o armador Zanon, que lembrou de mim daquele primeiro jogo meu contra ele na TV, me dando a oportunidade de melhorar e firmar meu estilo de jogo", salienta.

Jogo mais marcante

"As duas oportunidades que tive na Uniara foram especiais. A primeira, que foi o início, e a segunda, que foi o final. Sempre quando precisaram de mim, estive presente", avalia Davilson, quando perguntado sobre o time de Araraquara, que defendeu nas temporadas de 1998, 1999 e começo de 2000, antes de retornar em 2006.

E o jogo mais marcante de sua carreira foi justamente um em que vestia a camisa da Uniara. Em 1999, o time chegou à final do basquete dos Jogos Abertos do Interior, que naquele ano foram sediados em Araraquara. Os torcedores lotaram as arquibancadas do Gigantão para acompanhar duas decisões: o Lupo/Náutico, que ficou com a prata ao perder a final do vôlei masculino pelo poderoso time do Report/Suzano, e a Uniara, que venceu Casa Branca e levou o público ao delírio com a medalha de ouro. 

Davilson brilhou naquele jogo e se orgulha ao lembrar da vibração do time e do público. "Sem dúvida, a final dos Jogos Abertos em Araraquara foi uma partida marcante pelo fato de eu estar defendendo minha cidade natal no ginásio do Gigantão completamente lotado e por sair com a vitória, no minuto final, com uma cesta de três pontos do Gary, em cima de Casa Branca, equipe que havíamos perdido a final do campeonato de acesso no ano anterior. Todos esses detalhes tornaram a partida gravada no coração de todos da equipe e dos torcedores amantes do basquete de Araraquara", destaca.

O time da Uniara

Davilson se orgulha de ter participado da construção do 'alicerce' do time que se tornou uma das maiores paixões do esporte de Araraquara. "Foi maravilhoso poder fazer parte do projeto da Uniara, de levar a equipe para a divisão especial. O projeto da Uniara começou bem de baixo mesmo, jogando a liga regional, que não participei, e depois a segunda divisão. Já éramos uma equipe entrosada da divisão de base, tínhamos alguns anos de entrosamento a nosso favor, mas nos faltava experiência como equipe. Foi quando a figura do Gary fez diferença. Eu e ele éramos os que tinham mais tempo de jogo naquele nível", lembra. 

"A vontade, garra e humildade dos demais de atenderem a tudo que lhes era proposto por nós fez da equipe uma atração no campeonato e na cidade. O mais difícil era controlar a molecada na quadra. Do resto, nos divertimos muito naquela temporada. Éramos uma verdadeira equipe, tínhamos o mesmo objetivo, nosso técnico nos dava muita liberdade na quadra e ao mesmo tempo trabalhava com cada um individualmente. Parabéns ao Onofre Held. A união entre todos era tão superior a tudo, que é difícil dizer com quem nos dávamos melhor. Eu me dava bem com todos e ao mesmo era o mais chato, pois cobrava muito de todos na quadra, claro, não mais do que cobrava a mim mesmo", reconhece Davilson.

Além das equipes citadas anteriormente, o jogador também vestiu as camisas do Vitória-ES (2006), Marechal Rondon-PR (2007), Ciudad del Este – Paraguai (2008) e do Campo Mourão-PR (2009).

A despedida das quadras

O ano de 2009 foi o último de Davilson como jogador profissional, que sofria com muitas dores por conta de muitos treinos de alta intensidade. "Quem esteve comigo em alguma oportunidade sabe como me dedicava aos treinamentos. Sempre fui assim desde quando comecei. Minha mãe brigava comigo todo dia porque eu ia para a aula no Sesi de manhã e só voltava às 22 horas, quando fechava tudo. Ela ficava preocupada em saber o que realmente eu estava fazendo, já que ela precisava trabalhar o dia todo, e acho justo. Mas quando foi pela primeira vez assistir um jogo meu, ainda na escola, ela concluiu facilmente que eu estava treinando bem mais que os outros em quadra", relata. 

Mas o que o fez pensar mais seriamente na aposentadoria foi o fato de, naquele momento, ficar longe de sua filha, que tinha quatro anos de idade. "É uma idade que, a meu ver, é essencial para os filhos terem seus pais por perto e, mesmo tendo uma boa proposta para jogar no Rio de Janeiro, decidi ficar mais perto da família, que naquele momento não podia ir comigo para o Rio. Acho que minha carreira foi boa, saí campeão paranaense e minha última temporada foi muito boa. Com certeza queria ter feito e alcançado mais coisas, mas fico feliz, pois Deus tem me abençoado muito", acrescenta o araraquarense.

Irmãos jogadores e o poder do esporte

Diogo e Diego, irmãos mais novos de Davilson, também se tornaram jogadores de basquete. Os três, aliás, chegaram a jogar juntos quando a ABA/Fundesport voltou com seu time adulto em 2015. Para Davilson, o fato de seus irmãos seguirem seus passos foi muito importante para sua família. "Tê-los no mesmo caminho que eu tornou o peso da educação de três filhos homens mais leve para meus pais, que depois da minha experiência, souberam que o esporte traz consigo valores extremamente importantes para todos. Valores que eles sempre se esforçaram para nos passar, mesmo com o tempo deles totalmente preenchido com trabalho que nos sustentava, já que não era fácil alimentar os três feras no garfo. Mas todo empenho valeu muito a pena pelo homens que nos formamos", completa.

O presente e o futuro

Quando deixou as quadras, Davilson começou a trabalhar em um estacionamento de um amigo que frequentava a mesma igreja. Ficou quatro anos lá e, com a ajuda do mesmo amigo, abriu o próprio estacionamento na Avenida Espanha, o VP Park, onde está há quase seis anos. "Hoje estou com 42 anos, faço Gestão Comercial na Fatec de Araraquara, me casei pela segunda vez, com minha atual esposa Renata, e temos o Davi, de um aninho, além da minha filha Daiane, que já vai fazer 15", conta.

E com tantos desafios superados ao longo de sua trajetória, não faltam planos para ultrapassar os obstáculos que virão pela frente. "Quero atuar na área que estudo, já que agora todos terão que trabalhar até mais tarde e tenho muito tempo de trabalho pela frente. Resolvi estudar, me qualificar e me preparar para o mercado, uma vez que faltam pessoas com esses requisitos no mercado. Do mais, continuar minha caminhada com Deus, que é o que tem me sustentado até aqui", conclui Davilson.

Confira abaixo fotos da carreira de Davilson.

 

 

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