InícioEsporteDudu: Um ídolo de afeanos e palmeirenses

Dudu: Um ídolo de afeanos e palmeirenses

Conheça a história do araraquarense que deixou sua marca no futebol brasileiro

Olegário Tolói de Oliveira, ou simplesmente Dudu, é dono de uma história gloriosa que envolve dois times que o têm como ídolo: Ferroviária e Palmeiras. O respeito conquistado não veio ao acaso. Hoje com 80 anos de idade, o ex-jogador nascido em Araraquara formou a maior dupla de meio-de-campo da história da Ferroviária ao lado de Bazani e também compôs a maior dupla de meio-de-campo do Palmeiras ao lado de Ademir da Guia. 

Em uma época cada vez mais distante em que os atletas davam o sangue dentro de campo pelo seu time, Dudu chegou a desmaiar quando levou uma bolada na cabeça enquanto estava na barreira em uma falta cobrada por Rivelino na final do Paulistão de 1974 contra o Corinthians. Apagou por dois minutos e não aceitou ficar fora do restante do jogo. Retornou ao campo justamente antes de outra falta e voltou à barreira, em um ato que motivou seus companheiros a se desdobrarem para vencer por 1 a 0 e levantar a taça de forma emocionante.

Terceiro atleta com mais partidas pelo Verdão – mais de 600 jogos -, ele teve sua grandeza eternizada com um busto inaugurado na sede do clube alviverde em 2016. Seu talento inspirou o sobrinho Dorival Júnior, que também foi meio-campista revelado pela Ferroviária e chegou ao Palmeiras, antes de se tornar um dos técnicos mais requisitados do Brasil.

Nesta reportagem, o Portal Morada traz a história de um dos maiores atletas nascidos em Araraquara. Confira!

O início

Olegário Tolói de Oliveira nasceu em Araraquara no dia 7 de novembro de 1939. Herdou o gosto pelo futebol de seu pai, João, que foi meio-campista no cenário amador. O pai, no entanto, faleceu aos 45 anos de idade, quando o garoto tinha apenas 13 anos. "Não tive a oportunidade de vê-lo jogar, mas dizem que era pesadão, gostava de chegar junto. Foi um momento difícil, me senti muito sozinho. Graças a Deus, tive o amparo da família e consegui tocar a vida", afirmou Dudu, em recente entrevista concedida à Revista do Palmeiras.

Para ajudar a mãe e a irmã em casa, Dudu começou a trabalhar em um escritório de contabilidade como entregador, função que exercia de bicicleta por Araraquara. "No tempo livre, gostava de jogar futebol de salão. Isso ajudou na minha formação como jogador. Na quadra, adquiri um bom domínio de bola e aprendi a driblar para os dois lados", revela o craque, que atuou por quatro anos no futebol amador pela Associação Desportiva Araraquara (ADA) .

A Ferroviária em seu caminho

Aos 19 anos, por intermédio de um tio, o jovem conseguiu um emprego de escriturário na Estrada de Ferro Araraquara (EFA), onde trabalhava de manhã. À tarde, treinava no time da empresa: a Ferroviária. "Não tinha o sonho de ser jogador. Sou um cara realista. Queria trabalhar e estudar. Minha ideia era me formar em contabilidade e prestar concurso. Via o futebol como uma diversão, um passatempo", destaca.

Mas a diversão começou a se tornar sua profissão em 1959, quando Dudu foi promovido ao time principal da Locomotiva. Sua estreia foi justamente contra o Palmeiras no Parque Antarctica, em confronto que terminou com a vitória do time da casa por 2 a 1. 

Naquele ano, com Dudu ao lado de Bazani e outros craques que marcaram época em Araraquara, a Ferroviária encantou e terminou em terceiro lugar no Paulistão (atrás apenas de Santos e Palmeiras), sendo essa a melhor colocação da equipe na história do estadual. 

O bom desempenho levou Dudu a ser convocado para a Seleção Paulista, que disputaria a competição nacional entre seleções estaduais. "Eu tinha 20 anos e já estava jogando com craques como Chinesinho, Coutinho, Djalma Santos, Pelé… Não era pouca coisa. Essa ascensão me fez enxergar que o futebol poderia ser a minha estrada", explica o ex-jogador, que marcou 40 gols com a camisa grená.

Dudu conta que o aprendizado na Ferroviária foi essencial para seu desenvolvimento pessoal e profissional. "Fiquei na Ferroviária até 1964. Foi um período muito importante para mim. Disputei cinco Paulistas e fiz duas excursões internacionais, na Europa e na América Central. Em 1962, fui deslocado da ponta para o meio-campo e passei a atuar como volante. Quando fui embora de Araraquara, já estava maduro, pronto para segurar o rojão", salienta.

Rumo ao Palmeiras

O futebol apresentado por Dudu na Ferroviária chamou a atenção de grandes clubes, como o Santos, que teve três tentativas frustradas de levar o craque, além do Flamengo e do São Paulo. Mas ele estava destinado a vestir a camisa do Palmeiras, time com o qual assinou contrato no dia 31 de março de 1964, mesmo dia em que teve início o regime militar no Brasil. 

Dudu relata que teve uma adaptação sem dificuldades por ter encontrado um ótimo ambiente no Parque Antárctica. "Os jogadores se respeitavam e tinham gana de vencer. Naquele tempo, nós não recebíamos grandes salários, mas o bicho e o prêmio por título eram bons. Isso nos motivava ainda mais", justifica.

O araraquarense passou os primeiros três meses como reserva de Zequinha, que havia sido reserva de Zito na Copa do Mundo de 1962. "Trabalhei quieto, esperando a minha chance. Quando o Zequinha se machucou, eu entrei no time e fiquei. Fui titular por 12 anos", resume.

Dudu relata que sua vontade de ganhar fazia com que ele corresse mais do que deveria. "Certa vez, o Djalma Santos me chamou para conversar com os outros jogadores da defesa. Eles me pediram para eu plantar na frente dos zagueiros porque a minha movimentação estava deixando o time exposto. Aceitei o conselho e procurei me aperfeiçoar", relembra o meio-campista, que foi convocado para a Seleção Brasileira um ano depois de chegar ao Palmeiras.

Amizade divina

No Verdão, Dudu formou uma dupla lendária com o 'Divino' Ademir da Guia. "Nós fizemos uma bela dupla porque nossas características combinavam. Eu auxiliava os laterais e zagueiros, enquanto ele tinha liberdade para municiar os atacantes. E, quando o Ademir estava muito marcado, trocávamos de papéis: ele recuava e eu ia para a frente", explica Dudu.

"No início, o Ademir era tímido. Não se abria, ficava mais calado, na dele. A partir de 1971, quando o Brandão chegou, passamos a dividir o quarto na concentração e desenvolvemos uma amizade que perdura até hoje", acrescenta.

Dudu e Ademir foram peças-chave de dois dos maiores times da história do Verdão. "A Primeira Academia gostava de dar espetáculo e, com essa forma de jogar, ganhou o Rio-São Paulo em 1965. Já a Segunda Academia praticava um futebol objetivo, mais focado no resultado. Entre essas duas equipes, prefiro a segunda porque ela durou mais tempo e conquistou mais títulos. Foram dois Brasileiros (1972 e 1973), dois Paulistas (1972 e 1974) e dois Troféus Ramon de Carranza (1974 e 1975)", analisa.

Líder do grupo

Dudu conta que o clima do elenco palmeirense era muito bom. Como ele era um líder do grupo, ficava responsável por resolver os problemas que surgiam internamente. "Eu me lembro de um jogo em Belo Horizonte em que perdemos para o Atlético-MG. Depois da partida, o César Maluco colocou umas bombinhas no corredor do nosso ônibus. Quando o Brandão entrou, as bombinhas começaram a estourar e foi uma barulheira só. O Brandão ficou p… da vida. Eu e o professor Hélio Maffia, que era o nosso preparador físico, tivemos de conversar com ele para o César não ser dispensado", revela.

O araraquarense define o ano de 1972 como o melhor de sua carreira, já que o alviverde faturou os cinco títulos que disputou: Brasileiro, Paulista, Mar del Plata, Laudo Natel e Taça dos Invictos. Para ele, o estadual ficou marcado por ter quebrado duas costelas durante um duelo contra o São Paulo. "Tentei desarmar o Terto e acabei caindo de costas sobre os calcanhares dele. Sentia uma dor terrível, mas não queria sair – nem o Brandão queria me tirar. Do lado de fora, ele gritava comigo: 'Abre os braços, velhinho, respira!'. Segui o conselho dele, mas, na hora em que abri os braços, puf… desmaiei. Não conseguia respirar direito e me levaram direto para o hospital. Lá, fiquei sabendo que o jogo terminou em 0 a 0, resultado que nos garantiu a taça", afirma.

Ao todo, o volante disputou 612 jogos com a camisa alviverde, marcou 25 gols e se tornou o terceiro jogador que mais atuou pelo clube na história, atrás apenas do próprio Ademir da Guia (902 jogos) e do goleiro Leão (620). Lá também foi três vezes campeão paulista pelo Palmeiras (1966, 1972 e 1974), duas vezes brasileiro (1972 e 1973), uma vez da Taça Brasil (1967), uma vez do Robertão (1967) e uma vez do Rio-São Paulo (1965).

Carreira encerrada

Entre 1975 e 1976, Dudu atuou pelo Sevilla, da Espanha, time pelo qual fez 13 jogos e marcou um gol, antes de retornar ao Verdão. Em 1976, o Palmeiras participou de três amistosos e, no último, Dudu sofreu uma distenção na virilha. "Quando cheguei em casa, falei para a minha esposa, Maria Helena, que ia parar. Ela caiu no choro", relembra o ex-jogador, que na ocasião tinha 37 anos.

Com a decisão anunciada, foi convidado pelo técnico Dino Sani a ser auxiliar técnico. Alguns meses depois, o treinador se desentendeu com a diretoria e deixou o comando técnico do clube, que foi assumido por Dudu. "A equipe vinha sofrendo muitos gols, então minha primeira missão foi arrumar a cozinha. Troquei o Didi, que era um meio-campista técnico, pelo Pires, um volante marcador. Devagarzinho, a defesa foi se firmando, o grupo ganhou confiança e conquistamos o Campeonato Paulista", se orgulha ele, que comandou o time até agosto de 1977.

Em 1978, Dudu chegou retornar aos gramados pelo Confiança-SE, mas pendurou a chuteira na temporada seguinte. Posteriormente, treinou Confiança, América-RJ, Desportiva-ES, Ferroviária, Ponte Preta, XV de Piracicaba, Juventude-RS, Coritiba, Sãocarlense e foi campeão da Segunda Divisão de 1986 (equivalente à Série A-2 de hoje) pelo Bandeirante de Birigui. Ele teve outras duas passagens como técnico do Palmeiras, em 1981 e em 1990, totalizando 142 jogos, com 75 vitórias, 45 empates e 22 derrotas.

Homenagens

O estatuto do Palmeiras possuiu, por muitas décadas, uma cláusula que proibia um jogador que já atuou contra o alviverde de ser homenageado com um busto no clube, o que impedia Dudu de ter essa honraria, já que diversas vezes enfrentou o Verdão com a camisa da Ferroviária. Entretanto, em 2015, a diretoria autorizou a mudança no estatuto, o que possibilitou a Dudu ser agraciado com um busto em 2016, com uma cerimônia realizada na data do seu aniversário.

Em Araraquara, Dudu foi homenageado no Centro de Treinamento do Pinheirinho, que leva seu nome. Lá, as equipes masculina e feminina, profissional e base, realizam seus treinamentos.

Aplaudido pelas duas torcidas

Em 17 de fevereiro do ano passado, quando Ferroviária e Palmeiras se enfrentaram pelo Paulistão 2019 na Fonte Luminosa, Dudu foi homenageado ao receber uma placa concedida pelo time araraquarense e entregue pelo presidente afeano Carlos Salmazo no intervalo da partida. 

No centro do gramado, o ídolo foi aplaudido de pé por mais de 10 mil torcedores de ambos os times, em um momento que ocasionou muita emoção. “A gente fica contente, pois a Ferroviária sempre estará no nosso coração. Sou de Araraquara e acredito que representei bem o que a Ferroviária fez nesses anos em que aqui estive fazendo dupla com Bazani, outra figura importantíssima para todos nós da cidade”, falou Dudu na ocasião.

Oitenta anos

Dudu comemorou 80 anos no dia 7 de novembro, esbanjando saúde. "Às quartas, sextas e sábados, trabalho na escolinha de futebol do Grêmio Esportivo Campo Grande, um time de várzea onde sou muito benquisto por todos. Eu vou até lá porque me sinto bem vendo a molecada jogar. O campo foi, e ainda é, a minha vida", conclui o craque, que hoje mora em São Paulo com a mulher, Maria Helena, e os filhos Gláucia e Marcelo.

 

Confira abaixo algumas fotos da vida do craque Dudu.

 

 

Carlos

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