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Eleição não é cheque em branco

"É a tática que está sendo usada para se apresentar projetos e políticas públicas que vão contra os interesses do povo, pois, pela correria da vida, a esmagadora maioria das pessoas não consegue acompanhar o dia a dia dos debates públicos, ficando à mercê das redes sociais dos associados e asseclas presidenciais."

Depois que, em uma entrevista como quem não queria nada, o Prefeito Edinho Silva (PT) soltou a informação que estuda mudar o regime de trabalho dos servidores públicos de Araraquara, um documento apareceu para confirmar não só o estudo, mas o desejo. Diferente do que está sendo veiculado, o documento é nítido em apontar uma ação concreta, é texto de uma proposta de mudança legal endereçada ao atual Presidente da Câmara Municipal, o Vereador Tenente Santana e não um estudo.

Esses movimentos dúbios e de desorientação do debate público temos acompanhado mais recentemente no Governo Federal sob a Presidência de Jair Bolsonaro. Ele, frequentemente, solta informações em suas lives ou entrevistas pré-planejadas para “testar” a opinião pública e até mesmo confundir e desqualificar seus adversários. É a tática que está sendo usada para se apresentar projetos e políticas públicas que vão contra os interesses do povo, pois, pela correria da vida, a esmagadora maioria das pessoas não consegue acompanhar o dia a dia dos debates públicos, ficando à mercê das redes sociais dos associados e asseclas presidenciais.

É a mesma coisa que estamos vendo aqui. Acabamos de sair de um processo eleitoral e este assunto, dada a importância e complexidade, não foi apresentado pelo atual Prefeito em nenhuma de suas inserções na mídia, tampouco em seus materiais gráficos. Outra questão que salta os olhos, é que a mudança não é demanda do Sindicato ou dos servidores, então quem, por cargas d’águas, está apresentando a necessidade de não pagar FGTS e de criar um Fundo próprio, por exemplo?

Edinho Silva, logo que assumiu o atual mandato em janeiro de 2017, pediu um encontro extraordinário da atual Legislatura para apresentar sua reorganização dos setores da Prefeitura, com cortes em secretarias e reorientação de funções como a extinção da Secretaria do Meio Ambiente e absorção, pelo DAAE, de algumas de suas tarefas. Tudo dentro dos conformes da política, menos que esta ação tão prioritária e importante não continha em seu programa de governo apresentado por toda a eleição de 2016.

Esse “desencontro” do que se diz e do que se faz é um dos principais motivos para desqualificar a ação política e afastar as pessoas dos debates públicos. É preciso que os governantes saibam que a eleição ou reeleição, no caso, não são cheque em branco. O que significa que mesmo (re) eleito o protocolo da participação social precisa ser cumprido, não como narrativa, mas como ação concreta. O debate precisa ser feito com franqueza e com a maior participação possível não só dos servidores municipais, os atingidos diretos, mas também de toda a população araraquarense que é quem vai arcar com os custos de qualquer erro administrativo causado pelos governos eleitos.

Soma-se à questão que esse assunto não pode ser abordado em meio as consequências de isolamento social da pandemia, muito menos a partir do anúncio da segunda onda da doença em todo o Estado de São Paulo. Além do mais, parte considerável dos atuais vereadores não foi reeleita, o povo de Araraquara decidiu por uma mudança significativa na composição do Legislativo local, que é o espaço, por excelência, dessa discussão. Então, a melhor postura, democrática e republicana, é deixar a estudo/desejo/proposição para 2021, com os ambientes social, possivelmente, melhor e o político com os novos vereadores, junto do Prefeito reeleito, do corpo técnico da Prefeitura e da Câmara, do Sindicato dos servidores e de toda a sociedade.

Matheus Santos

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