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Escolinhas de Esportes incentivam prática de crianças e adolescentes com deficiência

Gestor do projeto destaca benefícios que o esporte pode gerar em jovens com necessidades especiais

Com a realização das Paralimpíadas de Tóquio, os olhos do mundo se voltam para os atletas com deficiência, um público acostumado a lutar diariamente contra a falta de incentivo e apoio. Em Araraquara, entretanto, o esporte paralímpico tem vez. Prova disso é o desempenho das equipes de atletismo e natação ACD (sigla criada para denominar os atletas com deficiência), que costumam colecionar medalhas nas competições em que representam a cidade.

O projeto Escolinhas de Esportes também incentiva a prática de crianças e adolescentes com deficiência, porém nenhuma se inscreveu desde o início das inscrições, em 4 de agosto. Por isso, o gestor das Escolinhas, Júlio Cézar Invenzioni Alexandre, conta que as portas estão abertas para elas e que o trabalho inclusivo é uma das marcas do projeto. "Dentro das Escolinhas, nós sempre vamos dar um jeito de adaptar se houver alguma criança com necessidades especiais. Não temos uma escolinha específica, porém trabalhamos com inclusão social, tanto que vamos fazer capacitações com especialistas na área para entendermos melhor a necessidade de cada aluno", explica.

O gestor, que também é professor de taekwondo, citou experiências positivas em sua modalidade. "Eu tive aluno cadeirante, aluno com Síndrome de Down, com autismo mais severo, e tivemos progresso", relembra.

Em um dos casos, o garoto Augusto Ferreira Neto fazia os exercícios de taekwondo com o auxílio do pai, já que ele não conseguia levantar a perna e não conseguia andar. Com o passar do tempo e com a prática das atividades, ele conseguiu executar diversos movimentos e inclusive dar alguns passos sozinho. "Ele é um exemplo claro de que realmente dá para fazer e isso depende do desejo do aluno e da boa vontade do professor. Toda vez que ele conseguia alguma conquista, a classe toda comemorava e isso o deixava extremamente motivado. Então as crianças e adolescentes têm que saber que o esporte é para eles. Eles têm que ter essa vivência e essa participação no esporte, não apenas no aspecto físico, mas no aspecto afetivo e de socialização", acrescenta Júlio. "Sabemos que eles ficam meio retraídos e eles mesmo, por si só, se sentem excluídos, mas é preciso incentivar", completa o gestor.

Atletismo e natação são referências

Em Araraquara, as modalidades que contam atualmente com equipes de competição ACD são o atletismo e a natação. O técnico e coordenador da equipe de competição de atletismo da Fundesport, José Rogério Figueira, destaca a importância da Paralimpíada para atrair novos praticantes. "A evolução do esporte passa muito pela Paralimpíada. A divulgação das modalidades é um fator importante para as crianças conhecerem e se interessarem em vivenciá-las. Isso precisa de um trabalho muito forte por parte dos meios de comunicação e das mídias sociais", explica o treinador, que acrescenta que a equipe ACD de Araraquara conta atualmente com dez atletas e treina para voltar a competir em novembro.

Ele conta que o trabalho em torno da criança será planejado e desenvolvido de acordo com sua deficiência. "Tudo depende da deficiência da pessoa. Por exemplo, se for um cadeirante que queira lançar peso, sua cadeira deve ser fixada no chão. Se for uma pessoa que consegue correr ou se locomover, o treinamento pode ser feito de forma conjunta. Mas de uma forma geral, costumamos sempre treinar juntos para que tenha uma interação entre eles", descreve.

José Rogério valoriza o esporte como elemento transformador da vida das pessoas e por isso deixa seu recado às crianças e adolescentes com deficiência. "É muito importante todas as crianças vivenciarem o esporte, que é um meio de interação e de aprender a ganhar ou perder. É uma maneira de conhecer e de superar seus limites, sem contar as experiências de amizade que ele gera, visto que é praticado sempre em um ambiente legal e que proporciona a fazer viagens, conhecer lugares. O esporte também abre portas e gera oportunidades. Temos o exemplo no próprio Ginásio da Pista de pessoas que fizeram faculdade por conta do atletismo. Tudo isso favorece a vivência no esporte e por isso todas as crianças deveriam participar, até mesmo por uma questão de saúde, para que elas não se tornem adultos sedentários", completa.  

Josimar Alipio da Silva, auxiliar técnico do atletismo ACD de Araraquara, explica que a iniciativa também pode partir dos pais das crianças. "Hoje vivemos em um mundo evoluído tecnologicamente e essa tecnologia traz segurança para quem pratica e para quem aplica. A deficiência não pode ser um empecilho para descobrir algo novo. Temos atletas deficientes que não sabiam o que é um banheiro de hotel, pois não havia expectativa para a vida, e hoje vivem o mundo como qualquer outra pessoa", destaca.

 

Exemplos de sucesso

Exemplos de sucesso não faltam em Araraquara, de onde saíram nomes que chamaram a atenção no cenário nacional e internacional do paradesporto. Um deles é o ciclista Lauro Chaman (com uma má formação na perna), que nasceu na cidade e atualmente compete por Santos. Ele conquistou uma medalha de prata e uma de bronze nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e atualmente disputa os Jogos Paralímpicos de Tóquio. Outro paratleta acostumado a brilhar é o nadador Alex Palhares Viana (com deficiência visual), dono de mais de 300 medalhas, algumas delas conquistadas em Mundiais e Parapan. De Araraquara também saíram Mateus Lima (má formação na perna), que é o recordista brasileiro da corrida de 400 metros F44, e Pablo Furlan (baixa visão), que foi vice-campeão mundial juvenil, além de outros nomes de destaque.

Outro exemplo de sucesso é o técnico Alex José Sabino, que foi um dos criadores da equipe de atletismo ACD de Araraquara, dono de um trabalho que o levou a ser convidado a trabalhar com atletas de alto rendimento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Hoje, ele é um dos técnicos do atletismo brasileiro nas Paralimpíadas de Tóquio.

Vale salientar ainda que, nos últimos anos, as medalhas conquistadas pelas modalidades ACD passaram a integrar o quadro de medalhas juntamente com as modalidades convencionais dos Jogos Regionais e Abertos do Interior, por isso os atletas com deficiência do atletismo e da natação de Araraquara costumam ajudar a cidade a terminar sempre entre as primeiras colocadas dessas disputas.

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