Em tempos de pandemia, ficamos nos perguntando como podemos oferecer as crianças experiências capazes de proporcionar a elas aprendizagens significativas, mas que fujam dos conteúdos oferecidos pelas mídias. Sabemos que, infelizmente, muito tempo das crianças tem sido gasto na frente das telinhas, tanto recebendo conteúdos escolares, como em jogos on-line, ou assistindo vídeos e desenhos. Porém, pais e responsáveis também podem proporcionar às crianças brincadeiras diversas que favoreçam, por exemplo, uma aprendizagem mais sensorial. Uma aprendizagem que utiliza todos os sentidos. Porém, devemos ter alguns cuidados para não interferir e atrapalhar a experiência.
Devemos entender que a criança, principalmente na primeira infância, se relaciona com o mundo através da imaginação. As coisas, para elas, têm vida própria. Vemos a criança embrulhar a boneca com paninhos ou colocá-la sob a coberta porque sabe que está com frio; conversar seriamente com um gato, ouvindo atentamente suas respostas, ou falar com suas panelas enquanto cozinha. Esses são exemplos de como a criança se encanta nessa realidade. Cada aspecto, de cada experiência, traz um nível de conteúdo ou de inter relação com a visão que ela tem das coisas. A criança brinca com a totalidade da experiência, sem buscar explicação, sem quantificar ou qualificar. Ela quer somente viver a experiência.
Aí, chega o adulto e pergunta, por exemplo: O que você mais gostou de fazer? Com essa pergunta o adulto quer que a criança retire da totalidade da experiência, um fragmento, que faça um recorte. E isso faz com que a experiência perca toda a sua força encantatória, esvazia toda a percepção intuitiva que tem como finalidade fazer todos os sentidos trabalharem juntos naquela vivência. No tempo da primeira infância ainda não existem as maturações do recorte e da especificidade. A criança vive a experiência em sua totalidade.
Enquanto cozinha com o barro, misturando terra, água, folhas e flores, a criança sente as diferentes texturas, o aroma que se desprende da terra e das plantas, o paladar (colocando os dedinhos na boca para horror dos responsáveis), observa as cores enquanto prepara ou enfeita seus pratos e, por fim, acompanha os sons que emanam dessa meleca toda. Uma experiência completa, que produz uma grande sujeira e uma enorme aprendizagem. Para além de trabalhar todas as sensibilidades do corpo, vendo, ouvindo, cheirando, tateando e saboreando, a criança também estará memorizando a experiência através da afetividade e dos devaneios.
Quando tentamos fazer a criança particularizar a experiência de cozinhar, ela vai nos dar uma resposta atendendo a nossa expectativa, mas vai estar perdendo todo o encantamento da totalidade. Ela não quer ter que nos explicar a brincadeira, ela espera que nos sentemos junto, peguemos um prato e finjamos estar degustando a comida. Ficará atenta aos nossos sons de satisfação ou de susto ao sentir a comida muito ardida. E rirá ao nos ver abanar a língua.
A real potência da fantasia está em deixá-la nascer com naturalidade. E essas experiências brincantes vão dar, a criança, oportunidade para se constituírem na vida.