Até os 4 anos de idade, a rotina da pequena Valentina era como a de tantas crianças da mesma idade. Em meio às brincadeiras em casa, no Jardim Arangá, em Araraquara, ela frequentava a escola, fazia balé e natação.
Foi quando a mãe, Iara Cristina Vieira da Silva, detectou algumas manchas no corpo da menina que indicavam uma possível alergia. Após o primeiro atendimento no setor de urgência e emergência, que descartou o quadro alérgico, foram constatadas alterações hematológicas severas, que exigiu um encaminhamento para uma unidade especializada.
A família, então, foi atendida pelo Hospital Amaral Carvalho, de Jaú, referência nacional no tratamento do câncer porque a suspeita era de que a criança estivesse sendo acometida por uma leucemia. O diagnóstico, no entanto, que só foi possível após 30 dias de internação, apontou aplasia medular.
A doença, também conhecida como anemia aplástica, afeta a medula óssea e provoca uma produção reduzida de células. O caso da garota Valentina é ainda mais grave: o organismo não produz novas células. Com isso, o tratamento possível é o transplante de medula óssea.
Em casos assim, a maior dificuldade é encontrar um doador compatível. A primeira busca – e também a maior probabilidade – é no núcleo familiar imediatamente mais próximo. Segundo a
Associação da Medula Óssea do Estado de São Paulo (AMEO), nos transplantes de medula não é obrigatório que doador e receptor tenham a mesma tipagem sanguínea (A, B, O, AB), pois são transplantadas as células-tronco que fabricam o sangue. Se, por exemplo, o paciente tem tipagem A e o doador tem tipagem B, depois da pega da medula o paciente vai aos poucos trocar a tipagem dos seus glóbulos vermelhos para produzir sangue de tipagem B.
A Associação, em sua página oficial, explica que a compatibilidade necessária nos transplantes de medula chama-se HLA (Human Leukocyte Antigen), que está no nosso código genético e leva à produção de proteínas que ficam em todas as células do corpo.
Herdamos nossa tipagem HLA metade do pai e metade da mãe. Assim, cada irmão tem 25% de chance de ter herdado a mesma tipagem HLA de seus pais. Dois irmãos que herdaram o mesmo HLA dos pais são irmãos com HLA idêntico. Se somente a parte de um dos pais foi herdada igual, chama-se “haploidêntico”. Irmãos de mesmo pai e mesma mãe têm 25% de chance de ter herdado a mesma tipagem HLA. Transplantes entre irmãos são feitos há quase 50 anos e tem os melhores resultados.
No caso da menina Valentina, o número de doadores potenciais se reduziu. Com o pai falecido, foram feitas as análises da mãe e de um irmão por parte de pai. A mãe apresentou uma compatibilidade de 50%, enquanto o meio-irmão de cerca de 30%.
Em casos assim, é comum se buscar pessoas compatíveis na base de voluntários cadastrados. Atualmente, no Brasil, são cerca de 5 milhões de doadores incluídos no REDOME – Registro de Doadores Voluntários de Medula Óssea.
Enquanto aguarda um doador compatível, Valentina segue internada em Jaú, onde está já há cerca de dois meses. A família reforça o apelo para que mais pessoas se cadastrem no sistema nacional de doador de medula para que, além de aumentar as chances da menina, outras pessoas possam ser salvas no país.
Para obter informações sobre como coletar material para ser um doador, basta entrar em contato com o hemonúcleo mais próximo. Em Araraquara, o Hemonúcleo Regional de Araraquara “Professora Doutora Clara Pechmann Mendonça” atende por meio do telefone (16) 3301-6102, das 7h10 as 16h. Em Jaú, o Hemonúcleo situa-se no Hospital Amaral Carvalho e atende por meio dos telefones (14) 3602-1355 ou (14) 3602-1356.