Era mais uma manhã normal na vida de Joice. Casada, no terceiro mês de gravidez, vivia a alegria da descoberta da gestação junto ao marido. O bebê não era planejado, mas era sonhado. Estava ali o sonho, sendo gerado.
Joice tinha 29 anos, formada, trabalhava como autônoma, saudável. Naquela noite, sentiu uma dor de cabeça e deitou. Da sala, o marido ouviu Joice gritar. Correu e a encontrou desmaiada, acionando o socorro. Foi parar no hospital.
Um lado do corpo paralisado, confusa, Joice teve o diagnóstico de AVC isquêmico. Dois dias depois, ao ouvir do médico o que tinha acontecido, gargalhou. Como teria acontecido isso com ela, que era ativa, jogava vôlei, tinha boa saúde?
Tinha acontecido. De acordo com o médico, era possível, precisava fazer exames, o bebê corria risco. A "leoa" baixou na mãe de primeira viagem e passou a discutir: "se faz mal ao bebê, não farei exames". Entraram num acordo e ela fez as ressonâncias com proteções extras na barriga. Não iria abrir mão de seu bebê.
Joice saiu do hospital com o lado esquerdo do corpo paralisado, com encaminhamento para fisioterapia e com a gestação classificada como de alto risco.
Conforme a barriga crescia, a mãe de primeira viagem foi se recuperando do avc. Voltou a caminhar, devagar, e com ajuda do marido e da família voltou a fazer leves tarefas.
Até o final da gravidez, Joice precisou tomar injeções diárias na barriga: todo dia, uma agulhada. Os medicamentos eram necessários para que ela não tivesse outro acidente vascular cerebral.
Foram dias de aprendizado, de temores, mas também de muito carinho. Ao saber que vinha uma menina, o nome já estava definido: Sarah.
Em outubro de 2017, Joice foi para a maternidade. Com 39 semanas, o parto teria que ser induzido. Sem sucesso, foi necessária uma cesariana. O procedimento era arriscado.
Sarah nasceu, perfeita. Mas a mãe Joice ainda sangrava, preocupando os médicos. Feita a sutura, as enfermeiras ainda cuidaram para que o sangramento parasse. E parou.
Fora da maternidade, a vida seguiu. Joice se recuperou, voltou a trabalhar, Sarah cresceu saudável e foi para a creche. Tudo deu certo.
Sarah vai completar 4 anos em breve. A mãe ainda sente o cheiro do centro cirúrgico e da recém-nascida em seu rosto.
"O que uma mãe sente por um filho é algo que explode no peito, transcende", diz.
Joice enfrentaria tudo de novo para ter em sua vida um amor que jamais havia sentido. Era o amor de mãe guerreira pela filha.
– Ouça o episódio especial Mães Guerreiras do podcast Enteados: https://bit.ly/33hYeS7
De segunda a sexta, uma história por dia na programação da Rádio Cultura durante o mês das mães. Saiba mais sobre a história da Joice no nosso programete especial: https://bit.ly/3xPyFWu