Élio Neves, o mais influente líder sindical da região de Araraquara, ligado à questão agrária e rural, foi denunciado pelo Ministério Público pela prática de peculato – desvio de dinheiro para benefício próprio. Segundo a promotoria, ele e Sidnei Munhoz Rastelli, ex-tesoureiro da FERAESP (Federação dos Empregados Rurais de Assalariados do Estado de São Paulo), braço direito do sindicalista, “desviaram, em proveito próprio e do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara, no qual também ocupavam os mesmos cargos, ao menos a importância de R$ 2.653.978,05”.
Élio Neves é presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara e exerceu, entre setembro de 2014 e fevereiro de 2016, a presidência da FERAESP. Nesse mesmo período, Sidnei Munhoz acumulou a função de contador das duas entidades, exercendo, inclusive, a gestão financeira da FERAESP por meio de procuração que lhe foi conferida por Élio na condição de presidente.
Para a promotoria, “essa ligação de amizade e conluio entre ambos já vinha de há muito tempo, uma vez que por mais de uma década exerceram essas funções, o que permitiu construírem um laço de confiança e confidencialidade capaz de permitir a malversação e dilapidação do patrimônio da FERAESP, causando vultoso prejuízo à entidade, a ponto de ser convocada Assembleia Geral para a destituição de ÉLIO do cargo de presidente”, afirma Marcel Zanin Bombardi, 8º Promotor de Justiça de Araraquara
Neves renunciou ao cargo em dezembro de 2016, quando as irregularidades foram constatadas pelos diretores da unidade. Após a saída, uma auditoria contábil e administrativa apurou “malversação e dilapidação” do patrimônio da entidade na ordem de mais de 6 milhões de reais. Entre as práticas que configurariam os crimes, estão pagamentos indevidos realizados para uma cooperativa presidida por Élio Neves, pagamentos a título de auxílios financeiros a pessoas sem relação com a Federação, gastos efetuados com familiares, gastos com equipamentos de propriedade de terceiros e a aquisição de livros que nunca foram localizados no acervo da entidade, no valor de R$ 150 mil. Além disso, foram detectados pagamentos de honorários indevidos ao ex-tesoureiro e sua mulher, além da contratação de serviços advocatícios para Silvia de Castro, ex-esposa de Élio Neves.
O promotor relata no inquérito que “foi possível constatar que ambos [presidente e tesoureiro], agindo de comum acordo e identidade de propósitos, desviaram recursos financeiros da entidade (FERAESP), de que tinham a posse em razão do cargo que ocupavam, em proveito do Sindicato dos Empregados Rurais de Araraquara, no qual os denunciados mandavam e desmandavam, também na qualidade de presidente e contador, podendo desses recursos se aproveitarem mais facilmente sem serem descobertos”.
Élio Neves exerce a presidência dos sindicatos dos trabalhadores rurais por mais de 30 anos. Para a promotoria pública, o líder foi “reiteradamente conduzido ao cargo em assembleias marcadas para tal fim, com a aprovação das contas de maneira formal, sem qualquer conferência efetiva, diante da confiança que gozava de todos, diante da sua habilidade política e de seu jeito envolvente, mantendo todos sob suas ordens”.
O caso será analisado pela 1ª Vara Criminal de Araraquara.
Ex-presidente fala em "acusação política"
Na ocasião da denúncia, Élio Neves afirmou que são “fruto de traição política”. “De imediato declaro que: SOU INOCENTE nenhum desvio pratiquei e as acusações é fruto de traição política praticada pelos atuais dirigentes quanto ao projeto original da FERAESP”, afirmou.
“A gestão administrativa da FERAESP por força estatutária é colegiada e a responsabilidade pelo manejo financeiro cabe ao tesoureiro geral auditoria noticiada realizou-se unilateralmente no interesse dos atuais dirigentes visando apagar a história, macular os fatos e manchar de forma a destruir minha imagem”, declara.
Élio Neves conclui dizendo que não cabe à ninguém “fazer justiça por conta própria e nenhum fato pode ser julgado com a versão de apenas um lado. Neste caso me resta o judiciário como caminho a ser trilhado onde certamente terei garantido legitimo processo legal e direito de defesa, direitos até aqui subtraídos”.
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