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MPF pede arquivamento de investigação sobre suposto financiador de hackers da Lava Jato

Segundo o MPF, testemunhas não foram capazes de comprovar a participação de Palocci ou de outros agentes no caso

O procurador Welligton Divino Marques de Oliveira requereu o arquivamento de um inquérito sobre um possível mandante e financiador ‘que tenha prestado auxílio moral e intelectual’ ao grupo de hackers (incluindo Walter Delgatti, o "hacker de Araraquara"), que interceptou mensagens de autoridades como o ex-juiz Sérgio Moro e ex-integrantes da extinta força-tarefa da Operação Lava Jato. O pedido foi justificado na ‘inexistência de linha investigativa hábil a comprovar a hipótese criminal’.

A manifestação da Procuradoria foi elaborada no âmbito de inquérito que trabalhava com a hipótese criminal do suposto envolvimento do ex-ministro Antônio Palocci (governos Lula e Dilma) como ‘possível financiador da empreitada criminosa’. A Polícia Federal pediu o arquivamento do caso apontando que ‘extenso rol de diligências’ não foi capaz de comprovar tal linha investigativa.

Segundo Oliveira, testemunhas arroladas no âmbito das apurações também não corroboraram a hipótese. Além disso, o parecer da Procuradoria diz que não foram identificadas conversas no nome do ex-ministro no material apreendido na Operação Spoofing, ‘indicando que não ocorreu participação’ de Palocci ou de outra pessoa envolvida.

O documento enviado à 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal no dia 12 de abril ressalta laudo elaborado pelos investigadores, o qual ‘não identificou um possível agente que tenha solicitado ou determinado aos investigados a invasão aos dispositivos eletrônicos de autoridades públicas oferecendo ou fornecendo uma contrapartida financeira para a prática dos delitos investigados, tendo como objetivo embaraçar investigações criminais envolvendo organizações criminosas’.

As apurações debruçaram sobre dados bancários e informações colhidas na própria operação Spoofing, observando que, a ‘movimentação bancária atípica identificada, é decorrente de atividades ilícitas relacionadas com fraudes e furtos eletrônicos que ainda é alvo de investigações em Inquérito Policial junto ao Departamento de Polícia Federal no Distrito Federal’.

A manifestação do MPF-DF narra ainda que foram empreendidas diligências no sentido de identificar possíveis pedidos de invasão ou direcionamento das atividades praticadas pela organização criminosa denunciadas na Operação Spoofing.

Segundo Welligton Divino Marques de Oliveira, em julho de 2021, a Polícia Federal concluiu: “Analisadas, nos e-mails e demais materiais apreendidos, bem como nas movimentações financeiras realizadas e, confrontando, essas transações com o conteúdo examinado não foi possível identificar um agente que tenha requerido aos réus que iniciassem ou continuassem as invasões aos dispositivos sob o fornecimento de qualquer tipo vantagem ou promessa de fornecê-la”.

O vazamento

Delgatti o "Vermelho", foi um dos principais alvos da investigação do MPF que mirou grupo de hackers que invadiu celulares de autoridades, atingindo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e procuradores que atuaram na força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. Segundo a denúncia apresentada no âmbito da Operação Spoofing, “Vermelho” seria responsável “direto e imediato” por 126 interceptações telefônicas, telemáticas ou de informática e por 176 invasões de dispositivos informáticos de terceiros. O “grupo de Araraquara” foi indiciado em dezembro de 2019, quando a Polícia Federal entregou o relatório conclusivo da Spoofing, documento com 177 páginas.

Renan Calheiros e o pedido de anistia 

Em 23 de março deste anos, o senador Renan Calheiros (MDB) utilizou as redes sociais para defender Walter Delgatti. Segundo reportagem publicada pela Revista Fórum, a motivação para o fato seria a condenação de Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“Walter Delgatti, o hacker que denunciou as delinquências da Lava Jato, mudou a história do país. Ele possibilitou as punições, ainda brandas, que estamos vendo e mostrou quem eram Sergio Moro, Deltan Dallagnol e sua turma. É hora de retomar o projeto que apresentei para anistiá-lo”, postou Renan Calheiros. 

Dallagnol foi condenado a pagar indenização de R$ 75 mil (fora as correções) ao ex-presidente Lula (PT) pela apresentação de um Power Point, em 2016, que apontava o petista como chefe de quadrilha. 

Durante entrevista ao Fórum Onze e Meia, Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado de presos políticos à época da ditadura, comemorou a condenação de Dallagnol e fez um alerta: “Isso só descortinou o pequeno véu do que há por trás das ações da Lava Jato”. Greenhalgh lembra que Delgatti era defensor da Lava Jato, mas “tomou um choque de realidade” e acrescentou que torce para que o povo brasileiro tenha acesso à íntegra da Operação Spoofing.

“É importante para mostrar como funcionavam as articulações da Lava Jato e da força-tarefa com Moro”. O advogado destacou, também, o papel de Delgatti nas revelações feitas pela Operação Spoofing e lembrou uma curiosidade: “O hacker era defensor da Lava Jato, fã do Moro e chegou a assistir uma palestra do Dallagnol em Ribeirão Preto-SP. Ele gostou tanto do Dallagnol que decidiu entrar nos grupos dele. Foi então que teve um choque de realidade”, afirmou Greenhalgh.

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