InícioEsporteO dia em que a Ferroviária encarou a Seleção

O dia em que a Ferroviária encarou a Seleção

Jogo-treino fez parte da preparação para a Copa de 1962

O ano de 1962 está marcado na história do futebol brasileiro pelo bicampeonato mundial da Seleção, conquistado na Copa do Chile. A conquista também faz parte da história da Ferroviária, que teve sua parcela de colaboração. Isso porque o futebol apresentado pelo time araraquarense naquela época chamou a atenção da comissão técnica do selecionado, que fez o convite para um jogo-treino que integrou a preparação.

Naquele ano, o povo brasileiro ainda vibrava com a inédita conquista da Copa do Mundo anterior, de 1958 na Suécia, onde encantou o planeta com um futebol envolvente e ofensivo. Para tentar repetir a façanha, a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD) tentou manter a mesma comissão técnica e conseguiu segurar quase todos os integrantes, com a única exceção do próprio treinador, Vicente Feola, que teve problemas cardíacos e acabou substituído por Aymoré Moreira. Moreira, aliás, viria a comandar a Ferroviária 15 anos depois, em 1977, quando salvou o time grená do rebaixamento no Paulistão. 

O sistema de preparação em 1962 era bem diferente do atual, embora com o mesmo propósito de fazer o time focar somente nos treinamentos e contornar o favoritismo. Assim, foram convocados 41 jogadores para o período de preparação que iria de março a maio e que teria etapas de treinos nas cidades de Campos do Jordão-SP, Nova Friburgo-RJ e Serra Negra-SP. Por conta do alto número de atletas – quase quatro por posição -, os cortes eram anunciados toda semana. Após as etapas de Campos do Jordão e Nova Fiburgo, apenas os 22 atletas confirmados no Mundial chegaram a Serra Negra, onde o time permaneceu concentrado.

A presença da Seleção Brasileira parou a cidade de Serra Negra nos meses de abril e maio daquele ano. Durante a preparação, a Seleção disputou a Taça Oswaldo Cruz, que se tratava de dois amistosos contra o Paraguai. O Brasil não decepcionou e aplicou duas goleadas: 6 a 0 no Rio de Janeiro e 4 a 0 em São Paulo.  

Por que a Ferroviária?

Além de possuir experiência internacional com suas viagens à Europa e Àfrica em 1960, a Ferroviária vinha de campanhas brilhantes no Paulistão, com participações que a credenciaram duas vezes como o melhor time do interior. 

A terceira colocação no estadual de 1959 (atrás apenas de Palmeiras e Santos e que até hoje é a melhor campanha da Locomotiva) e o quinto lugar em 1961 (atrás de Santos, Palmeiras, São Paulo e Portuguesa) fizeram a AFE ser apelidada de 'Academia do Interior' e chamaram a atenção da CBD. O convite para o clube que acabava de completar 12 anos de fundação gerou grande comemoração entre o povo araraquarense. 

O encontro

No ensolarado dia 29 de abril, 800 torcedores se dirigiam ao pequeno Estádio Municipal de Serra Negra para conferir de perto a Seleção Brasileira em ação contra a Ferroviária. As duas comissões técnicas entraram em um acordo para dividir o jogo-treino em três etapas de 40 minutos cada.

Na primeira, o time azul do Brasil, considerado reserva, empatou por 0 a 0 com a Ferroviária. Na segunda, se enfrentaram o time azul e o time amarelo, considerado o titular da Seleção, e mais uma vez o placar permaneceu inalterado. Na terceira etapa, o time amarelo do Brasil venceu a Ferroviária por 2 a 0, com os dois gols marcados por Didi, um de pênalti e um de falta.

A atuação afeana no teste rendeu elogios de várias publicações pelo Brasil, entre elas o jornal A Gazeta Esportiva. O periódico do dia seguinte apresentou uma análise dos jornalistas Amaury Medeiros e Silvio Corrêa, que apontaram grande equilíbrio nos embates. Segundo eles, a atividade exigiu muito do setor defensivo da Seleção, uma vez que a Ferroviária não se contentou em se guardar na defesa, e também mostrou grande dificuldade por parte do Brasil em conseguir espaços na zaga afeana.

Viagem

Antes de viajar para sua missão no Chile, a Seleção Brasileira ainda realizou dois amistosos contra Portugal e dois contra o País de Gales, todos vencidos. Após seu último amistoso, a delegação foi recebida por várias autoridades, entre elas o presidente da época, João Goulart. No Chile, o selecionado brasileiro realizou mais atividades contra os times chilenos do Wanderers (empate por 2 a 2) e do Everton (vitória brasileira por 9 a 1). 

 

Deu sorte

Após a preparação, o Brasil confirmou o favoritismo e levantou a taça da Copa do Mundo pela segunda vez. A Ferroviária também teve um ano positivo, já que encerrou o Paulistão novamente como a melhor equipe do interior: na sexta posição, atrás de Santos, São Paulo, Corinthians, Palmeiras e Portuguesa. Naquela ocasião, no entanto, o Troféu de Campeão do Interior ainda não havia sido implantado, o que só veio a acontecer em 1965. Por isso, mesmo terminando algumas vezes como o melhor time abaixo dos grandes, a contagem oficial conta somente os anos de 1967, 1968 e 1969, que fizeram o time se consagrar como Tricampeão do Interior. (Com pesquisa do jornalista Alessandro Bocchi).

FORMAÇÕES

BRASIL 0 x 0 FERROVIÁRIA

BRASIL (AZUL): Castilho, Jair Marinho, Mauro, Calvet e Altair; Zequinha e Mengálvio; Jairzinho, Quarentinha e Germano.

FERROVIÁRIA: Toninho, Ismael, Antoninho, Mario e Zé Maria; Dudu e Bazani; Peixinho, Laerte, Aurélio e Beni.

BRASIL 2 x 0 FERROVIÁRIA

BRASIL (AZUL): Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Jurandir e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. 

FERROVIÁRIA: Toninho, Ismael, Antoninho, Rodrigues e Zé Maria; Dudu e Bazani; Mateus, Laerte, David e Beni.

 

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