Por: BBC Brasil
O nome pode até parecer difícil, dieta cetogênica. Mas a explicação é simples: trata-se de um regime alimentar que prevê um alto consumo de gordura e de proteína e uma baixa ingestão de carboidratos, defendido recentemente como uma forma eficaz de emagrecer.
"A perda de peso é a principal razão pela qual meus pacientes usam a dieta cetogênica", diz o médico Marcelo Campos, professor da Escola de Medicina da Universidade Harvard, nos EUA.
"Muitos pacientes me perguntam: 'É segura? Você recomendaria?'", escreve Campos no início do artigo "Dieta cetogênica: a última dieta com baixo teor de carboidratos é boa para você?", publicado no fim do mês passado na Harvard Health Publications, revista da escola.
Sua conclusão é que ela se mostrou eficiente na perda rápida de peso, mas seus efeitos no longo prazo, inclusive à saúde, são desconhecidos. Ou seja: é preciso fazer algumas considerações antes de decidir aderir.
Tratamento da epilepsia
A história dessa dieta é um pouco mais antiga, e não necessariamente ligada ao emagrecimento – por muitos anos, ela esteve vinculada ao tratamento de casos de epilepsia resistentes a medicamentos.
Em 2008, publicações científicas estamparam a notícia: "Uma dieta especial rica em gordura ajuda a controlar os ataques de epilepsia em crianças".
Era o que defendia um estudo britânico publicado em maio daquele ano na revista científica The Lancet Neurology. Segundo a pesquisa, a intensidade dos ataques epilépticos caiu consideravelmente em crianças e adolescentes após a adoção da dieta cetogênica.
Entre quem seguiu a dieta, as crises convulsivas se reduziram em dois terços. Já entre quem manteve a dieta normal, as convulsões continuaram ocorrendo com a mesma frequência. Participaram do estudo 145 crianças e adolescentes, entre 2 e 16 anos, em quem ao menos dois remédios contra o problema não surtiram o efeito desejado.
Para perder peso?
Em seu texto, o médico Marcelo Campos explica como a dieta age no corpo.
"A maioria das células prefere usar o açúcar presente no sangue, que provém dos carboidrados, como a maior fonte de energia do corpo. Na falta do açúcar, começamos a decompor a gordura armazenada em moléculas chamadas corpos cetônicos."
"Uma vez alcançado esse processo, a maioria das células usa essas moléculas para gerar energia. A mudança de fonte de energia – do açúcar que circula no sangue para a decomposição da gordura armazenada – geralmente ocorre de dois a quatro dias depois do início de uma dieta com menos de 50 gramas de carboidrato diárias", assinala o especialista.
Campos explica que esse processo é muito particular e depende de cada indivíduo. Ou seja, algumas pessoas precisam de dietas ainda mais restritas para que esse processo seja iniciado.
Muita proteína
O especialista explica que a dieta cetogênica inclui o consumo de muitas carnes (entre elas, processadas), ovos, salsichas, queijos, pescado, nozes, manteiga, azeite, sementes e verduras fibrosas.
Como a dieta é muito restritiva, diz o médico, é muito difícil segui-la no longo prazo.
"Uma das principais críticas a essa dieta é que muitas pessoas tendem a comer muita proteína e gordura de má qualidade, de alimentos processados, com poucas frutas e verduras", afirma.
Campos alerta, porém, que pacientes com doenças renais devem ser muito cuidadosos, uma vez que essa dieta pode piorar sua condição. E lembra de eventuais efeitos colaterais.
"A princípio, alguns pacientes podem se sentir um pouco cansados, enquanto outros podem ter náuseas, vômitos, constipação intestinal e problemas para dormir", pondera.
Colesterol
Investigações anteriores mostraram que "há uma perda de peso mais rápida quando os pacientes seguem uma dieta cetogênica, ou muito baixa em carboidratos, em comparação com quem segue uma dieta mais baixa em gordura tradicional, inclusive uma dieta mediterrânea", diz o médico.
Mas ele ressalta que essa diferença na perda de peso "parece desaparecer com o tempo".
Um dos aspectos que causa controvérsia é o efeito da dieta sob os níveis de colesterol.
"Alguns estudos mostram que no início alguns pacientes experimentam um aumento dos níveis de colesterol, e que vem uma queda nos meses seguintes", afirma Campos.
No entanto, não há uma investigação que analise os efeitos da dieta no colesterol em longo prazo.
O que deve ser levado em conta
O professor cita suas conclusões sobre a dieta cetogênica:
1. É difícil de seguir e pode ser muito dependente das carnes vermelhas e outros alimentos gordurosos, processados e salgados, que podem ser pouco saudáveis;
2. Não se sabe muito sobre os efeitos em longo prazo, provavelmente porque é muito difícil de seguir nela por muito tempo;
3. "É importante lembrar que as dietas "iô-iô", que levam a uma rápida flutuação de peso, são associadas ao aumento da mortalidade.
Ele faz uma recomendação.
"Em vez de começar a seguir a próxima dieta da moda, por algumas semanas ou meses, trate de se envolver em uma mudança que seja sustentável em longo prazo. Uma dieta equilibrada – sem alimentos processados, rica em frutas e verduras muito coloridas, carnes magras, pescados, grãos inteiros, nozes, sementes, azeite de oliva e muita água – parece ter a melhor evidência de uma vida longa, saudável e vibrante".
A dica-chave é sempre procurar seu médico ou um especialista antes de embarcar em uma dieta ou plano de perda de peso, já que há muitos fatores importantes que devem ser considerados para garantir a saúde e o bem-estar.