São 128 times, mais de três mil jogadores, 30 cidades recebendo partidas e todos os estados brasileiros representados. Quem vê a grandiosidade da Copa São Paulo de Futebol Júnior nos dias atuais não imagina um início humilde do que era apenas mais um dentre tantos eventos esportivos para comemorar o aniversário da cidade de São Paulo há 50 anos.
Recentemente empossado assistente esportivo do prefeito Faria Lima, Fabio Lazzari recebeu a missão de organizar eventos em comemoração ao aniversário de 415 anos da cidade de São Paulo. Ele seria o pai da Copa São Paulo de vôlei, handebol, basquete, natação, ginástica, futebol de salão, hóquei sobre patins, atletismo e futebol.
Com os clubes de férias, o já esporte mais popular do país demorou a ter sua confirmação nas disputas. Com a ideia de reunir quatro times da cidade com jogos semifinais no dia 24 e com a decisão dia 25, Lazzari não conseguiu contar com os atletas principais dos times -como ocorreu nos outros esportes- e recorreu à categoria juvenil para o torneio acontecer.
Assim contou com um ‘efeito dominó’ para atrais participantes. Após convencer o Nacional da Barra Funda a participar, ganhou um trunfo para a participação do vizinho Palmeiras. Com o time de Palestra Itália na disputa, Lazzari recebeu a adesão do arquirrival Corinthians. O Juventus, da Mooca, completou o quarteto que dava início ao torneio que mais tarde viria a se tornar o maior de categorias de base do Brasil.
A experiência nessa primeira organização ensinou bastante ao organizador para novas adesões país afora nos anos seguintes. “Meu pai viajava para convidar grandes times de outros estados e passou a se utilizar dessa tática. Para convencer o Grêmio a disputar, dizia que o Internacional disputaria, por exemplo”, conta Fábio Lazzari Júnior.
O primeiro torneio
João Mendonça Falcão, presidente da FPF à época, concordou com o torneio, cedeu a arbitragem e ainda disponibilizou João Atala, funcionário do Departamento Técnico da entidade. Os jogos foram realizados no Centro Educacional e Esportivo Vicente Feola, na Vila Manchester, Zona Leste da capital.
Primeiros a confirmar a participação, o Nacional venceu o Palmeiras por 5 a 1 enquanto o Corinthians fez 4 a 1 no Juventus. No dia seguinte, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Nacional, os corintianos festejavam a primeira das suas dez taças da Copa São Paulo de Futebol Júnior sob o comando de Luizinho, o Pequeno Polegar.
E o que mais?
Isso é basicamente só o que se sabe sobre a primeira Copa São Paulo de Futebol Júnior da história. Fábio Lazzari faleceu em 2011 e o que ele deixou registrado no livro ‘Copa São Paulo a vitrine do futebol brasileiro’ está resumido acima. Os jornais de então mal registraram o embrionário torneio e a secretaria de esportes atual -organizadora do evento em 1969- pouco conseguiu ajudar com informações.
Jogadores da época hoje beiram os 70 anos, aparentemente poucos daquele time vingaram no profissional corintiano e as lembranças do torneio de menor projeção até então, são escassas. Mozart, ponta-esquerda do time campeão é exceção. Ele sequer chegou a atuar profissionalmente pelo Corinthians, mas entra para a história como memória do primeiro título da Copinha, torneio tão querido pela torcida alvinegra após dez conquistas.
Um mistério, ao menos, foi desvendado por ele. Tão procurado por todos, Mozart garante que não houve troféu na premiação do título. “Nos deram apenas medalhas”, diz o atacante que chegou a atuar no Uberlândia de Minas Gerais, emprestado pelo Corinthians, mas na sequência desistiu da carreira.
A misteriosa Copinha
Houve quem tentou ajudar. Solícito, o goleiro Rafael Cammarota, campeão brasileiro com o Coritiba em 1985, foi traído pela memória. Garantia ser o reserva de Paulo Rogério no gol daquele time, mas disputara as Copinhas de 1970 e 1971, e não a primeira. O autor do gol do título corintiano, segundo ele, havia sido o atacante Carlos Alberto Garcia.
Ídolo e ex-presidente do Londrina-PR, Garcia garante que não. “Me lembraria, com certeza. Fiz o gol do título estadual juvenil de 1971, contra o São Paulo de Serginho Chulapa e Muricy no estádio do Morumbi. Mas, em 1969 eu ainda não estava no Corinthians”, garante. “Teria sido uma honra”, completa Garcia.
Integrante do elenco campeão paulista de 1977, há quem diga, sem confirmações, que o meia-atacante Adãozinho, falecido em 2011, teria sido o grande nome daquele torneio. Gatãozinho e Pitta, apontados como homens do meio de campo daquele time, também dizem que não jogaram. Wladimir seria o primeiro de tantos craques revelados pelo torneio? Novo demais para isso.
Cercada de mistérios, a primeira Copinha está na história como o embrião do maior torneio de categorias de base do Brasil e é vítima da má preservação da memória futebolística do país.