Cento e cinquenta gramas de mussarela, o mesmo de presunto, uma dúzia de ovos, cinco maçãs Gala. Treze reais e sessenta e sete centavos pagos com uma nota de vinte que prejudicou a quantidade de trocados da atendente.
Ida rotineira ao supermercado, compra normal para quem mora sozinho e possui poucos dotes culinários. Em vez de macarrão à carbonara, misto-quente. Se um risoto é muito complexo, vamos de arroz, feijão, ovo frito. Alimentação indigna de buffet, mas suficiente fornecimento de nutrientes.
Se para a operadora de caixa fui apenas mais um cliente a deixá-la sem troco, para mim aquela comprinha foi especial.
Explico.
Escrever sempre foi algo terapêutico, forma de autoconhecimento, rotina pouco regular iniciada em 2010. Atividade não regrada porque nunca foi ganha-pão. A escrita jamais foi responsável por qualquer soma depositada em minha conta bancária. Ainda assim, desde que me assumi "pessoa que escreve“, é uma obsessão fazer anotações.
Repare: em nenhum momento me coloquei como cronista. Muita presunção dizer que exerço a profissão de Fernando Sabino, Clarice Lispector, Rubem Braga, Antônio Prata. No máximo, sou colaborador. Escrevo porque tenho necessidade. De onde vem isso? Boa pergunta.
Há mais ou menos duas semanas, resolvi propagandear livro que escrevi há quase três anos. Fruto de concurso literário, "Identidades secretas" nunca foi muito divulgado. Motivo: meu pior crítico sou eu mesmo. Ou talvez estivesse com medo da crítica alheia. Covardia, enfim. Contrariando meu típico comportamento, fiz postagem no Facebook. Acabei vendendo alguns exemplares.
Adendo necessário: publicado o livro, tive direito a trinta brochuras. De quem se mostrou interessado, não cobrei. Foi distribuído entre amigos e familiares. "Compre meu livro" sempre me soou invasivo. Prefiro "leia meu livro".
Pausa para o merchandising: "Identidades secretas" está à venda por vinte e cinco mangos no site da editora Lamparina Luminosa. Eis o link: http://lamparinaluminosa.com/portfolio_item/identidades-secretas-murilo-reis/
Com o dinheiro de uma dessas vendas, paguei aqueles itens. Pela primeira vez, a escrita me bancou financeiramente – algo que passou despercebido pela paciente operadora de caixa. Foi estranho. Bom, até. Fazer mais compras com rendimentos vindos de textos mal escritos não seria nada ruim. Quem sabe ainda chego ao necessário para uma cesta básica?
Meu combustível continua sendo não monetário, porém. O colega de trabalho dizendo "sempre leio seus textos", isso, sim, me faz continuar rabiscando em folhas de papel enquanto deveria estar lavando louça.
Por isso, se tiver um tempinho, leia meu livro.