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7 curiosidades sobre a autobiografia que Prince nunca concluiu

Cantor morreu aos 57 anos e havia começado a redigir a obra auto-biográfica

Por: BBC Brasil

"Ontem tentei escrever um romance, mas não sabia por onde começar", cantou Prince na música Moonbeam Levels, de 1982.

Mais de três décadas depois, em 2016, anunciou que havia começado a escrever sua autobiografia.

Mas não chegou a concluir a obra.

Em 21 de abril do mesmo ano, ele morreu aos 57 anos, após passar três meses debruçado sobre o projeto — tendo redigido 28 páginas sobre sua infância, usando grafias abreviadas, sua marca registrada, como U (para "you", você) e I (para "eye", olho).

"O livro coincidiu com uma transformação interior pela qual ele estava passando naqueles que viriam a ser seus últimos anos de vida", diz Dan Piepenbring, de 33 anos, o escritor que Prince escolheu para ajudá-lo em seu livro de memórias, intitulado The Beautiful Ones, assim como a música que está no célebre disco Purple Rain.

"Acho que, pela primeira vez, ele estava ciente do seu legado, ciente de que tinha poder para influenciar a narrativa ao seu redor. E talvez ele estivesse mais consciente de sua mortalidade", afirma Piepenbring à BBC.

Após a morte do artista, os herdeiros entraram em contato com Piepenbring, perguntando se havia uma maneira de transformar o que havia sido escrito em um livro e oferecendo acesso aos arquivos de Paisley Park, onde o artista morava e trabalhava, em Minnesota, nos EUA.

Com o auxílio de fotografias e recordações da família, Piepenbring escreveu uma introdução para explicar o contexto das páginas redigidas por Prince. Com isso, The Beautiful Ones é o mais próximo que haverá de uma autobiografia do artista.

Confira abaixo sete fatos a respeito do ídolo pop que estão em seu livro de memórias.

1) Prince não era fã de Ed Sheeran

Em uma seção sobre suas preocupações em relação ao futuro da música, Prince reclama. "Eles continuam tentando empurrar Katy Perry e Ed Sheeran por nossa goela abaixo e não gostamos, não importa quantas vezes toquem."

Mas qual era o problema dele com Ed?

"Para ser honesto, eu estava tão de acordo com ele sobre esse assunto que parecia não haver mais o que dizer sobre isso na época. Mais do que uma má vontade com alguns artistas em particular, ele estava lamentando uma cultura que simplesmente não permite aos artistas ousar", avalia Piepenbring.

 

2) Ele era fã de 'Kung Fu Panda 3'

Prince costumava fechar o cinema local em Minneapolis, tarde da noite, e convidava amigos e colegas de banda para sessões particulares. Piepenbring estava lá em uma das ocasiões. O filme que Prince escolheu? A animação Kung Fu Panda 3.

"Ele pediu pipoca a seu assistente", relembra Piepenbring. "Sentou sozinho na fileira de trás, mas lembro de ouvi-lo rir algumas vezes. Logo que rolaram os créditos, ele se levantou e pulou as escadas. Estava usando aqueles tênis que piscam. Parecia uma criança naquele momento."

"Sei que ele também gostava de Procurando Nemo. Ele curtia esses contos de fadas."

O livro também revela que Prince era fã do drama Questão de Tempo (2013), de Richard Curtis, sobretudo da cena em que Rachel McAdams encontra seu amor no restaurante Dans le Noir, que oferece uma experiência sensorial ao servir os clientes no escuro. "Imagine essa refeição", escreve Prince.

Agora imagine Prince assistindo a Questão de Tempo.

 

3) Ele esperava que sua autobiografia pudesse 'acabar com o racismo'

Prince acreditava que seu livro poderia ser poderoso. Muito poderoso.

"De certa forma, ele queria que fosse uma autobiografia, uma história bastante direta sobre sua vida, sua infância e principalmente seus pais", diz Piepenbring.

"Mas ele também via o livro como uma maneira de ampliar o ativismo que havia iniciado, principalmente seu trabalho com o movimento Black Lives Matter. 'Poderia acabar com o racismo?' Isso (essa pergunta) realmente me fez parar e pensar."

"Sentar em uma sala com ele, olhar nos olhos dele e ouvi-lo fazer essa pergunta. Algo que pareceria impossível em qualquer outro contexto, nesse contexto, de repente parece natural e faz você se arrepiar de emoção."

 

4) O jovem cantor aprendeu sobre a vida com um filme proibido para menores

Prince nunca ouviu a "história da cegonha". O padrasto evitou conversar sobre sexo, levando ele e alguns de seus amigos ao que ele descreveu como "um filme de drive-in esfarrapado proibido para menores".

O jovem artista concluiu que essa não era a melhor maneira de aprender sobre sexo. O método sugerido por ele? "Ler o Cântico dos Cânticos de Salomão e discutir com alguém que ama você." A Bíblia dominava a cabeça de Prince.

Piepenbring ficou aliviado com a vontade de Prince de escrever sobre sua sexualidade.

"Eu me preocupei, dada a aversão a suas músicas mais ousadas — ele não tocava mais Darling Nikki ou Head, qualquer uma dessas. Temia que ele pudesse se esquivar sobre sua sexualidade nas páginas do livro, mas estava tudo lá — com muito humor, descaradamente proferido."

 

5) Seu primeiro beijo aconteceu brincando de casinha

Talvez não seja surpreendente que Prince tenha desenvolvido desde cedo um interesse pelas meninas.

Em um capítulo chamado Kiss (Beijo), ele descreve como uma garota chamada Laura, "que tinha apenas cinco ou seis anos", o convidou para brincar de casinha.

"Não fomos o primeiro casal interracial de Minneapolis, mas fomos sem dúvida o mais jovem", disse.

Ele foi beijado três vezes durante a brincadeira — a caminho do "trabalho", quando voltou e na hora de dormir. Cada beijo durou menos de três segundos, mas significou "tudo para ele".

 

6) Prince trabalhou no livro até quatro dias antes de morrer

No dia 15 de abril de 2016, o avião particular de Prince fez um pouso de emergência e ele foi hospitalizado. Naquela semana, ele ligou para Piepenbring para avisar que queria dar prosseguimento ao livro.

"Quando meu telefone se iluminou e apareceu o código de área de Minneapolis, fiquei muito feliz. Fiquei aliviado ao saber que ele estava bem e que ainda pensava ativamente sobre suas memórias."

"Ele falou sobre as reflexões que vinha fazendo sobre os pais e contou que um dos dilemas centrais da sua vida era descobrir o que eles significavam para ele e como ele estava vivendo as vidas deles com a sua própria (vida)."

"Ele disse que iria parar de fazer turnês e passaria ao que interessa (o livro). Desliguei com um tremendo otimismo. Evidentemente, não era para ser."

O cantor pop morreu depois de sofrer uma overdose acidental de fentanil, elemento 50 vezes mais forte que a heroína.

 

7) 'The Beautiful Ones' seria o primeiro de uma série de livros

O livro de memórias não seria uma publicação isolada.

"Este livro, na cabeça dele, seria o primeiro de muitos outros", explica o escritor.

"E pelo resto da minha vida, vou me perguntar o que mais ele tinha a dizer, e que forma o livro poderia ter se ele estivesse vivo. Definitivamente, há uma tristeza e um sentimento de admiração em tudo o que ele não conseguiu dizer."

 

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