O dia 19 de dezembro de 2009 foi especial para a Ferroviária, que ganhou um apoio que passou a fazer a diferença nos jogos dentro e fora de Araraquara. Foi nessa data que foi fundada a Torcida Organizada Afeganistão, que nesta quinta-feira comemora uma década de viagens, cantos, protestos, polêmicas, ações sociais e principalmente devoção ao time.
A Afeganistão foi fundada por alguns amigos, na época ainda adolescentes, que sempre acompanharam a Locomotiva. Um deles, Douglas Campos, o Dodô, hoje presidente da torcida, relata o processo de criação do grupo. "Estudávamos todos juntos na escola Antonio dos Santos, no Jardim das Estações. Dentro da sala de aula dei essa ideia para criarmos uma torcida com nossas ideologias. A ideia foi adiante, fizemos um rateio e compramos nosso primeiro pano para confecção da primeira faixa. Vários integrantes desistiram logo no início, mas eu, Carlos 'Grafite' e Lucas fomos adiante, junto com meu pai, que sempre nos ajudou", conta.
O nome
Em todos os jogos da Ferroviária sempre existe uma faixa ou uma bandeira com o nome da torcida. Muitas pessoas que a vêem pela primeira vez se perguntam qual a relação do nome com o futebol, dúvida que é explicada pelo líder do grupo. "O nome foi ideia de um amigo, o Roger. Queríamos que constasse AFE, daí lembramos do país Afeganistão, que é formado por soldados dispostos a defender sua pátria", explica Dodô.
Ele acrescenta o principal 'mandamento' dos integrantes da torcida: "É apoiar a Ferroviária acima de tudo. Usamos sempre esse lema. Com a AFE, pela AFE e sempre AFE", salienta.
Jogo mais marcante
Nessa década em que a Afeganistão esteve em ação, o momento mais marcante se deu no dia 18 de abril de 2015, quando a Ferroviária venceu o Guaratinguetá por 1 a 0 na casa do adversário, pela Série A2, e carimbou o tão aguardado acesso de volta à elite do futebol paulista, posto que não ocupava desde 1996.
Naquela ocasião, a viagem de 420 quilômetros valeu a pena. "Eu nunca tinha visto a Ferroviária na primeira divisão do Paulistão. Ficou marcado esse dia, além do show que a torcida deu lá em Guará. E os membros que ficaram aqui fecharam a Bento de Abreu com uma festa linda", relembra.
Polêmicas e tristezas
Ao longo dessa trajetória houve polêmicas, como os sinalizadores acesos na final da Copa Paulista de 2017, em uma atitude que gerou muitas críticas. Alguns torcedores, no entanto, justificam que o jogo foi parado em um momento em que o time adversário pressionava insistentemente em busca do gol, o que poderia comprometer o título naquela ocasião. O grupo também age muitas vezes como ‘porta-voz’ dos outros torcedores ao criticar preços de ingressos e pedir raça dentro de campo.
O caminho de dez anos teve também tristezas e a maior delas foi a perda repentina de um de seus diretores, Willian Molina, que hoje tem sua imagem ilustrando uma bandeira que acompanha a torcida em todos os jogos. O torcedor, aliás, foi homenageado pelo ídolo Douglas Onça no maior título das Guerreiras Grenás, que foi a Libertadores da América Feminina de 2015 na Colômbia.
Ações sociais
Um ponto que caracteriza a Afeganistão é a preocupação social, sempre promovendo campanhas beneficentes, seja voltada para a Páscoa, Natal, agasalho, doação de sangue ou mesmo para arrecadar alimentos ou produtos de higiene pessoal para asilos da cidade.
Dodô conta que esse sempre foi um dos ideais do grupo. "Promover as ações sociais é um compromisso que assumimos com a cidade desde o início da torcida. Da maneira que podemos, ajudamos as pessoas mais necessitadas com um calendário que cumprimos há mais de oito anos sem falhar. Cada vez mais nossas campanhas vêm crescendo. Com ajuda dos nossos membros e simpatizantes, estamos sempre fazendo o bem, cumprindo nosso papel social", destaca.
Momento atual
Atualmente, a Afeganistão possui aproximadamente 70 membros ativos que frequentam a sede, porém esse número aumenta conforme o momento da Ferroviária nas competições. Segundo seu presidente, a maior dificuldade da torcida ainda é a questão financeira.
Douglas conta que a hoje a relação com a Ferroviária é muito boa e que melhor ainda é a proximidade com os ídolos do time. "A relação é a melhor possível, mas não poderíamos enumer cada um deles aqui, pois a Ferroviária é um celeiro de craques", justifica.
O aniversário de dez anos foi comemorado em grande estilo com uma festa no último domingo (15), que contou com churrasco, música, homenagens e muita diversão, além da presença de torcidas parceiras de outros times do interior. O presidente da Ferroviária, Carlos Salmazo, também prestigiou a comemoração.
Única exigência
O presidente da Afeganistão abre as portas para pessoas interessadas em integrar o grupo, porém faz questão de deixar claro a única exigência. "Estamos abertos a quem queira participar da nossa torcida. O único requisito pra isso é amar a Ferroviária", finaliza Douglas.