O Sesc Araraquara segue com a exposição REVER, mostra individual da carreira do poeta, artista multimídia e produtor paulista, Augusto de Campos. Com curadoria de Daniel Rangel, a exposição abrange 65 anos da produção poética do autor, trazendo obras como livros, serigrafias, objetos, colagens, instalações, áudios e vídeos.
Sua obra singular ultrapassa o campo da literatura, chegando às artes visuais contemporâneas. Letras, palavras, imagens e sons ganham corpo, permitindo ao público uma imersão integral no universo “verbivocovisual” de Augusto de Campos. O termo se refere às dimensões semânticas, sonoras e visuais da palavra. No caso do poeta paulistano, elas cabem não somente no espaço do livro, mas em vídeos, colagens, instalações, esculturas, músicas, holografias e projeções.
Segundo o curador, a seleção de obras teve como ponto de partida os quatro livros de poesia editados por Augusto: Viva vaia (1979), que reúne a produção do poeta desde seu primeiro livro (O rei menos o reino, 1951), e os seguintes Despoesia (1994), Não (2003), e Outro (2015), além de obras sonoras e audiovisuais produzidas por ele ao longo de seu percurso. A exposição apresenta a trajetória de Augusto de Campos de forma cronológica e também oferece novas leituras para seus trabalhos.
Há cerca de 60 anos, aconteceu, no MAM de São Paulo, a primeira exposição nacional de Arte Concreta. A mostra marcou o início do movimento concretista no país e foi a primeira a reunir, em um mesmo espaço expositivo, escultores e pintores junto a poetas. Nessa exposição estavam Luiz Sacilotto, Lygia Pape, Geraldo de Barros, entre outros. “A mostra revisita a fase ortodoxa, assinalada pela exposição nacional de arte concreta (MAM, 1956; MEC, 1957) e pelos manifestos da poesia concreta (1956-58), e as fases posteriores, entre 1960 e 70 – a dos poemas participantes (“popcretos”) e as de outros poemas ainda, abertos a pesquisas da linguagem entre a imagem e a palavra, acolhendo, também, exemplos de obras aleatórias e conceituais que introduzem novas abordagens, até chegar às produções videográficas e digitais da década de 1990 e dos últimos anos, que buscam novos caminhos para as poéticas do presente”, afirma Augusto de Campos no texto de abertura da mostra.
Como aponta Danilo Santos de Miranda em seu texto de apresentação: “Com a itinerância da mostra REVER_Augusto de Campos, o Sesc promove a circulação de um panorama retrospectivo de sua obra. Nele, poemas históricos em versão fac-símile são conjugados a traduções recentes para suportes distintos, incluindo os digitais. Trata-se de ver tais poemas novamente, mas também de vê-los materializados em outras mídias, onde adquirem desdobramentos inéditos. Com isso, a instituição convida seus públicos a interagir de formas múltiplas com os constructos poéticos desse criador que, ao lado de Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou as bases da poesia concreta no Brasil”.
Sobre Augusto de Campos
Nascido em São Paulo, em 1931, é poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música. Sua bagagem literária registra numerosas publicações, de 1951 a 2016, data em que aos 84 anos lançou o livro inédito “Outro”. Com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou em 1952 o livro-revista Noigandres, origem do grupo literário que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. Em 1953, produziu a série de poemas em cores, Poeta menos, primeira manifestação da poesia concreta brasileira. Em 1956, participou da organização da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, e a partir de então seus trabalhos foram incluídos em diversas exposições nacionais e internacionais de poesia concreta e visual e em antologias editadas no exterior como as publicações "Concrete Poetry: na International Anthology", organizada por Stephen Bann (London, 1967), "Concrete Poetry: a WorldView", por Mary Ellen Solt (UniversityofBloomington, Indiana, 1968), "Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams" (NY, 1968) entre outras. Sua produção poética, iniciada em 1951, com o livro O Rei Menos O Reino, está reunida principalmente em Viva Vaia (1979), Despoesia (1994) e Não (2003), além de Poemóbiles e Caixa Preta, coleções de poemas-objetos, em colaboração com Julio Plaza, publicados em 1974 e 1975, respectivamente. Sua produção vem influenciando gerações de artistas, seja do campo da literatura, artes visuais ou mesmo da música. Augusto foi fonte de inspiração para nomes com Caetano Veloso, Arrigo Barbané, Percicles Cavalvanti, Walter Franco, Cid Campos, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto, Lenora de Barros e Marilá Dardot, entre tantos outros.
Sobre o curador
Daniel Rangel atuou como diretor de museus da Secretaria Estadual de Cultura da Bahia, de 2008 a 2011, e assistente de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia, entre 2007 e 2008. Idealizou e dirigiu o SOSO+Cultura, em São Paulo, espaço de arte contemporânea africana. Foi um dos curadores da 17ª Bienal de Cerveira (Portugal), da II Trienal de Luanda (Angola), da 6ª Bienal de São Tomé e Príncipe e da 8ª Bienal Internacional de Curitiba. Ainda como curador, idealizou o programa Quarta Dimensão, que realizou individuais de Tunga, José Resende e Waltercio Caldas em diálogo com a obra de Augustin Rodin, no Palacete das Artes, em Salvador (2009), e o programa Ocupas (2009/2010), com mostras de site-specific de Eder Santos, Carlito Carvalhosa, José Rufino e Caetano Dias, em diálogo com o entorno do Palácio da Aclamação. Realizou também a mostra “Transit”, que circulou por Salvador, Brasília e São Paulo, com obras de artistas contemporâneos africanos, entre outras dezenas de coletivas e individuais no Brasil e exterior, incluindo as de Chelpa Ferro, Rodrigo Braga e Arnaldo Antunes, ganhadora do prêmio APCA 2015.
Serviço
Exposição REVER (Augusto de Campos)
Visitação até 25/6
Terça a sexta, das 13h às 21h30
Sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 18h
Classificação indicativa: Livre
Grátis