Eternizado com um dos maiores instrumentistas da história da música popular brasileira, Jacob do Bandolim construiu um patrimônio em forma de composições e gravações históricas. Nesta sexta-feira (9), a partir das 20 horas, o Projeto De onde vem esse choro? apresenta o show Jacob do Bandolin 100 anos – Sentimento & Balanço, com entrada franca. O Selo Sesc celebra o legado centenário do bandolinista com um disco produzido por Henrique Cazes e Carlos Alberto Sion, levando a campo interpretações de Henrique Cazes Trio, Fábio Peron e Joel Nascimento.
Nesta apresentação sobem ao palco Joel Nascimento (bandolim), Fabio Peron (bandolim de 10 cordas), Henrique Cazes (cavaquinho/violões), Beto Cazes (percussão), Joao Camarero (violao de 7 cordas) e Marcos Nimericheter (acordeão).
A linguagem inconfundível do bandolim brasileiro deve muito ao virtuoso autodidata Jacob Pick Bittencourt (1918-1969), carioca de Laranjeiras, criado na lendária Lapa. Com seu fraseado límpido e altissonante, de improvisos despidos de empréstimos ao jazz, o fabuloso Jacob do Bandolim dilatou as possibilidades do instrumento e do gênero em que pontificou, o choro. Inscreveu-se mesmo entre seus maiores criadores, em sintonia com o patriarca Pixinguinha e o erudito Radamés Gnattali. Ele participou de gravações históricas como “Ai, que saudades da Amélia”, por Ataulfo Alves, em 1942, e “Marina”, com Dorival Caymmi, em 1947, esta no mesmo ano em que debutou como solista e compositor, numa carreira solo cintilante. Jacob também foi um mestre-escola, freqüentado nos exigentes saraus caseiros, que documentava em sua casa de Jacarepaguá, por luminares como Sergei Dorenski, Oscar Cáceres, Paulo Tapajós, Maestro Gaya, Canhoto da Paraíba, e iniciantes promissores como Paulinho da Viola e Turíbio Santos. Acompanhado, entre outros, pelos estilistas do Regional do Canhoto, Jacob liderou grupos como o modelar Época de Ouro, com quem confrontaria a bossa nova do Zimbo Trio, em memorável show com sua revelada Elizeth Cardoso. Deixou um legado popular de alto refinamento estético.
Ele pode ser usufruído nesta preciosa homenagem – “Jacob 100 – Sentimento e balanço “- produzida por um de seus principais cultores, o exímio cavaquinista Henrique Cazes (também autor dos eloqüentes arranjos e da direção musical) e o experiente Carlos Alberto Sion. O Henrique Cazes Trio, traz o lider desdobrando-se no cavaquinho, violão e violão tenor, ao lado de seu irmão Beto Cazes, poliglota da percussão, e de João Camarero, violão 7 cordas, cuja maestria o tornou o mais novo integrante do Época de Ouro, idealizado por Jacob. Nos bandolins centrais, dois virtuoses de gerações e latitudes diferentes. O carioca Joel Nascimento, 80, ilustríssimo discípulo de Jacob, foi abençoado por Radamés que transcreveu para ele sua peça “Retratos”, origem heráldica da Camerata Carioca. Tem uma longa e multifacetada carreira no Brasil e no exterior. E o jovem paulistano Fábio Perón, 28, filho dos músicos Vera Cury e Ítalo Perón, que atuou no lendário conjunto de choro de Izaías Bueno de Almeida, “figura através da qual me interessei pelo bandolim”. Também influenciado pela convivência com o compositor Paulo Vanzolini e músicos como Zé Barbeiro, Alessandro Penezzi, Lea Freire e Arismar do Espírito Santo, Fábio, ostenta dicção própria, como se ouve nas doze pepitas de várias épocas do autor celebrado por este estupendo disco, ornado ainda por três convidados de primeira linha.
Nas peripécias sincopadas de “Assanhado”, a baixaria fica a cargo do bordado de outro ás do 7 cordas, Rogério Caetano. Silvério Pontes confeita ao flugelhorn o megaclássico “Doce de coco”. E Marcos Nimrichter, no acordeon, infiltra ambientação de tango em mais um ícone de Jacob, “Vibrações”, além de atuar em outras três faixas. Joel e Fábio trocam passes ágeis em “Bola preta”; retinem na escala de notas da espanholada “Santa morena”, uma das músicas de Jacob mais regravadas nos últimos tempos. E desafiam a gravidade em outro totem de sua obra, o espevitado choro “Noites cariocas”.
Em outras faixas eles solam separados. Cabem ao lirismo denso de Joel “Por que sonhar?”, “De coração a coração” e “Pé de moleque”, esta com acendrada percussão de Beto Cazes. Fábio alterna seu arsenal de recursos nas auto explicativas “Nosso romance”, “Dolente” e Gostosinho”. Conjugando exatamente “Sentimento e balanço”, como promete o título do disco, os expoentes instrumentais iluminados pelo mestre asseguram que os comemorados cem anos de Jacob não olham apenas pelo retrovisor. Também são um anúncio de perenidade.
Serviço
Show Jacob do Bandolin 100 anos – Sentimento & Balanço
Dia: 9/11, sexta
Horário: 20h
Local: Garimpo
Classificação: Livre
Grátis