O plano de reabertura gradual das atividades de comércio e serviços vêm trazendo fôlego para o fluxo de caixa das empresas, que ainda enfrentam dificuldades em honrar seus compromissos financeiros diante dos baixos níveis de faturamento obtidos desde o início da pandemia. Além disso, a dificuldade de acesso às linhas de crédito disponibilizadas pelo governo federal ainda é uma realidade para grande parte dos requerentes.
Em relação aos problemas de acesso aos financiamentos e do descompasso existente entre a taxa básica de juros e as taxas cobradas pelas instituições privadas, os dados do mês de junho apresentaram queda dos juros tanto para pessoa física quanto jurídica.
A análise do Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara, realizada a partir dos dados emitidos pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Administração (ANEFAC), revela que as taxas de juros de todas as modalidades de crédito para pessoa física reduziram, com exceção dos juros do comércio e dos juros cobrados no financiamento de veículos (CDC), que ficaram estáveis na variação mensal em 4,72% a.m. e 1,4% a.m., respectivamente. Entre maio e junho a taxa média para pessoa física registrou queda de 0,70% e -0,93% em doze meses.
Evolução das taxas de juro para pessoa física – maio/junho 2020
Fonte: ANEFAC. Elaboração: Sincomercio Araraquara
Já as taxas de juros para pessoa jurídica tiveram reduções em todas as modalidades quando comparadas ao mês anterior. A taxa média – auferida a partir do capital de giro, desconto de duplicatas e conta garantida – atingiu o menor patamar da série histórica, passando de 3,06% a.m. em maio para 3,0% a.m. em junho, com redução de 1,96% no mês e 2,29% em doze meses.
Evolução das taxas de juros para pessoa jurídica – maio/junho 2020
Fonte: ANEFAC. Elaboração: Sincomercio Araraquara
O exame semestral das taxas médias tanto para pessoa física quanto para pessoa jurídica demonstra que entre os meses de fevereiro e março houve elevação das taxas de juros praticadas. Este aumento pode estar vinculado, entre outros fatores, a maior incerteza acerca da economia brasileira no período, elevando a percepção de calote por parte dos bancos e o risco de crédito a ele associado, o que encarece os empréstimos. Apesar da alta registrada em março, as taxas foram sendo gradualmente reduzidas nos meses subsequentes.
O estudo revelou ainda que no acumulado do primeiro semestre de 2020, os juros aumentaram, em média, 0,34% para pessoa física e 0,19% para pessoa jurídica. O resultado é inferior quando comparado ao primeiro semestre de 2019, cujas taxas registraram alta de 0,40% e 0,21% para pessoa física e jurídica, respectivamente.
Comparativo das taxas de juros médias para PF e PJ – 2019/2020
Fonte: ANEFAC. Elaboração: Sincomercio Araraquara
As sucessivas reduções na taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), iniciadas em outubro de 2016, podem se estabilizar em agosto de 2020 ao nível de 2% a.a., como indicado pelo relatório Focus divulgado pelo Banco Central do Brasil. Segundo o relatório, que reúne as expectativas de mercado para a economia nacional, a mínima histórica deverá perdurar até o segundo semestre de 2021 visando estimular o consumo e o investimento no país, permitindo maior endividamento por parte das famílias e das empresas a um nível de juros mais baixo.
Conjuntamente, a atuação do Banco Central tem ido na direção de reduzir os juros praticados pelos bancos comerciais por meio de reduções no depósito compulsório – lei que obriga os bancos a manterem no Banco Central parte dos recursos captados dos clientes. Essas duas medidas visam gerar o aumento da competitividade bancária e permitir que famílias e empresas contraiam empréstimos mais baratos para superar a atual crise.
Tendo em vista que, na prática, existem expressivas diferenças entre as taxas cobradas por cada instituição financeira, o Núcleo de Economia do Sincomercio recomenda que o consumidor realize pesquisas para buscar taxas mais baratas e demais acréscimos cobrados, evitando comprometer a renda com dívidas.