Poucos jogadores de basquete fizeram a torcida de Araraquara vibrar tanto quanto ele. Marcado por sua habilidade, força de vontade e mãos certeiras, o armador Arnaldinho foi um dos principais destaques do inesquecível time da Uniara, que fez grande sucesso no final dos anos 90 e início dos anos 2000.
O atleta defendeu o time araraquarense entre 2001 e 2003, período em que a equipe chegou a duas decisões de Campeonato Paulista e outra de Campeonato Brasileiro, sempre protagonizando confrontos eletrizantes. Na ocasião, Arnaldinho se destacava na armação de jogadas em um timaço que contava ainda com Pipoka, André Bambu, Luiz Fernando, Márcio, entre outros jogadores comandados pelo técnico Tom Zé. Na época era comum ver crianças com a camisa azul e branca do time, levando nas costas o número 11 e o nome do jogador.
Atualmente aproveitando o isolamento social para aprimorar seus conhecimentos do basquete, Arnaldinho conversou com a reportagem do Portal Morada e falou sobre sua trajetória, emoções e desafios futuros. Confira!
O início
Filho de Jancileide Nascimento de Santana e Arnaldo de Souza Moreira, Arnaldo de Souza Moreira Filho nasceu no dia 21 de outubro de 1978 no Rio de Janeiro. É irmão de João, Roberto, André, Pablo, Fernando e Vagner, que faleceu aos 26 anos de idade.
Arnaldinho cresceu no Bairro de Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, e foi na infância que teve seu primeiro contato com o esporte. "Depois que vi meu irmão Roberto jogando basquete, me apaixonei pelo jogo", conta o atleta, que chegou a trabalhar como office-boy e também ajudou sua mãe na feira vendendo frutas.
O irmão que inspirou o garoto resolveu não se profissionalizar no esporte e seguiu a carreira de técnico em processamento de dados. Arnaldinho, porém, continuou firme em busca do sonho de atuar no esporte. Paralelamente, jogava futebol e chegou a passar em um teste no Flamengo, enquanto desenvolvia seu basquetebol pelo Botafogo. Inevitavelmente, chegou o momento de escolher qual caminho seguir. Foi aí que viu um jogo de basquete que teve três prorrogações e muita adrenalina. Estava feita sua escolha.
Muito trabalho em busca do sonho
No Botafogo, sua qualidade e força de vontade fizeram com que o basquete se tornasse sua profissão. "Acho que nunca fui lapidado, sempre estive em um aprendizado constante", resume ele, que tinha como ídolos Michael Jordan e Oscar.
Assim, o jogador de 1m87 passou pelas categorias de base do Botafogo e chegou ao time profissional com apenas 16 anos de idade. Ele se lembra de um mestre que foi especial em seu início de sua carreira: "Emanuel Bonfim foi o treinador que me deu a primeira oportunidade em uma equipe profissional", conta.
A oportunidade, aliás, é lembrada com carinho pelo craque. "Quando participei de meu primeiro jogo como profissional, eu tive uma sensação de realização. Lembro que fiquei muito feliz. Foi em um torneio em Paty do Alferes, no interior do Rio de Janeiro e eu tinha 16 anos", relembra ele.
Em seu início de carreira, Arnaldinho atuou também pelo Tijuca, também do Rio de Janeiro, onde sagrou-se campeão juvenil e campeão da Liga Nacional B. Retornou ao Botafogo, time pelo qual foi duas vezes vice-campeão do Campeonato Carioca e conquistou a vaga para a Liga Nacional. Seu talento começava a chamar a atenção dos times de destaque no cenário brasileiro.
A Uniara em seu caminho
Em 2000, Arnaldinho recebeu um convite especial para deixar sua cidade natal. "Eu estava jogando no Botafogo na temporada anterior à montagem da equipe da Uniara. Recebi uma ligação do Tom Zé e acertamos a minha transferência para a querida Morada do Sol", relatou o jogador.
Dentro de quadra, com tantas peças de qualidade, o entrosamento não demorou a acontecer e o time começou a empolgar a torcida, que passou a marcar presença em peso na arquibancada do Gigantão. "Todos sabíamos o que devíamos fazer, tínhamos um grande líder", justifica o armador, se referindo ao técnico Tom Zé.
Em Araraquara, Arnaldinho protagonizou confrontos memoráveis. Em um duelo em 2001 contra o Coc, rival de Ribeirão Preto que sempre exigia muita superação do time araraquarense, o armador levou a torcida à loucura ao marcar 40 pontos só no primeiro tempo, ou seja, em 20 minutos. Para ele, esse foi o jogo mais marcante com a camisa da Uniara, time que chegou a ser vice-campeão brasileiro em 2002.
Perguntado sobre o que o time araraquarense significou para ele, Arnaldinho faz questão de mudar o verbo do pretérito para o presente. "Não significou, significa! Minha história como jogador está ligada à Uniara e a cidade de Araraquara. Tenho muito orgulho disso, afinal vivemos grandes momentos juntos", destaca.
Seleção Brasileira
Arnaldinho defendeu a Seleção Brasileira pela primeira vez em 1999, quando disputou o Torneio de Luanda (Angola), o Torneio de Acrópolis (Grécia) e o Torneio do México.
Posteriormente, com a camisa da Uniara, o armador chamou a atenção dos amantes do basquete nacional. Torcedores, não só de Araraquara, mas de diversas equipes, pediam o jogador na Seleção, porém o número de chances concedidas não foi compatível com as expectativas do público e do próprio atleta.
"Foi uma passagem rápida e sem oportunidades, mas com duas conquistas importantes", resume ele, que faturou as medalhas de ouro no Sul-Americano de 2003 e nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, no mesmo ano.
Na época, muitos torcedores atribuíram essa ausência à rivalidade que a Uniara tinha com o Coc, já que o técnico do time do Ribeirão Preto era Lula Ferreira, que assumiu o cargo de treinador da seleção no mesmo período.
Outros clubes
Em 2004, Arnaldinho se despediu de Araraquara e voltou à Cidade Maravilhosa para jogar pelo Flamengo. A partir daí, rodou o país e o mundo com seu basquetebol.
No Brasil, passou por Fluminense, Assis, Grajaú, Winner Limeira, São Bernardo, Minas Tênis Clube, Brasília, Telemar-RJ, Lins Basquete, CTAF Vila Velha, Guarani-RS e Internacional. No exterior, defendeu as equipes do Benetton Treviso (Itália), Basketball Antibis (França), Los Gatos de Monagas (Venezuela), Apoel (Chipre), Euras Ekateremburgo (Rússia) e Uniks Kazan (Rússia).
Arnaldinho teve outra passagem por Araraquara em 2009, quando o time já não contava mais com o aporte da Uniara e firmou uma parceria com o Palmeiras, passando a ser denominado Palmeiras/Lupo/Araraquara. A passagem serviu para a torcida 'matar a saudade' do jogador, que deixou muitos fãs na cidade.
O presente e o futuro
Durante o período de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus, Arnaldinho aproveita o tempo para se especializar na busca por um objetivo e desenvolver um projeto que tem todas as condições para revelar muitos talentos para o basquetebol brasileiro.
"Tenho estudado bastante para evoluir como treinador de basquete. Além disso, administro minha escola de esportes, a Escolinha Passo Zero", conta o jogador. Seu projeto pode ser acessado no Instagram pelo nome @escolinhapassozero.
O atleta mantém segredo sobre seus planos para o futuro, mas nada impede que o destino volte a trazê-lo em algum momento a Araraquara, cidade pela qual ele guarda grande consideração por ser sempre muito querido pelos torcedores. "Quero agradecer o carinho e dizer que estou na torcida para que o basquete de Araraquara tenha um retorno à elite nacional", finaliza o campeão.
Confira abaixo fotos da carreira de Arnaldinho.