InícioEsporteBia: Garra e faro de gol em busca do ouro olímpico

Bia: Garra e faro de gol em busca do ouro olímpico

Conheça a história da araraquarense que é um dos principais nomes do futebol feminino brasileiro

Ela é uma das esperanças de gol da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, que sonha com a inédita medalha de ouro olímpica. Com 26 anos de idade, a araraquarense Bia Zaneratto já integra a lista das dez principais artilheiras da história da Seleção Feminina. Depois de se tornar estrela no futebol da Coreia do Sul, onde brilhou durante sete anos, a atacante acertou sua transferência para o Wuhan Xiniyjuan da China, porém a pandemia do novo coronavírus impediu sua apresentação no país asiático e ela acabou emprestada ao Palmeiras. Estreou com gol, empolgou a torcida, porém a mesma pandemia a impossibilitou novamente de ir a campo e atualmente ela se encontra em Araraquara, onde respeita o isolamento social ao lado de sua família e treina em casa de olho nos grandes desafios que virão pela frente. 

O Portal Morada apresenta agora a história da menina que encarou um início de carreira repleto de dificuldades por ter que jogar entre os garotos, mas que soube dar a volta por cima para se tornar uma referência da modalidade no Brasil.

O início

Beatriz Zaneratto João nasceu no dia 17 de dezembro de 1993 em Araraquara. O primeiro sinal de que ela estava destinada a brilhar com a bola nos pés aconteceu quando tinha sete anos de idade e estudava na Escola Antonio Lourenço Corrêa, na Vila Xavier. Seu pai, Aparecido Donizete João, foi chamado pela diretora, que precisava de sua autorização para que a menina disputasse um torneio interescolar de futebol, onde ela seria peça-chave do time. O detalhe surpreendente é que a competição não era feminina, pelo contrário, ela seria a única menina do torneio. Apesar do receio do pai, que temia que ela se machucasse entre os ‘marmanjos’, o resultado foi o título e a artilharia do campeonato.

O talento de Bia foi lapidado por Luiz Carlos da Silva, seu primeiro técnico e fundador do Espaço Criança, ONG que até hoje ela faz questão de visitar e colaborar. Naquela época, aliás, sua habilidade chegou a incomodar alguns pais, que se reuniram para pedir a saída da menina dos torneios entre os meninos. "As pessoas questionavam por que uma menina queria jogar no meio dos meninos. Alguns pais que se reuniram com as federações para me tirar do time de meninos do Espaço Criança. E o Luiz, que é o treinador, sempre brigou muito por mim, sempre fez questão que eu fosse camisa 10 e capitã do time no meio dos meninos. Em determinado momento que tentaram me tirar, ele sempre brigou e disse que eu não iria sair. Tivemos que entrar com procedimentos judiciais para poder participar de campeonatos com os meninos porque pais não queriam e federações não achavam justo. Mas eu persisti e sempre tive muito apoio da minha família, do meu pai, da minha mãe, e isso é bem bacana para as meninas. Fica esse recado para os pais, para que apoiem as meninas a fazer o que elas gostam, porque com certeza isso trará muitas felicidades a elas. E esse apoio é de suma importância para que elas possam se desenvolver cada vez mais", explicou a jogadora.

Prodígio do time de Araraquara

Foi no Espaço Criança que, aos 13 anos, ela se destacou, novamente no meio dos garotos, em um torneio realizado em Itapetininga, onde ganhou destaque em reportagens nos meios de comunicação. Com o destaque veio o preconceito, que fez com que chegasse a desistir do futebol. Tentou o futsal, não se adaptou e partiu para o voleibol, modalidade pela qual chegou a defender o Clube 22 de Agosto. 

Mas nessa época, o futebol feminino de Araraquara já ganhava notoriedade quando Bia recebeu o convite do técnico Paulinho Taiúva, que foi até sua casa para tentar convencê-la após uma indicação do prefeito Edinho Silva, que já tinha visto Bia jogar. A menina não quis e, meses depois, o próprio Edinho ligou para o pai de Bia. Aparecido pediu que o prefeito ligasse para ela, que dessa vez topou o desafio. A atacante era a mais nova do time, o que não a impedia de chamar a responsabilidade.

Sua história com a Seleção

Suas atuações com a camisa da Ferroviária fizeram com que fosse convocada para a Seleção Sub-17 com apenas 13 anos de idade. Aos 17, já era chamada para defender a Seleção principal, onde convivia com nomes de peso como Marta e Cristiane. Desde então, se firmou como peça-chave da equipe e se tornou uma das dez principais artilheiras da história da Seleção Feminina. Um levantamento divulgado pelo site Planeta Futebol Feminino aponta que ela é a 9ª jogadora que mais estufou as redes com a camisa amarelinha, com 23 gols em 72 jogos. Além disso, já participou de três Copas do Mundo e uma Olimpíada. 

A Olimpíada, aliás, é o grande sonho da garota. Por conta da pandemia, os Jogos Olímpicos de Tóquio, que seriam realizados em 2020, foram adiados pra 2021, mas Bia vê um fator positivo neste adiamento, já que a Seleção vive um momento de reformulação de estilo de jogo com a chegada da técnica sueca Pia Sundhage. "Já disputei muitas competições com a Seleção, tanto de base como adultas, mas nós almejamos títulos. Conquistamos Sul-Americano e Copa América, mas Mundial e Olimpíadas, que são eventos grandiosos em que nós sempre batemos na trave, sempre serão a nossa meta. Nas Olimpíadas, parecia que estava tão pertinho para nós conquistarmos uma medalha em 2016, mas deixamos escapar. Então nosso foco e objetivo como sonho é conquistar as Olimpíadas, que agora foram adiadas. Mas por outro lado, teremos um tempo maior de preparação e isso é válido também para que possamos chegar da melhor forma possível á e trazer esse título olímpico para o Brasil", analisa. 

Clubes da carreira

Quando começou a brilhar pela Seleção, a equipe da CBF era comandada pelo técnico Kleiton Lima, que a levou para o Santos. Brilhou com as Sereias da Vila e conquistou títulos do Paulista, Copa do Brasil e Libertadores. Posteriormente, passou pelo Bangu-RJ e Vitória-PE, antes de acertar sua transferência para o Hyundai Steel Red Angels da Coreia do Sul em 2013. No país asiático, ficou por sete temporadas, conquistou sete títulos e  ganhou notoriedade na modalidade. 

Bia iniciou o ano de 2020 com o anúncio de sua saída do time coreano. Acertou sua ida para o Wuhan Xinjiyuan da China, mas por conta da epidemia do coronavírus, acabou impedida de embarcar e terminou emprestada ao Palmeiras. Com a camisa do Verdão, mostrou sua qualidade logo na estreia, onde marcou um dos gols na goleada sobre o Cruzeiro por 5 a 0 em Belo Horizonte. "Nosso time vinha de jogos difíceis, precisava recuperar a confiança, e as meninas me apoiaram da melhor forma possível. Eu tentei ao máximo incentivá-las e acho que o grupo todo fez por onde naquele jogo contra o Cruzeiro e construímos juntas uma vitória muito bonita. E não poderia ter sido melhor, com um placar elástico, fazendo gol, dando assistência. Em especial para mim, foi muito marcante", relata.

No jogo seguinte, o último antes da paralisação, fez outro gol na vitória por 2 a 1 sobre o rival São Paulo. "Por obra do acaso ou não, tive a oportunidade de ir para o Palmeiras, onde tenho sido muito feliz. Já tive a emoção de como é vestir essa camisa, principalmente dentro de um clássico, que foi muito especial para mim, e espero que possamos dar continuidade a esse trabalho. Não sabemos o que vai acontecer nos próximos dias por causa do coronavírus, mas eu espero poder voltar e poder jogar mais jogos com a camisa do Palmeiras", explica a atacante, cujo contrato de empréstimo se encerra em 1º de junho.

Futebol feminino no Brasil

Bia destaca que percebeu duas realidades diferentes comparadas a quando deixou o Brasil em 2013 e quando retornou em 2020. "Para mim está sendo tudo uma novidade, como se eu estivesse começando tudo de novo. Feliz por ter visto o avanço da modalidade aqui no Brasil. Quando eu saí do Brasil, as coisas ainda eram bem inferiores. Eu sei que temos muito a melhorar, mas só de ver uma mudança é algo muito produtivo e válido", observa.

Mesmo assim, ela acredita que a modalidade está longe de ter o apoio necessário para se tornar uma referência mundial. "Eu espero que cada vez mais a gente possa se desenvolver. Eu saí do Brasil vendo uma realidade e voltei vendo outra melhor. Mas eu sei que precisamos de muito mais, mais estrutura, mais condição para trabalhar. Espero que a gente melhore essas questões para que o futebol feminino brasileiro seja visto de uma melhor forma. Quando vamos lá fora, vemos uma realidade bem diferente, com clubes bem mais estruturados e preparados. Então espero que no Brasil comecem a ver com mais carinho a modalidade porque temos mostrado o nosso potencial. Se vier esse carinho e essa atenção, consequentemente o futebol feminino vai evoluir e vai dar cada vez mais alegria ao torcedor", garante.

Ídolos no futebol

Bia revela que seu maior ídolo no futebol é o atacante português Cristiano Ronaldo, não apenas como atleta, mas também pelas ações sociais que realiza fora de campo. No futebol feminino, se espelha em uma colega da Seleção Brasileira, a meio-campista Formiga. "A gente chama ela de mito porque com 43 anos ela ainda faz história e dá exemplo dentro de campo e fora dele. É uma pessoa muito humilde e é um espelho para todas as meninas do futebol feminino e para todos os meninos também", justifica.

Tempos de pandemia

Atualmente, com o futebol suspenso, Bia se encontra em Araraquara. Sempre que tem uma folga, corre para a cidade natal para aproveitar os momentos de carinho ao lado da família e dessa vez não foi diferente. Dessa vez, no entanto, não existe folga, já que ela segue treinando de forma intensa em sua casa, com a orientação do preparador físico do Palmeiras. "Aqui em casa tem um espaço bom no quintal e isso é completamente diferente da nossa rotina. Muita saudade da bola, mas a gente vai se adaptando às adversidades", ressalta.

Ciente do momento preocupante que vive o mundo por conta da pandemia, a atleta só sai de casa para cumprir a missão de levar sua avó a sessões de hemodiálise. Ela analisa o atual momento vivido em torno da pandemia no Brasil. "É difícil e triste porque são situações atípicas que acontecem no futebol e também no mundo, questões de saúde e preocupações. Eu evitei de ir à China e parecia que essa situação nunca chegaria ao Brasil, mas de repente vemos tudo isso acontecendo aqui. Isso é muito triste, mas tentamos tirar um proveito bom de tudo isso, no caso aproveitando o tempo com a família, mas é muito ruim porque paramos de fazer o que tanto amamos. É uma pausa necessária, mas esperamos que tudo se resolva o mais rápido possível, para voltarmos a fazer o que gostamos e todos voltem à suas rotinas normalmente", salienta. 

A araraquarense aproveita para lembrar de uma ação social desenvolvida por jogadoras. "As meninas do futebol feminino estão com uma campanha bem bacana. Meninas de todos os clubes foram se juntando para contribuir de alguma forma", destaca a araraquarense. Clique aqui para saber mais sobre a campanha.

Mensagem de persistência

Bia Zaneratto deixa sua mensagem às meninas que gostam de jogar futebol e esbarram em dificuldades e preconceitos. "Sejam persistentes. Não são todos os clubes que têm categorias de base, então mesmo que seja difícil, não desistam. Corram atrás dos seus sonhos e ultrapassem essas adversidades que a gente encontra pelo caminho, porque assim como eu, vocês também podem chegar ao auge que é a Seleção Brasileira. Trabalhem para isso e com certeza vocês conseguirão conquistar tudo aquilo que vocês desejam", conclui a artilheira.

 

Confira abaixo fotos da carreira de Bia Zaneratto.

 

 

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