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Centenário da Semana de Arte Moderna: arte-educadores araraquarenses pontuam o legado do movimento

Segundo os entrevistados, liberdade de expressão, popularização e inquietação são algumas das características marcantes deste, que foi o marco zero do modernismo no Brasil

Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, o Theatro Municipal de São Paulo abriu suas portas para uma série de manifestações culturais num cardápio com apresentações de dança, música, recital de poesias, exposições e palestras.

O objetivo era provocar a imprensa e fazer muito barulho para apresentar idéias de vanguarda, visando o rompimento dos padrões estéticos vigentes na época. Todo esse movimento ficou, historicamente, conhecido a Semana de Arte Moderna, marco zero do modernismo no Brasil e que completa 100 anos em 2022.

Os principais nomes do evento foram os escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade e os artistas Anita Malfatti e Di Cavalcanti. No Instituto Fábrica de Vencedor, em Araraquara/SP, entre um café e outro, no intervalo das aulas, o assunto ganhou destaque na voz dos arte-educadores e profissionais (que também são artistas) atuantes no local. Para Tárcio Costa, professor de teatro, o principal legado desse movimento foi desprender a arte brasileira da reprodução de padrões europeus, dando início à construção de uma cultura essencialmente nacional.

“A grande conquista foi o resgate de uma linguagem tupiniquim. Apesar de não negar a influência de artistas estrangeiros, a Semana de Arte Moderna toma para si a responsabilidade de retratar as cores de um povo que buscava se auto-afirmar como nação”, analisa.

“Essa quebra de clichês foi muito necessário, na época. Os frutos dessa revolução, inclusive, ainda ecoam nos dias de hoje, afinal, a meu ver, o artista sempre precisa quebrar barreiras a fim de avançar o lugar comum”, completa o professor de guitarra Cleber Shimu.

A liberdade e a popularização da arte para as grandes massas também é um ponto ressaltado por Fabiano Marchesini, professor de violão. “Toda essa livre expressão veio a plantar sementes para a criação de identidades, como a bossa nova, por exemplo, algumas décadas depois, quando falamos em música. Essa busca, na verdade, é infinita”, alega.

De acordo com a professora de dança Érica Duarte, a linguagem por ela lecionada foi representada por uma bailarina brasileira chamada Ivone Daumerie, que se apresentou homenageando a grande Isadora Duncan – a partir dela, a dança moderna exerce forte influência em sua revolução estética.

“Essa performance não foi importante apenas para os palcos, mas também para resgatar o país de dançarinos que sempre fomos. Foi neste evento que essa linguagem ganhou ainda mais as ruas, as praças, os espaços incomuns do Brasil, ganhando nova forma, novos adeptos e novas repercussões e visões do que poderia ser explorado”, explica.

Dica de leitura

Coordenador de comunicação no IFV, o jornalista Matheus Vieira, recomenda, aos interessados pelo assunto, a leitura do livro “Oswald de Andrade: biografia” (Editora Globo – 1990), da autora Maria Augusta Fonseca. Segundo ele, o escritor Oswald de Andrade, com certeza, teve a vida mais “moderna entre todos os modernistas da Semana de 1922”. Oswald é considerado um “blagueur” incontrolável, irreverente, impiedoso, alguém que perdia o amigo, mas não perdia a piada.

Ao mesmo tempo, é interpretado como a contraposição de Mário de Andrade, este sim um modernista conseqüente e autoquestionador. “O livro também substantiva a tumultuada história do país no fim do século XIX à primeira metade do século XX. Esse material é facilmente encontrado em estantes virtuais, principalmente em sebos e sempre a um preço acessível”, finaliza.

Redação

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