A Cia Dos à Deux vem pela primeira vez à cidade de Araraquara para uma apresentação única do seu trabalho mais recente. “Gritos” estará em cartaz nos dias 24 e 25 de novembro, às 20h e 19h, respectivamente, no Sesc Araraquara. Com concepção, dramaturgia, cenografia e direção de André Curti e Artur Luanda Ribeiro, a premiada montagem da Cia. Dos à Deux é formada por três poemas gestuais metafóricos criados a partir de um tema: o amor. “Gritos” estreou em novembro de 2016, no CCBB Rio. Depois seguiu em turnê para as unidades do CCBB em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.
Em uma atmosfera onírica, os três poemas que compõem “Gritos” são revelados por meio de uma partitura gestual sutil e minuciosa. Inspirada em temas da atualidade, a dramaturgia foi criada durante o processo de pesquisa e de criação artística. As pessoas invisíveis na sociedade, o preconceito, o desprezo, os refugiados a guerra e o amor permeiam os três poemas gestuais – os três gritos.
Há anos trabalhando com teatro gestual, a dupla experimenta, neste novo trabalho, a transformação de seus próprios corpos em bonecos de proporções humanas, como se estivessem refletidos no espelho. Com colaboração da marionetista russa Natacha Belova (responsável também pelos bonecos do espetáculo “Irmãos de sangue”) e do brasileiro Bruno Dante, André e Artur tiveram partes dos seus corpos – cabeça, mãos, pés e braços – esculpidos com gesso e depois trabalhados em diferentes materiais.
“Essa pesquisa, na fronteira entre artes plásticas, formas animadas, teatro e dança, nos fez ter uma nova sensação gestual que, até então, não havíamos experimentado. Um gestual potente, complexo e contido”, explica Artur. “Ao longo da criação, na pesquisa de formas animadas, nós fomos dando vida ao invisível dos corpos, aos poucos. Como se a vida tivesse arrancado um pedaço desses personagens, nos obrigando a dar poesia e intenção a objetos que se tornaram corpos, e corpos que se tornaram objetos”, explica André.
A cenografia de “Gritos” é uma instalação plástica composta por estruturas de colchões de mola, que vão se transformando em objetos insólitos ao longo da peça. Em alguns momentos, os colchões formam labirintos de onde os personagens procuram uma saída. Em outros, um quarto para um encontro amoroso. Na pesquisa da Cia. Dos à Deux, a cenografia é mutável, com arquitetura servindo organicamente à dramaturgia – à qual, assim como nas criações anteriores, a luz se funde, sublinhando os espaços cenográficos criados pela dupla. “Trabalhar a luz como um personagem sempre fez parte de nossa pesquisa”, conta Artur. “Nosso universo é construído pensando num todo: luz, cenário, bonecos e dramaturgia caminham juntos”, complementa André.
OS TRÊS POEMAS | OS TRÊS GRITOS
Grito 1: Louise
Louise nasceu num corpo de homem que ela não quer. Ela deseja ser invisível aos olhares dos outros, mas se choca sempre num turbilhão de preconceitos, intolerância e homofobia. A mãe de Louise é uma velha senhora doente, também invisível perante a sociedade e depende totalmente de seu filho (a) para existir.
Grito 2: O homem
Um poema metafórico sobre o homem que perdeu a cabeça. Um muro os divide. A cabeça de um lado, dentro de uma gaiola, o corpo de outro. Um poema gestual entre o sonho, o onírico e o absurdo.
Grito 3: Kalsun
Numa atmosfera surrealista, uma mulher vestida de negro surge revelando sua beleza e seus gestos lentos. Uma dança de amor misteriosa começa, com som de bombas ao longe. Uma bomba interrompe a noite de amor.
Sobre a Cia dos à Deux
Artur Luanda Ribeiro e André Curti se conheceram durante um festival em Paris, em 1997, e decidiram começar juntos uma pesquisa teatral e coreográfica, tendo como inspiração a obra Esperando Godot, de Samuel Beckett. Um ano mais tarde, em 1998, nascia o primeiro trabalho, “Dos à Deux”, peça que deu nome à companhia e já foi apresentado em quase todos os países da Europa, além da África, América do Sul, Coréia do Sul e na Índia.
Depois de mais de duas décadas morando na França, a Cia. Dos à Deux passou a ter duas sedes há cinco anos, sendo uma em Paris e outra no Rio – onde a dupla reformou um cortiço construído em 1846, no bairro da Glória. O lugar é a sede do grupo no Brasil e está se estabelecendo como um espaço para abrigar residências artísticas. A Cia Dos à Deux já percorreu cerca de 50 países, somando mais de 1.500 apresentações por toda a Europa, África Central, Ásia, Polinésia Francesa, Emirados Árabes e América do Sul. O repertório é formado por: “Dos à Deux” (1998), “Aux pieds de la lettre” (2002), “Saudade em terras d’água” (2006), “Fragmentos do desejo” (2009), “Ausência” (solo com Luís Melo, de 2012), “Dos à Deux 2º ato” (2015) e “Irmãos de sangue” (2013).
O espetáculo “Irmãos de sangue” foi indicado ao Prêmio Shell 2014 em quatro categorias (Ator, Direção, Cenário e Iluminação) – sendo vencedor nas categorias “Melhor Cenário” e “Melhor Ator”, este dividido entre Curti e Ribeiro. Também foi indicado aos prêmios APTR (Espetáculo) e Cesgranrio de Teatro 2014 em quatro categorias (Espetáculo, Direção, Cenografia e Iluminação). No Prêmio CENYM, a produção recebeu três indicações (Ator, para Artur Luanda Ribeiro, Companhia de Teatro para Cia. Dos à Deux e Elenco).
Serviço:
“GRITOS”
Apresentações: dias 24 e 25 de novembro, sábado e domingo
Local: Sesc Araraquara
R. Castro Alves, 1315 – Quitandinha, Araraquara – SP
Informações: (16) 3301-7500
Horário: 20h (sábado) e 19h (domingo)
Ingressos: R$25,00 (inteira) R$12,50 (meia) R$ 7,50 (comerciários)
Capacidade: 234 lugares
Classificação indicativa: 14 anos.
Duração: 1h15min.