A 14ª edição do Concurso Nacional de Contos de Araraquara Prêmio Ignácio de Loyola Brandão teve o resultado divulgado, sagrando-se vencedores: "Conselhos da lagoa", de Mariana Salomão Carrara, de São Paulo-SP (1º lugar); "Casa de praia", de Luiz Henrique Aguiar, de Magé-RJ (2º lugar) e "Aquele que até hoje nos acena", de Flávio de Araújo, de Paraty-RJ (3° lugar).
O Concurso Nacional de Contos – realizado pela Prefeitura de Araraquara, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundart – tem o objetivo de estimular e incentivar escritores, premiando obras em prosa, compostas em língua portuguesa, no gênero "conto", destinadas ao público adulto e inéditas – entendendo-se por "conto" uma narrativa ficcional breve que aborda, com densidade e concisão, um único conflito.
Cada autor concorreu com um conto inédito, em língua portuguesa, de até dez páginas, de temática livre e destinado ao público adulto. A comissão julgadora foi formada por: Ana Letícia Barbosa de Oliveira Gonçalves, Daniel de Assis Furtado e Roseli Deienno Braff. Foram selecionadas dez obras para a composição de uma coletânea. As três primeiras colocadas recebem prêmio em dinheiro (R$2.500, R$1.500 e R$1.000).
Também foram conferidas menções honrosas às seguintes obras (elencadas em ordem de inscrição): "Rua das Paineiras", de Christian Abes (Florianópolis-SC); "Desvãos de uma mulher que se apaga", de Maria José Moreira de Oliveira Torres (Uberlândia-MG); "O diferencial", de Rejane Souza de Oliveira (Rio de Janeiro-RJ); "O galho de mulungu", de Mauro André Oliveira (São Paulo-SP); "Teresa(s)", de Elisa Novaski Cordeiro (Curitiba-PR); "Nossa segunda casa", de Gabriel Vicente França (São Paulo-SP); e "O monstro", de Emir Rossoni (Porto Alegre-RS).
Premiados – De acordo com a comissão julgadora, as obras classificadas apresentam, todas, densidade dramática, qualidade do uso da linguagem e excelente adequação ao gênero "conto", além de abordarem temáticas relevantes.
Segundo o júri, pelo vocabulário e pela caracterização dos personagens, entre outros elementos, o conto "Conselhos da lagoa" sugere ambientação em Portugal, narrando, a partir de um ponto de vista feminino, a dor da perda da mãe em contraste com a distância e aparente indiferença dos homens (em especial do pai e do tio), condicionados pelo trabalho e pelas circunstâncias da vida.
O conto explora também os contrastes entre o mundo interior da narradora — expresso não apenas pela própria dor da perda, como também pela evocação de paisagens e da memória — e seu mundo exterior, representado pelo proletariado/campesinato lacustre; entre suas relações pessoais/familiares, condensadas na imagem de um simples bolo de cenoura, e as relações impessoais/profissionais, simbolizadas pelas albacoras, pelas sardinhas e pelos peixes de um modo geral; e, finalmente, entre a grande questão da liberdade e a falta de liberdade, respectivamente caracterizadas pela visão do mar ou da lagoa e a instituição da fábrica e seu produto: a lata. Dada a complexidade da composição, de seus pormenores e do apuro no uso da língua, o conto recebeu a primeira colocação no concurso.
Já sobre o conto "Casa de praia", o júri conta que este apresenta linguagem honesta e verossímil, com um fluxo de consciência muito bem elaborado, que representa — e ao mesmo tempo denuncia — a ilusão das facilidades da vida contemporânea e/ou da sociedade de consumo.
O belíssimo conto "Aquele que até hoje nos acena" — a partir de um enredo simples, porém convincente, e de uma linguagem também honesta e verossímil, calcada no vocabulário e nas expressões caiçaras — perfaz a velha questão entre tradição e modernidade, alegorizada no próprio título da obra, problematizando com esmero o preço da civilização.