A plateia nas mesas principais da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi menor que no ano passado, mas o telão externo, próximo à tenda dos autores, teve uma estimativa de espectadores maior o suficiente para elevar o público do evento.
A organização da festa contabilizou em 23 mil as pessoas que acompanharam os debates, número maior que no ano passado, quando a Flip reuniu 21 mil pessoas nos mesmos dias. O público que comprou ingressos ou acessou com convites as mesas da tenda dos autores caiu de cerca de 13,2 mil em 2015 para para 12,2 mil em 2016.
Ao fazer um balanço do evento, o diretor da associação organizadora da Flip, a Casa Azul, Mauro Munhoz, disse que o ano foi “extremamente difícil para todos” e que conseguir realizar a Flip atendendo a expectativa do público. “Foi uma alegria muito grande”, disse. Munhoz afirmou que flutuações de público são normais, mas disse que a realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos impactou a Flip por forçar a mudança do início da festa para o fim junho.
“A gente perde público, e a gente sabia disso, por conta das universidades”, disse o diretor. “Se fosse uma semana depois, aumentaria muito os custos da infraestrutura de evento e isso estava fora do nosso orçamento. Na verdade, o resultado de público é extremamente positivo”, disse.
O curador da Flip, Paulo Werneck, lembrou que o telão foi criado em 2014 e, desde então, vem conquistando as pessoas. “O público está comprando a ideia do telão, de assistir lá. Tenho vários amigos que estavam lá. O telão virou um espaço ocupado pelo público”.
Werneck também comentou a falta de representantes negros nas mesas principais do evento e disse que a organização da Flip está em um movimento de interlocução e que não faz a festa apenas com seu próprio repertório. O curador disse que a intenção do evento era fazer uma mesa de encontro com Elza Soares, para dar destaque à cantora negra, mas que o convite foi recusado. O rapper Mano Brown também teria recusado, segundo a Flip. “Foram planos que não se concretizaram”.
Flipinha
A diretora da Flipinha, Belita Cermelli, comemorou o resultado da programação destinada à literatura infantil. Ela disse que o orçamento menor fez o evento ficar mais colaborativo. “A gente viu muito mais adultos interessados na programação da Flipinha e acho que isso tem a ver com o interesse em discutir lireratura infantil”.
Belita disse ainda que acredita que, se as ruas de Paraty estavam mais vazias neste ano, isso também se deve às programações alternativas dentro das casas e ao fato de a crise causar afastar o turista que vem apenas para passear na cidade, sem frequentar os eventos literários.
Mesa desagradou
Werneck disse considerar que a edição de 2016 foi uma “grande Flip”, e comentou mesas polêmicas. Uma delas foi a “Sexografias”, na noite de sexta-feira, em que o comportamento da autora Juliana Frank não agradou parte do público, que deixou a mesa antes do término. “Não foi a primeira vez que a gente viu uma mesa sui generis acontecer. Faz parte dos riscos que, eu agradeço, que a gente possa correr. Vários elementos concorreram para o resultado, e não vejo como nenhum trauma”, disse, elogiando a peruana Gabriela Wiener por ter sido “elegante” e dito coisas que “não podem ser esquecidas”.
Na opinião de Munhoz, a mesa “não funcionou”, mas isso é “absolutamente normal”. “Eu saí porque tinha um jantar, mas queria ver como ia terminar”.
Enquanto os organizadores da Flip concediam entrevista coletiva à imprensa, o autor sírio Abul Said foi vaiado na mesa que começou na manhã deste domingo (3). Said não quis falar sobre o Estado Islâmico e disse não querer “ser a voz dos direitos humanos”. Werneck afirmou que o autor não foi chamado para comentar temas como a crise de refugiados, mas que é normal que sua vivência seja trazida à mesa pelo debate. “A informação que eu tive era que ele disse que não era porta-voz dos direitos humanos, e a plateia da Flip é muito engajada. É natural que diante de uma crítica aos direitos humanos, a plateia tenha a sua opinião”, disse o curador do evento.
Agência Brasil