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Maglia fala sobre sua alegria de jogar na Ferroviária

Atleta foi a capitã da última conquista nacional das Guerreiras Grenás

Junto com a goleira Luciana, ela levantou a taça de Campeã Brasileira de 2019 em pleno Parque São Jorge e reencontrou na Ferroviária a alegria de jogar futebol. A personagem da história é a meia Maglia, 29 anos, natural de São Paulo, uma das líderes do elenco afeano e capitã da última conquista nacional das Guerreiras Grenás.

Apoiada pelo pai desde muito pequena, Maglia iniciou no futebol aos seis anos de idade e, assim como a grande maioria das meninas, no meio dos garotos. “Aprendi a amar o futebol graças ao meu pai. Sempre fui muito grudada nele e foi ele quem me ensinou a dar os primeiros chutes na bola com seis anos. Aos nove ele também foi quem me colocou numa escolinha de futebol do bairro, chamada Companhia de Futebol, onde eu era a única menina”, afirmou.

A escolinha evoluiu e acabou virando uma franquia do AD São Caetano, onde permaneceu do mirim até o infanto. “Em todas as categorias eu era a única menina entre os meninos, mas acabou fechando. Eu segui jogando bola na rua e na escola, foi quando apareceu uma personagem na minha vida, a qual sou muito grata”. Maglia fala da professora Hosana, que a viu jogando e a levou para fazer um teste em São Bernardo do Campo, no time da cidade. “Foi ali que eu vi que haviam outras meninas jogando futebol e melhor ainda, que poderia ser uma profissão. Meu primeiro clube foi o São Bernardo Futebol Clube, onde eu ganhava uma ajuda de custo. Me orgulho muito de onde vim e poder realizar meu sonho de jogar futebol e ajudar minha família”, contou.

E foi no São Bernardo Futebol Clube que um membro da família de Maglia também passou a ver o futebol com outros olhos. “Meu pai sempre me apoiou, desde sempre. Minha mãe não gostava muito da ideia, não tinha nada específico, mas ela dizia que não tinha futuro em “correr atrás da bola”, minha irmã mais velha saiu cedo de casa para trabalhar, acabava que não tinha tanta influência sobre isso. O posicionamento da minha mãe, de certa forma, me impulsionou a querer mostrar que ela estava errada. E deu certo, mesmo não recebendo muito, eu ajudava dando tudo que recebia em casa e sempre que as coisas melhoravam pra mim, melhorava pra ela. Até hoje é assim, graças a Deus.”

O preconceito, que de acordo com Maglia, toda garota que começa a jogar futebol já sofreu, nunca foi um empecilho para a meia. “Sempre me dei muito bem com os meninos que jogava, fui criada no meio deles, muitos sempre me defendiam. Mas sempre tinha um ou outro, nos tempos de escola, que colocavam apelidos, tentavam ofender de alguma maneira, mas isso nunca foi uma barreira ou um problema pra mim. Ignorava e seguia jogando e fazendo o que sempre fiz.”

Foi passando por cima de qualquer tipo de preconceito que Maglia foi realizando seu sonho de jogar futebol, mas as dificuldades continuaram aparecendo, desta vez, na parte financeira. “Acho que esse cenário também era muito comum antigamente. Temos evoluído muito nesse sentido, clubes com bases e que já tem condição de pagar as atletas mesmo com pouca idade. Temos jogadoras mais jovens que são de extrema qualidade e são reconhecidas pelo seu talento. Antigamente, mesmo quem se destacava ao ser novinha, não havia oferta financeira por seu talento, tínhamos que “roer o osso” e conquistar nosso espaço.”

E ela conquistou seu lugar, porém, desde os 18 anos, Maglia convive com cirurgias no joelho que a fizeram questionar se continuaria fazendo o que mais ama. “Tive algumas lesões nos joelhos, desde os 18, coleciono cinco cirurgias. Muitas pessoas questionaram se eu ainda conseguiria jogar futebol, até mesmo médicos. Eu mesma já me questionei a respeito. Aprendi a viver e lidar com as dores diariamente, e tenho certeza que se ainda sigo jogando em alto rendimento é porque Deus é muito bom comigo, e sempre me sustentou, não permitindo que eu desistisse quando tudo estava difícil”, falou a meia.

Passando por cima das dores, Maglia passou por equipes tradicionais do futebol feminino como o São José, Santos e chegou ao Corinthians em 2017 e tudo correu bem durante o ano, até chegar ao final, quando ela teve que fazer a quinta cirurgia, no menisco e um comprometimento muito grande na cartilagem do joelho direito. No início da temporada de 2018, ela voltou e, de acordo com Maglia, fez o seu melhor começo de ano. “Iniciei muito bem, acredito que um dos meus melhores, estava forte fisicamente, joelho sem dores, tínhamos um elenco muito forte e consegui me manter titular até meados de junho.”

Porém, com a batida de dois jogos por semana, ela começou a perder massa muscular que, segundo a meia, interfere diretamente para quem tem a cartilagem comprometida. E foi neste momento, no final da temporada de 2018, que Maglia pensou em parar com o futebol. “Tive todo suporte e auxílio por conta do clube, mas mesmo assim voltei a sentir dores, meu joelho inchava constantemente me tirando de treinos, afastando de jogos. Foi um término de ano bem difícil pra mim, por ter iniciado tão bem, não imaginava que terminaria o ano pensando se eu realmente conseguiria jogar novamente em alto rendimento. Pensei em parar, desistir da carreira”, afirmou.

Na dúvida de seguir ou não no futebol, chegaram duas propostas para a temporada de 2019. O Flamengo, onde ela chegou a fazer o edital da Marinha e estava prestes a atuar pelo time carioca, até que chegou a Ferroviária. “Deus mudou meu caminho e meus planos. Ele me trouxe à ,onde vivi o melhor ano da minha vida, profissionalmente falando. A Ferroviária trouxe de volta alegria, esperança e nasceu em mim uma paixão muito grande por esse clube”, declarou Maglia.

O início da temporada, porém, não foi dos melhores para a equipe. Com muitas atletas novas e uma comissão técnica renovada, as Guerreiras Grenás foram se encaixando no decorrer dos jogos. “2019 foi um ano de muita resiliência para nós, superação e conquista. Iniciamos o ano com um dos melhores elencos do Brasil, porém algo não encaixava, os resultados demoraram a aparecer, houve quem duvidasse da nossa classificação, de maneira justa pelo que apresentamos em campo.”

A equipe conseguiu a vaga na próxima fase na última rodada, após vencer o Vitória de Santo Antão-PE por 7 a 0. “Era uma obrigação se tratando de um time tão grande e tradicional na modalidade. Conseguimos nos classificar e a partir dali as coisas mudaram, encaixamos onde precisávamos, o grupo se fortaleceu. Cada jogo era uma final e fomos nos entregando um a um, acreditando a cada passo, que nós, diferente do que diziam lá fora, podíamos sim, ser a melhor equipe do Brasil. E em um ano tão importante para a modalidade, com crescimento e visibilidade, a Ferroviária se torna Bicampeã Brasileira voltando ao topo, lugar de onde nunca deveria ter saído.”

E o momento de maior alegria foi, justamente, contra o Corinthians, sua ex-equipe, e em um lugar onde costumava ser sua casa, o Parque São Jorge. “Retornar naquele campo, vencer, levantar a taça ao lado da Luciana, uma das responsáveis diretas pelo título, foi algo muito marcante, uma sensação inexplicável. Queria poder ter levantado ao lado de todas, mas sinto que era muito importante compartilhar aquele momento com ela. A Lu tem uma história linda e eu admiro muito a pessoa e o trabalho dela. Acredito que esse é o pensamento de todo grupo, por isso aquele momento foi muito especial”, declarou a capitã que, no momento de levantar o troféu, chamou a goleira Luciana para estar ao lado dela.

Ainda em 2019, a meia participou da campanha do vice-campeonato das Guerreiras Grenás na Libertadores da América, no Equador, onde foi peça fundamental para a trajetória da equipe, marcando dois gols nas quartas-de-final, contra o Atlético Huila-COL, o então atual campeão da competição. A Ferroviária venceu por 3 a 2 e avançou às semifinais, indo a final contra o Corinthians, mas desta vez, perdendo por 2 a 0.

Com contrato renovado para a temporada 2020 e, de acordo com ela, manter a base foi fundamental para o bom início de Brasileiro, onde a equipe fez quatro jogos e conquistou quatro vitórias, liderando a competição até o início da quarentena. “Tivemos um início de ano muito bom, diferente do que foi ano passado. Mas acredito que ter mantido a base da equipe, foi um fator determinante para adaptação das que chegaram e para esse início de 2020. Foram 4 jogos bem distintos, fomos crescendo e melhorando a cada partida. Temos muito ainda a trabalhar e evoluir, torcer para que tudo fique bem e que possamos voltar às atividades em breve, todos bem e sem perigo algum”, falou.

Sobre a pandemia e a pausa dos campeonato, Maglia apoia o isolamento, apesar de ter interrompido a sequência do trabalho. “Esse vírus é algo que foge do nosso entendimento, atrapalhou a todos de modo geral e é algo que deve ser tratado com muita seriedade por todos. Difícil estar longe dos gramados, longe da bola. Porém o clube disponibilizou para nós alguns materiais, suplementos, temos orientação diária do que fazer e como fazer. Nos adaptamos da melhor maneira, dentro de casa, na garagem. Importante é não deixar de fazer e estar preparada para quando tudo voltar ao normal”, contou a capitã.

Para Maglia, a Ferroviária abriu às portas para a retomada de sua carreira e a despertou uma paixão muito grande pelo clube. “A Ferroviária me abriu as portas, me acolheu tão bem. A Lorena (ex-coordenadora do futebol feminino da Ferroviária), o prefeito Edinho Silva e a comissão toda. Foi um clube que me mostrou o quanto eu ainda podia dentro do futebol. Gratidão e paixão acho que resumem. Aprendo a amar essa camisa cada vez que visto ela e entro em campo. O torcedor que nos acompanha e ama de verdade a modalidade, também é algo que nos aproxima. Costumo dizer que essa camisa pesa e que não é qualquer uma que tem essa honra de vesti-la. E quem passa por aqui, honra e se apaixona também. Desejo permanecer aqui por um bom tempo, com minhas companheiras conquistando títulos e trazendo alegria pra essa cidade”, finalizou.

Texto: Jonatan Dutra/Ferroviária SA

 

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