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Mestre Candoca: Um legado nas artes marciais

Falecido em 2017, lutador foi uma das maiores autoridades do jiu-jitsu brasileiro

Cândido Casalle, o Mestre Candoca, foi um dos maiores nomes do jiu-jitsu brasileiro. Seu pioneirismo dentro do esporte e sua sede de conhecimento o levou ao 9º grau da faixa vermelha, a última que se pode alcançar na modalidade. Mais do que o alto patamar que atingiu nas artes marciais, o lutador era conhecido não apenas por ensinar os golpes, mas por promover os princípios morais da arte marcial originária do Japão.

Vale destacar que o jiu-jitsu chegou ao Brasil no século passado através do lendário Conde Koma, que transmitiu a seus discípulos todos os seus conhecimentos, expandidos no Brasil pela família Gracie. A família Gracie, aliás, teve grande participação no aprendizado de Candoca. 

Respeitado em todo o Brasil, frequentemente ele era convidado para receber homenagens e para compartilhar seu conhecimento em grandes eventos de jiu-jitsu pelo país. Deixou em Araraquara um legado que se estenderá para sempre.

O início

Cândido Casalle nasceu em 2 de fevereiro de 1922 em Santa Eudóxia e era um dos 24 filhos de Tomas Casalle e Concheta Amaruca. De todos, apenas uma está viva atualmente.

Em sua juventude, trabalhou como peão, domador de animais e carroceiro. Descendente de italianos, Candoca teve seu apelido dado pelo padrinho por ser a palavra usada como um diminutivo de Cândido na Itália. "Sou descendente de italianos e todos os homens da minha família sempre usaram bigode. Me lembro do meu pai dizendo que a gente tinha que honrar o nosso bigode”, contou o mestre, em uma entrevista realizada em 2015.

A luta em sua vida

Em 1942, Candoca residia em  São Carlos e começou a praticar luta livre com mais dois amigos. Certo dia, um deles fraturou a costela e os treinos acabaram suspensos. O jovem passou a se interessar pelo judô, modalidade em que ele se tornou faixa preta.

Após quatro anos, ele se mudou para Rio Claro, onde começou a treinar com João Gonçalves, conhecido como Peixinho, que era aluno de George Gracie. Gracie dava aulas, porém estava passando seus alunos para Peixinho. Os dois transmitiram seus conhecimentos para Candoca.

A luta fez também com que parasse de fumar na época. “O George Gracie me dizia que se você não consegue ganhar a luta na técnica, deve tentar ganhar no fôlego, o que é algo impossível para um fumante. No dia em que ele me disse isso, eu pisei em um maço com 16 cigarros e nunca mais fumei”, relatou o mestre. 

Candoca se mudou para Araraquara em 1960, na mesma época em que George Gracie abriu uma academia na cidade. O discípulo passou a frequentá-la, conciliando o esporte com o curso de mecânica de automóveis. Quando passou a trabalhar na profissão, começou a treinar no período noturno. “Começamos a participar de competições, mas não existiam muitas academias naquela época, por isso somos vistos como os pioneiros”, destacou.

George Gracie percorreu várias cidades do interior paulista para difundir a modalidade. De Araraquara, partiu para Catanduva. Em 1967, Candoca montou sua própria academia, a Academia Casalle de Jiu-Jitsu e, apesar de ser um período em que o judô estava em expansão, ele conseguiu ter muitos alunos na cidade. Levava seus discípulos para diversas competições, entre elas uma no Rio de Janeiro, onde conheceu a Academia Gracie e os outros membros da família. 

Respeitado

Mestre Candoca dedicou sua vida ao jiu-jitsu e por isso ganhou o respeito e a admiração de todos os praticantes da modalidade no Brasil. Acumulou troféus, medalhas e um Título de Honra ao Mérito concedido pela Câmara de Araraquara, assim como um Título de Cidadão Araraquarense.

Com a sabedoria de quem viu o jiu-jitsu se desenvolver passo a passo no Brasil, ele fez uma análise sobre a modalidade em 2015. “Antigamente o jiu-jitsu era visto como uma luta muito violenta, pois não tinha tantas regras. Hoje melhorou muito como esporte, mas como defesa era melhor antes. Por outro lado, antigamente existia muita rivalidade entre academias e hoje existe mais amizade entre elas”, pontuou o mestre, que fechou sua academia em 2006, após compartilhar seus conhecimento com centenas de alunos de Araraquara e do interior paulista.

Uma lição para a eternidade

No dia 29 de novembro de 2017, Mestre Candoca faleceu de causas naturais aos 95 anos de idade. Ele era casado com Nair Miguel Casale, com quem teve três filhos: Osvaldo (que faleceu aos 7 meses em razão de uma meningite), Antonio Carlos e Carlos Alberto. Os dois se tornaram engenheiros. Dentro da família, apenas o neto Carlos Alberto Casalle Filho segue praticando a modalidade atualmente.

No dia do falecimento de Candoca, a Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo postou em sua página no Facebook um agradecimento ao mestre. "Mestre Candoca nos deixa fisicamente, porém deixou um bonito legado de ensinamentos no jiu-jitsu. Discípulo do Mestre George Gracie, disseminador da modalidade em Araraquara e região, parte pro caminho de luz e eternidade. Sentimento à família da diretoria e de toda a comunidade da arte suave", dizia a nota.

Confira abaixo algumas fotos da vida do Mestre Candoca.

 

 

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