Moradores do município de Dobrada estão assustados com os eventos envolvendo a morte de dois adolescentes desde o início do ano.
No município, com pouco mais de 9.000 habitantes, em um período de menos de 45 dias, foram registrados o autoextermínio (suicídio) de dois adolescentes com 13 e 16 anos de idades, além de outras tentativas também envolvendo jovens.
Além da idade aproximada, ambas as vítimas estudavam na Escola Estadual Vereador Antônio Comar, que chegou a ter as aulas suspensas por um dia para reunir os pais em uma conversa sobre os fatos.
Áudios e imagens espalhados pelas redes sociais apontavam uma relação entre as mortes e um grupo de WhatsApp chamado “Red House”, por meio do qual os adolescentes teriam combinado suas mortes por meio do autoextermínio.
O caso foi parar na Polícia Civil, que iniciou uma investigação. Em conversa com a reportagem, o delegado da cidade, Francisco de Assis Pires de Andrade Martins, informou que as investigações seguem em sigilo.
E que professores e autoridades foram mobilizadas para disponibilizar ferramentas que atendam aos adolescentes em fragilidade emocional ou depressão e que alguns jovens com esse tipo de situação emocional estão sob monitoramento.
O delegado, no entanto, não confirmou a existência desse grupo ou de uma lista de adolescentes que buscavam o autoextermínio, mas se mostrou apreensivo quanto a situação dos jovens da cidade. A escola segue em alerta e um plano envolvendo educadores, psicólogos e o poder público foi posto em prática. Profissionais de psicologia acompanharão os alunos da unidade, com envolvimento de educadores e pais. Palestras para orientar outros adolescentes e seus pais também fazem parte dos planos que envolvem ainda os agentes das polícias Militar e Civil, além de religiosos.
Os casos envolvendo grupos em redes sociais, onde o autoextermínio é incentivado, se espalharam em diversas cidades do estado. Segundo a psicóloga Soraya Del Grossi, o melhor caminho é a atenção e o papo aberto com os filhos. Apesar do tema ser delicado, é importante que a discussão em família aconteça. Ela aponta a vulnerabilidade da sociedade frente as redes sociais e a internet, envolvendo a “geração do quarto”, como ela chama os adolescentes que não saem da frente de seus computadores.
Segundo a especialista (veja matéria abaixo), esses adolescentes focam seus relacionamentos de forma on-line, sendo importante, além do diálogo, a vigilância dos pais. Em 2019, foi atualizado o artigo 122 CPB (Código Penal Brasileiro), que trata como crime induzir ou instigar alguém ao suicídio, ou prestar-lhe auxílio material para que o faça, com pena de reclusão, de 1 a 3 anos. Se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave, a pena prevista será de 2 a 4 anos. Caso a vítima seja adolescente, a pena será dobrada.
O Ministério Público já foi informado sobre o caso, que também é acompanhado pelo Conselho Tutelar. As investigações continuam.