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Lucas Cerqueira: Um especialista da camisa 1

Conheça a carreira do araraquarense que surgiu como goleiro da Ferroviária até se tornar preparador de goleiros na China 

Com uma carreira de sucesso como preparador de goleiros na China, onde trabalhou durante os últimos sete anos, o araraquarense Lucas Cerqueira, de 38 anos de idade, se encontra em Araraquara com sua família, que aguarda o período de isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus. O ex-goleiro revelado pelas categorias de base da Ferroviária concedeu uma entrevista ao Portal Morada, a quem falou sobre sua trajetória no futebol.

Filho do casal Roberto e Teresa, Lucas Cerqueira nasceu no dia 12 de dezembro de 1981 em Araraquara. Cresceu no bairro do São Geraldo e com sete anos de idade se mudou para o Santa Angelina. O amor pelo futebol surgiu totalmente por incentivo do pai. "Ele me ensinou os primeiros passos com dicas técnicas e práticas. Meus presentes de Natal e aniversário sempre foram bolas, eu pensava em futebol todo o tempo. Eu esperava meu pai todos os dias depois do trabalho pra jogarmos no quintal de casa, era incrível", relembra.

Orgulho da camisa grená

Com nove anos de idade, teve seu primeiro contato com a Ferroviária. "Alguns amigos da escola iam nas famosas escolinhas de futebol da AFE e me convidaram. Eu fui com meus pais conhecer e me matriculei. Era um orgulho ir nos treinos e participar dos torneios da cidade", conta.

Passou pelas categorias de base e em 1999 chegou a passar pelo Santos, antes de retornar à Locomotiva, onde tornou-se profissional em 2000 e ficou até 2003. Acompanhou de perto o pior momento financeiro do clube. "Vivemos ali um momento de transição no futebol da Ferroviária, onde praticante 80% dos jogadores eram de Araraquara. Acho que essa fase de dificuldade que vivemos juntos nos ajudou muito a melhorarmos como atletas e como homens. Nós tínhamos um sonho e todos sabiam que a Ferroviária era uma vitrine pra todos. As dificuldades nos fortaleciam dentro de campo como equipe, pois sabíamos que ali teríamos a chance da realização de um sonho. Era um prazer ir todos os dias sob qualquer condição e vestir aquela camisa grená", destaca. 

Lucas também analisa o fase atual da Ferroviária, que hoje integra a elite do Campeonato Paulista e marca presença em competições nacionais como a Copa do Brasil e a Série D do Brasileiro. "O atual momento da Ferroviária eu acompanho de longe, pois tenho grandes amigos lá dentro, muitos amigos que vão em jogos e sempre estou em contato pela internet. Minha opinião é que o clube está cada vez mais estruturado. Com investimento, planejamento e organização, o clube só tem a ganhar. Admiro muito o trabalho que vem sendo feito nas categorias de base, ótimas campanhas nas competições, com atletas em destaque sempre. A Copa São Paulo foi um exemplo desse competente trabalho", elogia.

O ex-goleiro fala com carinho do clube que o revelou. "Ferroviária, para mim, significa uma grande escola da vida. Lá fiz amigos que tenho até hoje, chorei, dei risada, enfim, foram anos incríveis. O clube serviu pra eu amar ainda mais o futebol", resume.

Um celeiro de grandes goleiros

Um detalhe que sempre marcou as campanhas afeanas ao logo da história foi o de que o time sempre contou com goleiros de destaque, independente da qualidade das equipes montadas. 

Lucas tem uma justificativa para esse sucesso dos jogadores que vestiram a camisa 1 grená. "Realmente a Ferroviária sempre foi referência na posição. Trabalhei com grandes atletas na minha época. Acho que esse rótulo de grandes goleiros se deve aos grandes profissionais da preparação de goleiros que passaram por lá. Todos eles tinham grandes ensinamentos e conselhos, eu estava sempre aprendendo. Quando era do sub-20, ficava olhando os profissionais treinarem sem piscar, era incrível. Logo depois eu estava ali junto com eles, aproveitando cada segundo", salienta. 

Carreira na Ásia

Em 2004, Lucas Cerqueira se formou em Educação Física, mudou seu foco e contou com a indicação de outro talento surgido nas categorias de base da Ferroviária, o atacante Rafael Marques. "Tive a oportunidade de conhecer e me apaixonar pelo futebol fora das quatro linhas. O treinamento chegou e ficou na minha vida. Fui trabalhar como personal trainer em clínicas e academias da cidade, quando em 2009 surgiu a oportunidade de ir para o Japão com o Rafael Marques, que lá estava. Eu fazia um trabalho extra-clube, individual com o Rafa", relata. 

A experiência fez Lucas conhecer muitas pessoas e assim apresentar o trabalho que ele pensava para goleiros. "Nesse clube conheci um brasileiro que trabalhava como preparador físico. Fizemos uma conexão muito bacana por longos anos. Esse meu amigo, José Paulo, acabou indo pra China em 2011. Tínhamos uma ideia de trabalhar juntos, mas por eu ter pouca experiência prática e pouca idade, era sempre um fator negativo", lembra. 

Em 2012, o araraquarense teve a oportunidade de trabalhar no Américo, time de Américo Brasiliense que disputava a Série B do Campeonato Paulista. "Agarrei, pois seria na função que desejava e poderia colocar todos meus métodos em prática", conta. 

Em janeiro de 2013, recebeu o contato do amigo José Paulo, com quem trabalhou no Japão. "Ele disse que poderia haver uma chance de trabalharmos juntos. Deu tudo certo e acabei indo pra China. Até o momento trabalhei em três equipes, Qingdao Jonoon por três anos, Chongqing Lifan por dois anos, e Shandong Luneng por dois anos. São sete anos na China com muito orgulho", acrescenta. 

Diferenças de cultura e trabalho

Lucas Cerqueira destaca que o grande desafio que teve ao trabalhar na China estava no idioma. "Cada província se fala um dialeto local. Sobre alimentação, fui surpreendido positivamente, comemos o mesmo que aqui, com exceção do feijão, que eu levo do Brasil. Do resto encontramos tudo nos mercados chineses ou estrangeiros. Eu também estava aberto a conhecer a cultura chinesa, então foi mais fácil a adaptação", explana. 

Em relação ao trabalho, o preparador de goleiros mostrou capacidade para encarar todos os obstáculos que encontrou pelo caminho. "Temos uma diferença nos critérios técnicos comparados a brasileiros, mas acredito que tendo paciência e compreensão, todo trabalho pode ser desenvolvido. Podemos extrair grandes resultados com trabalho duro e repetições. Sempre tive mais respostas positivas do que negativas em todos esses anos. Além de ensinar, temos que estar dispostos a aprender também", analisa. 

Presente e futuro

Ao lado da esposa Priscila em Araraquara, Lucas mostra preocupação com a questão do covid-19, cuja expansão foi iniciada na própria China. "Eu e minha esposa chegamos no Brasil antes do coronavírus, só temos relatos pelos amigos que ficaram lá. Todos seguiram à risca as orientações e tudo está se encaixando aos poucos. Assim esperamos que aconteça aqui no Brasil também", explica. 

Assim, os planos de Lucas Cerqueira para o futuro foram adiados, mas sempre com o sonho de voar cada vez mais alto. "Pretendo retornar à China, mas vamos ver o que acontece. Estou curtindo a família e esperando as coisas se normalizarem pelo mundo para pensarmos no próximo destino", finaliza.

 

 

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