Por dez anos, Eduardo tentou ler o máximo que pôde.
Principalmente no ônibus, em suas viagens de ida e volta para o trabalho. Inseria literatura a fórceps num contexto que exigia produtividade e redução de custos. Perdeu a conta das vezes em que se ajeitou na poltrona, abriu um livro e, de repente, acordou com as mãos vazias e o volume caído no corredor – à noite, assumia a identidade de estudante do curso de Letras. Diverte-se contando essa fase de sua vida aos amigos no bar da Matilde. Estudar, trabalhar, dormir pouco e ter fome de novas narrativas são elementos inversamente proporcionais, diz.
Outro dia, leu um texto do Erico Assis sobre os momentos dedicados à leitura. Pequenas brechas encontradas no cotidiano, tanto para terminar uma reportagem da Piauí quanto para devorar romances ou textos acadêmicos aos pouquinhos. Isso pode acontecer na esteira da academia ou num sábado de inverno.
Há alguns meses, Eduardo comprou um Kindle. Tentou ler nesse dispositivo que muitos acreditam ser a maior ameaça aos livros impressos, mas não conseguiu – mantém uma relação bem materialista com livros “físicos”. O apetrecho acabou encostado, confessa.
Em sua postagem, Erico recomenda um aplicativo com o qual, rapidamente, podem ser inseridos textos da internet no e-reader. Perfeito para matérias do caderno “Ilustríssima”, artigos de blogs que não podem ser lidos em dois minutos ou até mesmo para dar uma praticada no alemão, lendo alguma coisa tirada do site da Der Spiegel.
Pronto: o que estava condenado a mais uma bugiganga adquirida por causa de impulsos consumistas foi promovido ao posto de melhor investimento dos últimos meses.
Eduardo saiu daquele emprego e não precisa mais ler no ônibus (a não ser em viagens esporádicas). Mas os escritos importados para o utensílio da Amazon estão se mostrando um excelente recurso enquanto ele espera o arroz terminar de ser cozido ou a máquina de lavar finalizar seu ciclo. Matilde, manda outra cerveja, por favor.