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Sobre reconhecimento, dor e falta de memória

Também se trata de receber o que á justo e poder retomar a vida e os direitos com dignidade

Para explicar meu raciocínio, convoco você leitor a lembrar de um fato que mudou nosso modo de vida. Peço que volte aos primeiros meses de 2020, principalmente quando a pandemia trouxe o medo da morte e o temor de perder alguém querido.

Entre os dias 9 e 10 de abril de 2020, já passávamos de 1.000 mortes pela doença, depois disso o pânico se instalou e foram dois anos vendo pessoas próximas, amigos e parentes morrendo, negócios falindo… Tudo isso confinados dentro de nossas casas.

Aos “negacionistas” eu peço que pergunte a respeito da pandemia a quem perdeu o pai, o filho, ao amor de uma vida. Assustados, chocados, arrasados e sem coragem de sair de casa, passamos a usar máscara, álcool 70% e nos afastamos até de parentes.

Foram nesses momentos que assistimos o surgimento de verdadeiros heróis, pessoas comuns que tiveram férias, licenças e folgas canceladas, gente que levantou as mangas e com jornada de trabalho triplicada foi a luta no combate à pandemia.

Pessoas que muitas vezes tiveram que se isolar para evitar o contágio de filhos, esposos e esposas, família. Tudo isso para garantir o suspiro de quem precisava de atendimento de oxigênio e gritava por mais uma gota de fé para que pudesse voltar para casa.

Foram muitas mortes e muitos milagres para defender a sua família e a sua vida. Muitos profissionais da saúde também foram contaminados e morreram. Foi nessa luta que muitos enfermeiros e médicos se contaminaram e por muito pouco não morreram.

Heróis que, agora, poucos dias após a queda das máscaras, são tachados de vagabundos, oportunistas e desrespeitados por quem deram a vida.

Funcionários públicos, que depois de dois anos sem férias, folgas e ajudas de custo, pedem apenas a reposição salarial. O JUSTO! Nem mais e nem menos. E recebem de volta o esquecimento de muitos.

Onde está a população que trabalhou para produzir máscara, que foi fazer homenagens em frente a UPA da Vila? Falo dos funcionários da saúde que, mais uma vez, tem seus direitos cerceados e são obrigados a trabalhar sem poder gritar por seus direitos.

Falo também de professores que tiveram a missão de prover o milagre de levar conhecimento de forma on-line, de funcionários da segurança que tiveram o dever (com pena de demissão por justa causa), caso não fizessem as normas estaduais e municipais serem cumpridas.

Falo de quem teve a obrigação de ir às ruas diariamente e encarar o vírus, para cumprir seu dever, sua missão e salvar vidas.

Como reagimos na ocasião, é hora de lembrar-se da dor, reconhecer para muito além dos aplausos e orações, que esses funcionários públicos merecem uma reposição salarial justa.

Marcelo Bonholi

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