A frase já virou jargão, mas ainda é necessária: só a educação pode salvar esse país.
Nesse sentido, qualquer reformulação do ensino brasileiro passa pelo professor. O que parece óbvio para todo mundo, talvez não seja para o Governo Temer, que lançou uma reforma para o ensino médio que sequer considera a questão dos vergonhosos salários pagos aos profissionais da educação. A propaganda oficial diz que a reforma é aprovada por 72% dos brasileiros. Como? Nem a Michelzinho deve acreditar nisso.
Temer e Mendoncinha, que ocupa o Ministério da Educação, demonstram não se espantar com a ampliação desenfreada do ensino a distância para os cursos de licenciatura. Tem publicidade de cursos EAD (Ensino A Distância) convidando os interessados para aproveitar a chance e “ampliar sua renda”. Isso mesmo: educação virou bico. Oficialmente, ninguém ainda se deu conta da gravidade da situação, nem nos meios acadêmicos, nem o movimento estudantil, por exemplo.
Dias atrás, o Governo de São Paulo, comandado há mais de 20 anos pelo mesmo partido, efetuou a 3ª chamada do “maior concurso de professores da historia”, conforme dizia a propaganda oficial. O que o discurso não mostrou é que em muitas disciplinas não havia profissionais em número suficiente (na diretoria de Araraquara, as disciplinas de Física, Artes e Filosofia, por exemplo, tinham mais cargos para preenchimento do que profissionais interessados).
O desinteresse é fácil de explicar: para boa parte dos ingressantes era oferecida uma jornada inicial de 9 horas/aula – cuja remuneração correspondente chegaria, na melhor das possibilidades, a R$ 1 mil. Complementar a renda, portanto, é mais do que opção, como a publicidade citada acima sugere. É uma necessidade vital para quem ingressa na rede. Com isso, fecha-se o ciclo do desmonte da educação pública, que se transforma em “bico” (percebeu como as peças se encaixam?!).
Por tudo isso, faço questão de referenciar bons exemplos na área da Educação. O primeiro deles é da professora de educação física Cristiane Pereira de Souza Francisco, da Escola Estadual Antônio de Oliveira Bueno Filho, de Araraquara, que ficou entre os dez vencedores do Prêmio Educador Nota 10, que valoriza boas práticas educativas.
Cristiane concorreu com o projeto "Bolinhas de Gude: Descobrindo outras formas de ensinar, aprendendo outros jeitos de aprender". A atividade permitiu que os próprios alunos, dentro os quais muitos sequer conheciam a brincadeira, desenvolvessem as regras. A ideia rendeu a professora um vale-presente no valor de R$ 15 mil. O reconhecimento, no entanto, vale mais do que o dinheiro. Executar boas ideias requer muito mais do que inspiração: é como remar contra a maré.
Na escola Estadual Professor Urias Braga Costa, os alunos desenvolveram o projeto de uma rádio estudantil, denominada UBC, referência ao patrono da unidade. A ideia é engajar os alunos no desenvolvimento de uma programação que contemple música, informativos, homenagens e outras ações de interesse da comunidade escolar.
Certamente instalar o som no “recreio” ainda é a proposta número um dos grêmios estudantis. A novidade é que, em plena era da comunicação instantânea, essa vocação será canalizada por meio de um veículo de comunicação já consagrado, o rádio, num ambiente propício a formação cidadã e a produção de conhecimento, que é a escola. Gol de letra marcado pelos responsáveis pelo projeto, especialmente o vice-diretor Mauro Cristiano Espejo, profissional que conheço de longa data e dou testemunho do seu apreço as boas práticas educacionais.
Parabéns aos dois profissionais. Parabéns aos milhares de profissionais, professores, merendeiras, auxiliares, que fazem do ambiente escolar o terreno para um futuro melhor. Os tempos sombrios que pairam sobre a educação ganham luz quando ela é praticada por profissionais que defendem honrosamente o título de professor.
Uma menção especial também aos alunos que compreendem a importância histórica da sua passagem pela escola. Enquanto Temer, Alckmin, Nalini e Mendoncinha insistem no desmonte a passos largos do que ainda resta do ensino público, nossa missão é uma só: resistir!