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Um lance de egocentrismo

[...] a ideia era escrever sobre, principalmente, literatura. Mas quem se interessaria por isso num momento em que se discute o armamento da população e generais defendem a queima de livros?

Que gritaria, não é mesmo? A vida, com sua infinidade de boletos que chegam ao final de todos os meses do ano, já não é fácil. Com esse barulho, então, fica pior ainda. Particularmente, torço para que esse período passe logo, independente do resultado que as urnas apresentarem.

Tem sido difícil ouvir até mesmo quem reproduz opiniões parecidas com as minhas. Parece haver um desespero geral para elaborar o texto preciso e fazer a leitura correta de um momento tão esdrúxulo na história de um país que já nasceu bagunçado.

Todos dizem amar a democracia. Mas só até o momento em que meu candidato é hostilizado ou quando você diz votar diferente de mim. Não há meio termo. Incrível como um país que lê tão pouco tenha produzido tantos analistas políticos nos últimos anos.

Quando fui convidado para publicar textos nesse espaço, a ideia era escrever sobre, principalmente, literatura. Mas quem se interessaria por isso num momento em que se discute o armamento da população e generais defendem a queima de livros? Quem se colocará a favor da leitura quando visões de mundo humanistas são motivos de zombaria?

Confesso: apesar de considerar-me um sujeito avesso aos holofotes, gosto de saber que pelo menos uma dezena de pessoas lerá o que escrevo. Peço perdão por esse lance de egocentrismo, mas, se serve de justificativa, para um escritor amador que atua nas sombras, o único pagamento que resta é aquela pequena, fiel e estimada audiência de oito ou dez curtidas.

Hoje, nem mesmo aquelas e aqueles que costumam me dar a honra de suas caridosas leituras clicarão no link de um texto que tivesse como tema minhas impressões a respeito do mais que batido romance policial "O talentoso Ripley" , de Patricia Highsmith – que, aliás, teve duas adaptações para o cinema: com Alain Delon, em 1959, e com Matt Damon, em 1999.

Que gritaria, não é mesmo?

Luis Antônio
Luis Antônio
Jornalista. Formado em Ciências Sociais e Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Mestre em Estudos Literários. Apresentador e editor do Jornal da Morada, da Rádio Morada FM 98,1
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