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Meninos sem pátria

A histeria entrou em nova e perigosa fase. Em uma escola católica do Rio de Janeiro, o livro de Luiz Puntel foi retirado da lista de leituras obrigatórias do 6º ano após um grupo de pais denunciarem a doutrina comunista (!) do texto.

Dias atrás, publiquei neste espaço um texto sobre a histeria provocada pela descoberta  de um livro sobre sexualidade na Biblioteca Mário de Andrade, em Araraquara. Sim, alguém descobriu que a biblioteca possui um exemplar de uma obra que desagrada uma parte da sociedade. 

Isso, porém, já é passado. A histeria entrou em nova e perigosa fase. Em uma escola católica do Rio de Janeiro, colégio Santo Agostinho, o livro “Meninos Sem Pátria” foi retirado da lista de leituras obrigatórias do 6º ano após um grupo de pais denunciarem a doutrina comunista do texto.

Caso alguém não conheça, o livro, que está em sua 23.ª edição, é situado no período da ditadura militar e fala sobre uma família que precisa deixar o Brasil depois que a redação do jornal em que o pai trabalha é invadida. Entre idas e vindas, a família vai para o exílio, na França, onde os filhos, pré-adolescentes, vivem as dificuldades de convivência com o mundo novo e os conflitos típicos dessa fase da vida. 

Devo muito do que sou à série Vagalume. Devorei  praticamente a coleção toda entre os 13 e 15 anos. Luiz Puntel foi o meu autor preferido dessa época. Ainda hoje o tenho como referência. Meninos Sem Pátria também foi, durante muito tempo, meu livro preferido. Quando a queridíssima professora Edna, da escola Coronel Marcelino Braga (sim, em Boa Esperança do Sul a escola leva nome de coronel), recomendou o livro como leitura obrigatória, eu já havia lido. Reli com o mesmo prazer.

Foi de fato uma influência pra mim. Antes que relacionem o texto com a minha visão de mundo na tentativa de me considerar um exemplo bem-sucedido da doutrinação comunista, rebato dizendo que só naquela turma de quase 40 alunos a maioria não carrega foice e nem martelo como referências políticas.

Pela série Vagalume, Luiz Puntel ainda publicou Açúcar Amargo, outra leitura visceral, dentro do universo infanto-juvenil, que retrata as greves rurais de Guariba sob a visão da garota Marta. Dele também há obras de baixo teor político, como Deus me Livre e Um Leão em Família. Triste saber que pais querem privar os filhos de visões de mundo tão fundamentais para a formação de cidadãos.

Que professores, diretores, coordenadores e pais que defendam a liberdade democrática (será que ainda existem?) saibam reagir frente ao obscurantismo. Costumo dizer que nasci junto com a democracia no Brasil. Jamais pensei em tempos sombrios rondariam a minha geração.

Tratarei de comprar Meninos Sem Pátria e Açúcar Amargo para tê-los na estante antes que proíbem novas edições e retirem de circulação as existentes. Ler Luiz Puntel é uma forma lúdica de conhecer a história do Brasil – e não permitir que se repita! Tristes tempos.

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