No dia 29 de janeiro se comemora o dia da visibilidade trans, sabia? E isso me faz pensar: por acaso as pessoas trans, homens ou mulheres, são invisíveis?
Acho que não.
Escolhemos invisibilizá-los. Ignorá-los. Pois, a sua presença nos incomoda.
Eles são o problema?
Não!
Nós somos o problema. O problema foi criado pela cisgeneridade e tem que ser resolvido por ela. As pessoas trans estão lutando para viver e nós estamos causando problema com a nossa dificuldade em lidar com a diversidade. Em lidar com os nossos preconceitos. Já pensou nisso?
Tentamos exclui-las de um espaço comum a todos porque elas desafiam a nossa "normalidade". Somos educados a reproduzir preconceitos sem sequer questioná-los. Não nos incomodamos quando as pessoas trans são apedrejadas, ameaçadas, forçadas a abandonar um local, ou mesmo mortas.
Uma menina trans de 13 anos é espancada até a morte e nos calamos, viramos o rosto e a página. E isso é ser "normal"?
Acho que não.
Mas mudar essa realidade depende da vontade de cada um em abandonar sua zona de conforto. E a zona de conforto não é um espaço que as pessoas queiram deixar facilmente.
Mas é necessário para que avancemos.
É necessário se posicionar.
A linguagem, segundo Foucault, é um dispositivo de poder, e através dela podemos desenvolver discursos que promovem a vida ou a morte de pessoas. A visibilidade ou a invisibilidade delas.
Temos que compreender que a identidade de gênero “não é determinado pelo conjunto de informações cromossômicas, órgãos genitais, habilidades reprodutivas ou características secundárias” mas responde à mais humana e universal das perguntas: Quem sou eu?, afirma Cristina Catsicaris em entrevista a Gabo Caruso para o Jornal El Pais.
E Gabo Caruso ainda aponta que, em 2018, a Organização Mundial de Saúde retirou a trans sexualidade de sua lista de doenças mentais. Segundo especialistas, deixar de cataloga-la como uma patologia, concebendo-a como uma maneira de ser e não como uma anomalia, é essencial para que as pessoas trans possam dar um bom lugar à sua identidade.
O mundo vem avançando, vivendo revoluções em seu cotidiano e somos interpelados o tempo todo com novas questões. E só poderemos evoluir se refletirmos acerca das novas demandas, vendo como elas nos movem. Nos movimentam.
Não temos que concordar, a princípio. Mas, devemos respeitar. Isso é impositivo.
Tenho consciência que, talvez, ao assumir um posicionamento a favor de um grupo de pessoas e pela manutenção da vida, sendo eu, uma mulher cis, eu veja o afastamento de pessoas incomodadas por minha fala.
Por eu dizer, somos nós as pessoas cis que criamos o problema e temos que resolvê-lo.
Não existe nenhum problema na existência de pessoa trans, o problema está em mim se não sei lidar com isso.
Isso faz parte quando assumimos posicionamentos diante da vida.
Faz parte.