É senso comum que se não tivermos união, é praticamente impossível atingir nossos objetivos. Esta máxima se aplica com perfeição à situação política atual, desde a esfera federal, passando pela estadual e chegando à municipal.
Vivemos uma época de “tribalização de opiniões”. Grande parte das pessoas passaram a escolher um “time” político e adotaram todas as posições do grupo escolhido, suspendendo a análise crítica e eximindo-se de fazer julgamentos caso a caso, refletindo sobre fatos e evidências.
Parece confortável não precisar utilizar o pensamento crítico. Basta se alinhar ao grupo e terá a aceitação de todos, sem ter que suportar ser confrontado por uma eventual divergência. O problema é que esta atitude passa a politizar os assuntos mais banais, mesmo que num mundo racional sejam apenas questão de bom senso.
Numa democracia saudável, quem perde uma eleição reconhece a derrota e respeita o resultado do pleito. Mas a responsabilidade maior cabe a quem venceu, que deveria ter um gesto de grandeza estendendo a mão ao lado derrotado. É claro que o vencedor vai avançar a sua agenda política, afinal venceu, mas deve deixar claro que governará para todos, mesmo os que discordam dele e não lhe deram seu voto. Eu chamo isto de “liderança conciliatória”, ou seja, não se curvar a quem foi derrotado, mas também não passar a viver de provocações diárias, como se as pessoas derrotadas no voto perdessem sua cidadania e não precisassem ser levadas em conta.
Cabe ao vencedor cercar-se de pessoas capacitadas e especialistas nas mais diversas áreas, para formar opiniões embasadas em fatos concretos e confiáveis. Não basta montar uma equipe excepcional, é preciso ter a humildade de reconhecer que ninguém é especialista em tudo e saber ouvir as pessoas que ele mesmo escolheu.
Peguemos o exemplo da pandemia de Covid-19. Temos diante de nós a maior crise sanitária da história do Brasil, superando muito as dificuldade que Oswaldo Cruz teve em 1903, quando foi nomeado Diretor Geral da Saúde Pública para combater a febre amarela no Rio de Janeiro, na época nossa capital federal.
Hoje temos um novo inimigo comum: o corona vírus Sars-Cov-2, causador da doença Covid-19. Seria um momento perfeito para que o país, tendo no comando um líder conciliatório, seguisse os ditames da ciência, e unisse todos para combater o inimigo. Porém, não é isto que acontece quando temos lideranças que acreditam é que é mais fácil e conveniente dividir para governar.
A ciência já nos apontou um caminho para que saiamos, ou pelo menos tenhamos um bom controle, da pandemia atual: Vacinação maciça da população, preferencialmente acima de 75%, e controle forçado da transmissão enquanto não atingimos este patamar.
Neste momento seria importante que a mais alta autoridade do país liderasse pelo exemplo. Adotando todos os protocolos preconizados pela ciência e mantendo seu povo. Porém não é o que vemos, muito pelo contrário, parece que as pessoas, que falecessem aos milhares diariamente, tornam-se apenas uma variável numa equação política, visando apenas a manutenção do poder. Esses mortos não são uma mera estatística, são pessoas, que deixaram um vazio afetivo na vida de outras pessoas, que passaram a conviver com a dor da perda.
Você pode imaginar que meu raciocínio é dirigido apenas ao governo federal. Ledo engano. Este comportamento pode ser encontrado em grande parte dos governos estaduais e em muitos municípios, que também adotaram um comportamento tribalista, esperando não serem confrontados por forças políticas superiores e tentando obter benesses através deste “alinhamento automático”.
Se quisermos evoluir politicamente como sociedade, precisamos passar a observar com mais clareza como um candidato trata seus adversários, como se refere a eles. Saber conviver com o contraditório é a marca dos grandes líderes. A virtude que devemos buscar na hora de escolher nossos políticos é a grandeza de caráter. Esta é a semente da democracia.